Revolução Chinesa - 60 anos - Socialismo à chinesa sobrevive ao século 20
Há 60 anos, no dia 1º de outubro de 1949, a Revolução Chinesa transformou o terceiro maior país do planeta - e o mais populoso - numa nação socialista, a República Popular da China.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Seria impensável, à época, unir economia liberal, baseada no mercado livre, e regime comunista, centralizado no Estado. Pois é com esse modelo administrativo que a China, depois de passar metade do século 20 em conflitos e sobreviver ao colapso do comunismo, ao final da Guerra Fria (1945-1991), ameaça hoje a hegemonia dos Estados Unidos.
Senhores feudais
Considerada um dos berços da civilização, a China desenvolveu a escrita, o Estado e várias tecnologias - como a fundição de ferro e bronze, fabricação de tecidos, indústria naval e imprensa - muito antes do Ocidente.
Enquanto os gregos inventavam a filosofia ocidental e a democracia, entre os séculos 8 e 3 a.C. os chineses faziam a transição da sociedade escravista para o regime feudal, com amplo desenvolvimento cultural e científico.
Foi também um período marcado por guerras entre os senhores feudais, até que a dinastia Qin instituiu o primeiro Estado centralizador, com o objetivo de unificar o país e resolver os conflitos internos. Os dois mais famosos legados da China feudal são da dinastia Qin: a Grande Muralha e o Exército de Terracota.
Nos séculos seguintes, a disputa entre dinastias ora centralizava ora descentralizava o poder no Estado chinês.
Durante a dinastia Ming (1368-1644), no século 14, o país possuía a mais avançada frota naval do mundo. Porém, a expansão mercantilista foi proibida pelo sistema feudal, influenciado por aspectos mais conservadores da doutrina de Confúcio (551 a.C.- 479 a.C.). Isso contribuiu para a ascensão da monarquia absolutista Qing e o atraso econômico, social e industrial da China em relação à Europa.
Foram essas desvantagens frente aos impérios coloniais do século 19, somadas a instabilidades internas causadas por rebeliões camponesas, que deixaram o país suscetível a interferências de nações imperialistas. Após a primeira Guerra do Ópio (1840), contra a Inglaterra, o país foi praticamente retalhado em colônias inglesas, francesas, alemãs, japonesas e americanas.
Revoltas camponesas
O clima de revolta contra os estrangeiros e os senhores feudais incentivou levantes populares como a Revolução Celestial Taiping (1851-1864) e as rebeliões dos Nain (1851) e dos Boxers (1900-1901). O sentimento anticolonialista entre os camponeses - que, correspondendo a 80% da população, eram a grande força militar do país - foi canalizado na formação do Kuomintang (Partido Nacionalista Chinês). O partido foi criado por Sun Yat-sen (1866-1925), que proclamou a República entre 1911 e 1912.
Mas mesmo tendo derrotado a monarquia feudal, os nacionalistas não conseguiram manter o poder, que foi transferido para senhores da guerra ligados às potências estrangeiras. Na prática, portanto, pouca coisa mudou.
Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a China se aliou à Inglaterra e à França contra a Alemanha e o Japão, esperando com isso rever sua condição de dependência colonial. Contudo, mesmo apoiando os vencedores, a China teve de aceitar, ao final da guerra, o artigo do Tratado de Versalhes (1919) que conferiu ao Japão o direito de posse das concessões alemãs em território chinês.
Revoltados contra o fracasso da diplomacia do governo chinês, estudantes promoveram manifestações em Pequim que se espalharam pelo país, conhecidas como Movimento 4 de Maio. Os jovens também criaram, sob influência da Revolução Russa de 1917, o Partido Comunista Chinês (PCC), em 1921.
No início, o PCC e o Kuomintang eram aliados contra os senhores da guerra e as potências colonialistas. Isso mudou com um golpe militar, em 1927, do sucessor de Sun Yat-sen na liderança do Partido Nacionalista, Chiang Kai-shek (1887-1975). Os comunistas se refugiaram no campo, onde organizaram a luta armada e o Exército Vermelho para combater os nacionalistas. O PCC estabeleceu ali um modelo de guerrilha rural seguido, por exemplo, pelos comunistas brasileiros na Guerrilha do Araguaia (1972-1975).
A guerra civil entre nacionalistas e comunistas se estendeu até 1935, com a vitória do Kuomintang e a perda de 90% do efetivo do exército comunista durante a Grande Marcha.
