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Protestos na França - A revolta dos jovens contra as mudanças nas aposentadorias

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Há duas semanas as ruas da França foram tomadas por estudantes e sindicalistas que protestaram contra a reforma da previdência, proposta pelo presidente Nicolas Sarkozy .

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Pela mudança, aprovada pelo Senado no dia 22 de outubro, a idade mínima para se pedir aposentadoria passa de 60 para 62 anos. Para a aposentadoria integral, a idade foi elevada de 65 para 67 anos.

Com o envelhecimento da população causando o aumento dos gastos públicos, devido ao pagamento de pensões, a medida se tornou urgente em toda a Europa. Ainda mais depois da crise econômica mundial, que há dois anos derrubou as finanças da UE (União Europeia). .

Outros governos já fizeram reformas, aumentando a idade em que o trabalhador pode pedir a aposentadoria. Dessa forma, ele teria um tempo de vida profissional maior para custear o sistema previdenciário, e o governo conseguiria reduzir suas despesas.

Mas, se a reforma é necessária, por que os franceses se manifestaram contra o projeto de Sarkozy? Greves afetaram os transportes, os serviços, os portos e as refinarias, causando prejuízos ao país e desabastecimento em postos de combustíveis. Houve confrontos nas ruas entre polícia e manifestantes. Até a cantora Lady Gaga teve que cancelar a apresentação que faria em Paris.
 

Maio de 68

A questão foi política. O presidente francês, com seu jeito arrogante, impôs o projeto de reforma sem discutir com entidades de classes e outros setores da sociedade. Os sindicatos de esquerda, que são fortes na Europa, reagiram.

Para eles, a aposentadoria aos 60 anos é uma conquista e praticamente um símbolo da luta de classes. O sistema previdenciário atual vigora desde 1983, período do governo de Francois Mitterrand , que era socialista. E, além disso, os sindicalistas reclamam que os encargos da previdência recaem sobre os mais pobres.

Sarkozy, que vinha num processo de queda de popularidade (com aprovação de 25% dos franceses), decidiu enfrentar a oposição. Mas ele não contava com os jovens, que são um fator de desequilíbrio social desde o Maio de 68 . Os estudantes secundaristas, que ainda não entraram no mercado de trabalho, também foram às ruas protestar contra o projeto.

Os garotos, com idades entre 16 e 18 anos, acreditam que o aumento do tempo de trabalho vai reduzir os postos para os mais jovens. Mesmo que no futuro eles sejam beneficiados com a reforma, para eles é mais urgente garantir agora um emprego.

Outro motivo é que eles fazem parte da parcela dos franceses que mais detestam o presidente Sarkozy. Eles o acham vaidoso, conservador e reprovam suas leis anti-imigrantes e política favorável aos mais ricos.

E os estudantes não estão sozinhos. Numa consulta feita recentemente, quase 70% da população da França apoia as greves e os protestos. O presidente, que deve disputar a reeleição em 2012, não teve como recuar nas reformas que, tudo indica, serão apenas as primeiras de uma série que os Estados europeus terão pela frente.
 

Falência do Estado

A expectativa de vida maior do trabalhador era para ser sinônimo de desenvolvimento e progresso. E, na verdade, é. Uma população mais velha poupa mais e melhora a economia do país.

O problema é que, na Europa, o Estado de bem-estar social paga quase todas as aposentadorias (95% contra 39% nos Estados Unidos ) e outros benefícios para o trabalhador, como generosos seguros-desemprego.

Com isso, a situação fiscal dos governos entrou em colapso. Como eles irão sustentar uma população inativa que cresce a cada dia, ao passo que as pessoas têm menos filhos? Estimativas apontam que, daqui a três décadas, um terço da população europeia vai estar aposentada, sobrando apenas dois terços de mão-de-obra no continente.

A crise econômica, que obrigou os governos a gastarem mais para salvar suas instituições financeiras, apenas apressou as reformas. Elas só não haviam sido feitas antes para evitar o desgaste político - afinal, nenhum europeu quer perder as garantias de proteção do Estado.

Uma solução seria diminuir o valor das aposentadorias, mas isso deixaria os idosos mais pobres. Então, governos como a França têm optado por elevar o tempo de contribuição. O Reino Unido aumentou recentemente de 65 para 66 anos a idade mínima para aposentadoria, a partir de 2020. Medidas semelhantes foram adotadas na Itália, Espanha, Alemanha e Grécia. Todos, porém, estão enfrentando a oposição dos sindicatos e partidos de oposição.
 

Mais protestos

As greves francesas são um sintoma de uma mudança na economia europeia, que está transformando o Estado de bem-estar social. Ela vem acompanhada de aumento de impostos e redução dos gastos fiscais, com corte em benefícios. Num continente de tradição de lutas sociais, será uma tarefa árdua para os governantes. Por isso, a aprovação das reformas na França não foi o último capítulo dessa novela. O texto final da reforma foi sancionado na Assembleia Nacional no dia 27 de outubro e a lei deve ser promulgada em novembro.

Enquanto isso, a oposição, representada pelo Partido Socialista, deve recorrer à Corte Constitucional para vetar o projeto. Os sindicalistas, junto com os estudantes, marcaram novos protestos, mas as paralisações perderam força em todo o país.

Direto ao ponto

As ruas da França foram tomadas, há duas semanas, por estudantes e sindicalistas que protestaram contra as reformas das aposentadorias propostas pelo presidente Nicolas Sarkozy. O projeto foi aprovado no Senado dia 22 de outubro. Pela reforma, a idade mínima para se pedir aposentadoria passa de 60 para 62 anos. Para a aposentadoria integral, a idade mínima foi elevada de 65 para 67 anos.

A medida é necessária para conter os gastos do governo com a previdência. Com a expectativa de vida maior, ao passo que a taxa de natalidade caiu, o governo europeu gasta mais com o pagamento de pensões. As reformas já estavam previstas, mas a crise econômica de dois anos atrás acelerou o processo. Países como Reino Unido, Alemanha, Espanha, Itália e Grécia também tiveram que reduzir os gastos, cortando benefícios.

Em um continente cuja economia é baseada no Estado de bem-estar social, que provê generosas aposentadorias e outros benefícios sociais, as mudanças geram protestos. Na França, especificamente, a impopularidade do presidente Sarkozy uniu sindicalistas e estudantes. As greves paralisaram serviços, transportes e refinarias. Mesmo com a aprovação, a oposição prometeu novos protestos.

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