Entenda os protestos em Hong Kong pelas liberdades civis -
Desde junho de 2019, milhares de pessoas realizam manifestações em Hong Kong, alcançando marcos históricos. Uma das mais gigantescas marchas levou quase 2 milhões de pessoas para as ruas (o que representa 28% da população da cidade). Mas o que tem levado tanta gente a protestar?
Localizada na costa sul da China, Hong Kong é uma cidade portuária, situada em um território formado por ilhas, com pouco mais de mil quilômetros quadrados e uma população de 7,4 milhões de habitantes. É denominada como uma Região Administrativa Especial da China, mas possui uma forte autonomia política e econômica.
As primeiras manifestações em Hong Kong foram protagonizadas por estudantes e aconteceram após o governo chinês anunciar um polêmico projeto de lei que prevê a extradição de suspeitos e criminosos para a China continental, onde o mandato do Partido Comunista Chinês se sobrepõe.
O temor dos manifestantes é que a lei poderia se tornar uma maneira de o governo chinês perseguir opositores e críticos do governo e retirar a relativa independência e liberdades civis de Hong Kong. Já o governo chinês afirma que o objetivo é evitar que Hong Kong seja um lugar seguro para criminosos.
Os protestos dos jovens foram marcados pela violência policial e repressão, com a prisão de centenas de manifestantes. O uso excessivo da força policial para dissolver os protestos e as prisões deixaram a população ainda mais indignada --as marchas ganharam a adesão e o apoio de diferentes camadas sociais. As manifestações também atingiram situações dramáticas, como o fechamento temporário do aeroporto da cidade e a invasão do edifício do Legislativo.
Com a pressão popular, Carrie Lam, a ministra-chefe do governo autônomo, concordou em arquivar a lei de extradição de suspeitos e disse que estaria aberta para dialogar com os cidadãos. No entanto, o governo considera algumas reivindicações como impossíveis.
A lista de demandas se ampliou e passou a incluir o pedido de renúncia da governadora da ilha, o arquivamento de processos contra manifestantes, a garantia das liberdades e a não ingerência de Pequim.
A China classificou os protestos em Hong Kong como atos "terroristas". O governo chinês sinalizou que o governo da ilha pode pedir ajuda a qualquer momento para as forças armadas para manter a ordem social.
A comunidade internacional teme que a China envie suas forças armadas para a cidade e pressiona para que Pequim assuma os compromissos de permitir que Hong Kong exercite um alto grau de autonomia.
As semanas seguidas de protestos pró-democracia significam um confronto ideológico que cresce sob a ameaça de uma intervenção militar de Pequim. As atuais manifestações são vistas como o maior desafio à autoridade da China desde 1989, quando ocorreram os protestos na Praça da Paz Celestial pela democracia.
Um país, dois sistemas
Hong Kong é uma ex-colônia britânica, que foi ocupada pela Inglaterra após a Guerra do Ópio e ficou sob domínio britânico por mais de 150 anos. No século 20, a ilha se tornou um importante centro capitalista asiático, com edifícios modernos e mecanismos de liberdade democrática equiparados às democracias ocidentais.
Em 1997, a China comunista assumiu o controle do território e o transformou em uma Região Administrativa Especial. Nos anos da transferência, a China era um país pobre que apostava em reformas econômicas, processo que culminaria no chamado "milagre econômico". Hong Kong esbanjava pujança econômica e atraia a maior parte dos investimentos estrangeiros, sendo a sede asiática dos bancos globais. Na época, Hong Kong gerava uma riqueza equivalente a um quarto de tudo o que a China produzia.
No acordo assinado com o Reino Unido, havia uma condição fundamental: que os atuais sistemas sociais e econômicos permanecessem inalterados, assim como seu estilo de vida. A exceção trataria das áreas de defesa e relações exteriores, ambas sob o controle da China.
O acordo assinado em 1997 é válido até 2047, ano em que o território passará a ser totalmente controlado pela China.
Desde que a China retomou o controle do território, Hong Kong vive sob o princípio de "um país, dois sistemas". A República Popular da China é um Estado socialista comandado por um único partido, o Partido Comunista chinês. Já Hong Kong possui o próprio governo e um Legislativo --o chefe do Executivo local é eleito por votação secreta por um comitê escolhido pelo governo central chinês.
Hong Kong possui maior democracia se comparada à China. Os cidadãos podem desfrutar de um sistema capitalista e de um regime político próprio, com um sistema jurídico especial, no qual a independência nos processos judiciais são prerrogativas previstas em lei. O regime chinês é reconhecido pelo autoritarismo e pela forte manipulação dos processos judiciais pelo Estado.
Ainda que a China tenha a última palavra em relação à legislação de Hong Kong, os moradores contam com liberdades civis como religiosa, de imprensa, de expressão e de reunião.
A revolução dos guarda-chuvas
Em junho de 2014 aconteceu a primeira grande crise em Hong Kong após a assinatura do acordo. Naquela ocasião, o Partido Comunista da China publicou o chamado Livro Branco, documento no qual expressava seu ponto de vista sobre o funcionamento da política de "um país, dois sistemas". O texto sinalizava o objetivo de "reunificação do continente", mas indicava a necessidade de um aumento de controle pelo poder central.
Em setembro do mesmo ano, Hong Kong desencadeou a chamada "revolução dos guarda-chuvas", uma mobilização que bloqueou, por mais de dois meses, o centro da cidade. A marca registrada dos protestos foram os guarda-chuvas usados pelos manifestantes para se proteger do spray de pimenta da polícia. Os manifestantes reivindicavam a instauração de um sufrágio universal efetivo, em vez de o chefe de governo ser escolhido pelo Partido Comunista da China.
A ideia de que a economia de Hong Kong era mais forte do que a chinesa está ficando no passado. A China se tornou um gigante econômico e seu dinheiro hoje é fundamental para a ilha, tornando Hong Kong cada vez mais dependente do continente.
Nos últimos anos, Pequim tenta aumentar sua influência política e econômica sobre Hong Kong. Grupos de direitos humanos acusaram a China de interferir no território. Os mais pessimistas acreditam que a influência chinesa será cada vez maior e que Hong Kong se tornará uma "cidade chinesa" antes de 2047.
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