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Irã - aumenta a escalada de tensões com EUA e seus aliados

Mulher passa em frente a pintura com bandeira do Irã em Teerã
Imagem: Mulher passa em frente a pintura com bandeira do Irã em Teerã

Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação

No dia 22 de setembro, cinco atiradores abriram fogo contra um desfile militar no Irã. O ataque matou 25 pessoas e deixou mais de 60 feridos. O ataque terrorista aconteceu na cidade de Ahvaz, em meio às comemorações da Semana da Sagrada Defesa, que lembra a guerra entre Irã e Iraque (1980-1981). 

A cidade é localizada ao sul do Irã, próxima da fronteira com províncias iraquianas do sul. O Movimento Democrático Árabe Patriótico, um grupo ligado à Arábia Saudita assumiu a responsabilidade pelo ataque.

O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, acusou os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita de serem responsáveis pelo ataque terrorista. Os países negam o envolvimento. O chanceler iraniano, Javad Zarif, afirmou que o atentado também possui uma ligação com os EUA e Israel.

O episódio aumentou ainda mais a tensão na região. A Guarda Revolucionária Iraniana alertou os países vizinhos a respeitarem as "linhas vermelhas" ou enfrentarão retaliação. "Se vocês cruzarem nossas linhas vermelhas, com certeza cruzaremos as de vocês. Vocês sabem a tempestade que a nação iraniana pode causar", disse o brigadeiro Hossein Salami, vice-comandante da Guarda, segundo a agência de notícias Fars.

Rivalidade entre Irã e Arábia Saudita

O Irã e a Arábia Saudita representam as duas maiores potências do Oriente Médio. As nações estão localizadas estrategicamente na margem do golfo Pérsico, por onde escoa 20% do petróleo produzido no planeta. 

Mas os vizinhos possuem uma rivalidade regional e buscam aumentar sua influência sob os países da região. Nos últimos meses, a relação entre os dois países piorou, sendo comparada a uma “Guerra Fria” que pode ter consequências no resto do mundo.

Os dois países também representam as duas principais correntes do Islã: a Arábia Saudita é sunita e o Irã, xiita. As nações são acusadas de fomentar levantes e aumentar a tensão entre xiitas e sunitas em todo o Oriente Médio. 

Em 2016, a Arábia Saudita cortou as relações diplomáticas com o Irã e levou a maioria de seus países aliados do Golfo Pérsico a fazer o mesmo. O motivo do rompimento foi o ataque à embaixada saudita em Teerã (capital iraniana) e uma série de protestos em países xiitas, que exigiam uma resposta à execução do clérigo xiita Nimr Baqr al-Nimr pela Arábia Saudita.

A Arábia Saudita é o maior país exportador de petróleo do mundo e tem alianças com os EUA e Israel, além do Egito, Bahrein e Emirados Árabes. Entre os aliados do Irã, estão o governo sírio e o Hezbollah, grupo xiita do Líbano.

Os saudistas exigiram fidelidade de seus aliados no Golfo e região. Isso levou à imposição de um embargo econômico ao Catar, que contou com o apoio dos aliados saudistas. A justificativa para a promoção do isolamento é que o reinado catariano daria um suposto apoio ao terrorismo. Após o embargo do rival, o Irã retomou as relações com o Catar, rico em recursos energéticos.

Outro foco de tensão é o Iêmen. Há uma guerra civil no país desde setembro de 2014. Os rebeldes houthis segue uma corrente do Islamismo chamada zaidismo, dissidência do xiismo. Eles exigem do governo uma maior participação xiita na tomada de decisões do país.

As tropas do governo do Iêmen são apoiadas pela Arábia Saudita e os rebeldes houthis são apoiados pelo Irã. Os dois países também endossam lados opostos no conflito da Síria. 

A disputa na Síria

A guerra civil da Síria começou em 2011 e, aos poucos, passou a envolver as maiores potências militares do mundo na luta contra o Estado Islâmico. No território sírio, o Irã atua juntamente com a Rússia e com o grupo xiita libanês Hezbollah, aliados do presidente sírio Bashar Al-Assad.

Esse bloco sob a influência do Irã e Rússia se opõe aos interesses de Israel e EUA na Síria, o que fez com a divisão geopolítica se acirrasse.

Em 2018, Israel atacou sistematicamente alvos identificados como iranianos em território sírio. Como retaliação, o Irã lançou foguetes contra alvos militares israelenses nas Colinas de Golã, área disputada por Síria e Israel desde 1967.

Apesar da pressão dos EUA e de Israel, o Irã pretende manter sua presença na Síria para "lutar contra o terrorismo a pedido do governo legítimo do país" afirmou recentemente o presidente da República Islâmica, Hasan Rouhani.

