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Violência no Suriname - Brasileiros são atacados por grupo étnico

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Uma combinação de garimpo ilegal, divisões étnicas e falta de segurança na fronteira norte do Brasil compôs o cenário para os ataques sofridos por brasileiros na noite de 24 de dezembro de 2009, véspera de Natal, na cidade de Albina, localizada a 150 quilômetros de Paramaribo, capital do Suriname. País de língua holandesa e maioria hindu, o Suriname tem pouco mais de três décadas de independência e concentra uma das maiores diversidades culturais do mundo.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Pelo menos 80 brasileiros que trabalhavam em garimpos, incluindo mulheres e crianças, foram agredidos por cerca de 300 surinameses. Os responsáveis são da etnia maroon, formada por quilombolas (descendentes de escravos africanos que viviam em quilombos), armados com facões, paus e pedras. Eles também estupraram mulheres, saquearam comerciantes chineses e incendiaram veículos, casas e lojas.

Segundo a Embaixada do Brasil em Paramaribo, 25 brasileiros ficaram feridos e cinco continuam internados em hospitais. Nenhuma morte foi confirmada. Como os garimpeiros ficam semanas incomunicáveis nas matas, nas fronteiras do Suriname com a Guiana Francesa, fica difícil confirmar casos de desaparecidos. Além disso, boa parte dos garimpeiros não possui documentos e está em situação irregular no país.

Os ataques teriam sido cometidos em represália à morte de um surinamês numa briga com um brasileiro. A vítima foi esfaqueada. O suspeito, que também trabalhava no garimpo, continua foragido.

Albina possui 10 mil habitantes e fica na fronteira com a Guiana Francesa, único departamento ultramarino da França na América do Sul e, como tal, pertencente à União Europeia (UE). Depois do "arrastão" promovido pelos surinameses, parte dos brasileiros buscou refúgio no país vizinho. Cinco retornaram ao Brasil em avião da FAB (Força Aérea Brasileira).
 

Babel

O Suriname é uma ex-colônia holandesa que possui uma das maiores diversidades culturais, étnicas, linguísticas e religiosas do mundo. O território é pouco maior que o Estado do Acre e com população de 481,3 mil habitantes (comparável à cidade carioca de Niterói).

Por quatro séculos, a nação foi colônia de potências europeias. Primeiro dos espanhóis, no século 16, seguido de um curto período sob domínio inglês e, finalmente, a partir de 1667, tornou-se posse dos holandeses. A independência do Suriname, que era chamado de Guiana Holandesa, veio somente em 1975. Daí seguiu-se um período de instabilidade política, com direito a ditadura socialista, guerra civil e golpes militares. Desde a década de 1990 o país é governado por uma coalizão partidária, a Nova Frente.

Durante o período mais conturbado, os maroons (apontados como autores dos ataques aos brasileiros) mantiveram uma guerrilha armada no interior, na fronteira com a Guiana Francesa, que durou de 1986 até 1994.

Já os imigrantes provenientes da Índia, China e Indonésia (principalmente javaneses) chegaram no século 19, com a abolição da escravatura nas Guianas.

Hoje, de acordo com dados do CIA - The World Factbook, os principais grupos étnicos são hindustânis (37%), que imigraram no norte da Índia; crioulos (31%), brancos e negros miscigenados; javaneses (15%); maroons (10%); ameríndios (2%); chineses (2%); brancos (1%) e outros (2%). O interessante é que essas comunidades preservaram identidades, tradições e valores próprios, formando, inclusive, representações políticas em partidos.

A língua oficial é o holandês, mas a população também fala inglês, chinês, javanês, crioulo (língua africana), hindustâni e sranan ou surinamês. As religiões são: hinduísmo (27,4%), protestantismo (25,2%), catolicismo (22,8%), islamismo (19,6%) e crenças indígenas (5%).
 

Ouro

A economia do Suriname é baseada na indústria de minerais. Alumínio, ouro e petróleo correspondem a 85% do total das exportações. Por esta razão, o país depende do lucro obtido nos garimpos ilegais na fronteira com a Guiana Francesa, área também de intenso contrabando de armas e munições que abastecem facções criminosas do Rio e São Paulo, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Da mesma forma que países africanos como Serra Leoa (ver filme indicado abaixo), as riquezas naturais não melhoraram a condição de vida da população local. O PIB (Produto Interno Bruto), estimado em US$ 4,2 bilhões em 2008, é um dos menores das Américas. O país ocupa ainda a 97ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), em que o Brasil aparece em 75º lugar.

Os brasileiros começaram a chegar na década de 1990, quando foi descoberto ouro na região das Guianas. Estima-se que, somente no Suriname, existam entre 15 e 18 mil brasileiros, a maioria vinda dos estados do Maranhão e Pará. No Brasil, os garimpos na região Norte proliferaram ns anos 1970 e 1980. O mais famoso foi o de Serra Pelada, no Pará (veja livro indicado).

Nos últimos anos, leis ambientais mais rigorosas, o aperto da fiscalização por parte da Polícia Federal e conflitos com povos indígenas causaram aumento do fluxo de imigrantes brasileiros nas fronteiras com a Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru e Guianas. Com eles, vieram problemas como condições insalubres de trabalho nos garimpos, degradação ambiental, alcoolismo, crescimento de índices de criminalidade e prostituição.

Nestes territórios sem lei da floresta amazônica, onde convivem garimpeiros, narcotraficantes e índios, a moeda corrente é o ouro, e as dívidas são pagas com sangue.

Direto ao ponto

Pelo menos 80 brasileiros que trabalhavam em garimpos foram atacados por surinameses na noite de 24 de dezembro de 2009, na cidade de Albina, localizada a 150 quilômetros de Paramaribo, capital do Suriname. Os responsáveis são da etnia maroon, formada por quilombolas (descendentes de escravos africanos que viviam em quilombos). Eles também estupraram brasileiras, provocaram incêndios e roubaram comerciantes chineses. Segundo a Embaixada do Brasil em Paramaribo, 25 brasileiros ficaram feridos e cinco continuam internados em hospitais. Nenhuma morte foi confirmada. Os ataques teriam sido cometidos em represália à morte de um surinamês, durante uma briga com um garimpeiro brasileiro.

O Suriname é uma ex-colônia holandesa que possui uma das maiores diversidades culturais, étnicas, linguísticas e religiosas do mundo. Por quatro séculos, a nação foi dominada por potências europeias, até conquistar a independência em 1975. A economia é baseada na indústria de minerais. Alumínio, ouro e petróleo correspondem a 85% das exportações. Por esta razão, o país também depende do lucro obtido nos garimpos ilegais, na fronteira com a Guiana Francesa.

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