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os partidos se uniram mais uma vez contra a ocupação japonesa e, em 1947, travaram nova guerra civil. Desta vez, os comunistas tinham mais prestígio junto ao povo, graças à resistência às tropas nipônicas, além de apoio da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Sob a liderança de Mao Tse-tung (1893-1976), o PCC derrotou o Partido Nacionalista e proclamou, em 1949, a República Popular da China.
Revolução Cultural
A China era então um país pobre, atrasado e completamente destruído por mais de duas décadas de guerras e batalhas domésticas. Nas três décadas seguintes, Mao Tse-tung fez do país um dos maiores laboratórios da experiência socialista do século passado, grande também em seus desastres.
No decorrer do Grande Salto Adiante (1958-1961), campanha que tinha como objetivo modernizar a China aumentando a produção agrícola e acelerando a industrialização, cerca de 20 milhões de pessoas morreram de fome.
Já a Revolução Cultural (1966-1967, 1972-1973 e 1975-1977), movimento de caráter ideológico que iniciou o culto ao líder Mao Tse-tung, foi um dos períodos mais traumáticos da história do país. Intelectuais e pessoas consideradas inimigas do partido eram executadas pelos "guardas vermelhos", enquanto outros eram perseguidos e exilados do país.
Foram estes primeiros fracassos do regime comunista que levaram o PCC - tendo à frente Deng Xiaoping (1904-1997), que se tornou líder máximo após a morte de Mao - a promover reformas políticas e econômicas entre 1978 e 1980. As reformas tiveram como maior característica a abertura do mercado.
Com a queda dos governos comunistas no Leste Europeu, supunha-se que a China encontraria o mesmo caminho aberto pelas reformas na economia, rumo à democracia liberal. Não foi o que aconteceu. O país adotou um sistema que combina protecionismo e livre mercado, propriedade privada e social, capitalismo econômico e Estado socialista.
China pós-crise
Hoje a China é a terceira maior economia do planeta, atrás somente dos Estados Unidos e do Japão, ultrapassando o Reino Unido e a Alemanha. Além disso, é país que mais concentra investimentos estrangeiros. No atual ritmo de crescimento, deve se tornar, em 2010, a segunda maior potência econômica, ameaçando a supremacia dos americanos.
Desde 1991, a economia cresceu quase 11 vezes, tornando a capital, Pequim, uma das metrópoles mais arrojadas e modernas do planeta. O país, que foi também um dos primeiros a se recuperar da crise econômica mundial, assumiu a liderança no mercado automobilístico e superou a Alemanha como maior exportador mundial.
O sucesso na área econômica, no entanto, foi acompanhado de censura à imprensa, restrições aos direitos civis e violações dos direitos humanos. Eventos dramáticos, como o massacre da Paz Celestial (Tiananmen), anexação do Tibete e o massacre da etnia uigur na Província de Xinjiang, no ano passado, renderam críticas da comunidade internacional.
No desfile militar que irá comemorar os 60 anos da Revolução Chinesa, o mesmo povo que colocou no poder os comunistas será barrado por um forte esquema de segurança na capital chinesa. Sinal de que uma das nações mais poderosas do século 21 é também uma aberração política do século 20, sem contradição.
Direto ao ponto A Revolução Chinesa, comandada pelo líder comunista Mao Tse-tung, levou à proclamação da República Popular da China, no dia 1o de outubro de 1949. Causas O atraso tecnológico, social e econômico da China deixou o país vulnerável a intervenções dos impérios colonialistas na segunda metade do século 19. A revolta contra a invasão estrangeira e o governo conservador levou à criação de dois partidos, o nacionalista e comunista. Na primeira metade do século 20, eles travaram duas guerras civis e se uniram contra o Japão. Ao final, o PCC (Partido Comunista Chinês) conquistou o poder. Principais períodos • Grande Salto Adiante (1958-1961): campanha fracassada para modernizar o país, terminou com mais de 20 milhões de chineses mortos pela fome. • Revolução Cultural (1966-1967, 1972-1973 e 1975-1977): movimento ideológico que perseguiu e matou intelectuais e dissidentes políticos. • Reformas (1978-1980): conjunto de reformas políticas e econômicas que abriram o país ao mercado internacional e iniciaram um período de acelerado crescimento econômico. Consequências A China sobreviveu à queda dos regimes comunistas no Leste Europeu, tornando-se uma das maiores potências do planeta. O país poderá se tornar, em 2010, a segunda maior economia mundial. |
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.