As relações entre Washington e Teerã se agravaram em meados deste ano, quando os Estados Unidos saíram unilateralmente do acordo nuclear iraniano, voltando a introduzir sanções anteriormente suspensas contra o Irã.

Acusações recentes na ONU

O atentado no Irã aconteceu num momento em que os Estados Unidos e aliados aumentam a pressão para que Teerã contenha sua influência regional no Oriente Médio.

Em setembro, Donald Trump discursou na 73ª edição da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), evento que reúne representantes de mais de 190 países para um debate geral. Durante o evento, o presidente norte-americano subiu o tom e afirmou que o Irã era formado por uma “ditadura corrupta” que busca semear “caos, morte e destruição”.

De acordo com Trump, os EUA lançam uma campanha de pressão econômica para impedir o acesso do Irã a fundos para desenvolvimento regional. Pedem, além disso, que as nações aliadas isolem as lideranças iranianas, enquanto ainda houver agressões.

Ele reiterou sua decisão de “arrasar o Irã economicamente”, sinalizando que pode fazê-lo também militarmente. "Se nos contrariarem, ou a um dos nossos aliados, ou parceiros; se machucarem um de nossos cidadãos; se continuarem a mentir, enganar e dissimular, sim, sem dúvida, enfrentará o inferno na terra. Estamos de olho e iremos atrás de vocês".

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também causou polêmica ao discursar na Assembleia Geral da ONU. Ele afirmou que o Irã possui um armazém atômico secreto que teria sido descoberto pela inteligência israelense. O premiê apelou à Agência Internacional de Energia Atômica para que inspecione urgentemente a área.

O chanceler do Irã, Mohammad Javad Zarif, criticou as acusações de Israel. "Ele [Benjamin Netanyahu] simplesmente está tentando encontrar uma cortina de fumaça", disse Zarif, que negou todas as acusações.

Na mesma conferência, Hassan Rouhani, o presidente do Irã, criticou ações de Donald Trump para desfazer acordos assinados por Barack Obama e afirmou que a “segurança internacional não é um brinquedo da política doméstica americana”.

Analistas avaliam que caso o tom dessa disputa aumente, o mundo pode assistir ao início de um conflito ainda mais amplo em todo o Oriente Médio, o que poderia levar a uma possível guerra generalizada no Golfo Pérsico.

Saída do acordo nuclear

As relações entre os dois países pioraram depois de 8 de maio de 2018, quando o presidente Trump anunciou a saída do país do acordo nuclear com o Irã. O presidente norte-americano alegou que a medida iria impedir os iranianos de adquirir armas nucleares, mencionando acusações apresentadas por Israel. Durante a campanha eleitoral, em 2016, Trump se referiu ao acordo nuclear com o Irã como o “pior acordo da história”.

O acordo havia sido assinado em 2015 em meio à desconfiança crescente de que o Irã estava prestes a desenvolver armas nucleares, embora o governo iraniano negasse que seu programa atômico tinha fins bélicos. O pacto impõe limites ao programa nuclear de Teerã e diminui o pacote de sanções econômicas internacionais impostas ao país, em troca do compromisso dos iranianos de não desenvolver uma bomba atômica.

O acordo foi assinado junto com as seguintes potências mundiais: Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia. Na época, ele representou uma importante vitória da diplomacia sobre o uso da força.

Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã respeitou os termos do acordo. Mas após a saída dos EUA, Trump avisou que as sanções seriam imediatas e deu um prazo para que as multinacionais abandonassem seus negócios no país mulçumano. As outras potências afirmaram que buscam “preservar os benefícios econômicos para a população iraniana”. Entre 2015 e 2017, as importações europeias de produtos iranianos aumentaram quase 800% e a União Europeia tem o interesse de preservar o comércio multilateral.

Os EUA pressionam o Irã para aceitar novas medidas, como revelar seus segredos nucleares, desistir da produção de mísseis balísticos, libertar os prisioneiros norte-americanos e de países aliados e deixar de apoiar alguns grupos considerados terroristas. De acordo com especialistas, as exigências dos EUA são excessivas e barram a possibilidade para uma nova negociação.

Uma tensão histórica

Até 1979, o Irã era um país de costumes ocidentais em pleno Oriente Médio. Após a Revolução Iraniana, o país passou a viver sob uma rígida interpretação da religião islâmica.
A Revolução aconteceu em 1979, quando o governo monárquico (aliados dos EUA) foi destituído e o aiatolá Khomeini, um líder religioso, chegou ao poder. O país se declarou uma República Islâmica que se posicionava contra o liberalismo do Ocidente.

Desde então EUA e o Irã romperam relações diplomáticas (não há embaixadores entre os países) e os dois países passaram a ter uma relação tensa, com ameaças constantes de conflito armado direito.

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