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Nobel da Paz 2010 - Premiação de ativista pressiona China

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Uma cadeira vazia representou o vencedor do prêmio Nobel da Paz na cerimônia realizada em Oslo, na Noruega. O motivo é que o agraciado deste ano, o dissidente chinês Liu Xiaobo, está preso. Ele foi condenado a 11 anos de prisão por crimes políticos.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

A China é hoje a segunda economia do mundo e um dos poucos regimes comunistas remanescentes do século 20. Xiaobo é um dos ativistas políticos mais conhecidos do país. Ele enfrenta sua quarta detenção por conta de manifestações em defesa de liberdades civis. Sua mulher, a também dissidente Liu Xia, cumpre prisão domiciliar.

Foi a segunda vez na história que nenhum representante de um laureado preso pôde ir à cerimônia. Em 1935, o prêmio foi entregue ao pacifista alemão Carl von Ossietzky (1889-1938), que estava detido em um campo de concentração nazista por contrariar Adolf Hitler.

A escolha deste ano enfureceu o governo chinês. O Partido Comunista Chinês, que governa desde o país 1949, reagiu de duas formas. Externamente, usou a diplomacia para tentar boicotar a cerimônia – aderiram, entre outros, Rússia, Cuba e Venezuela. Internamente, bloqueou sites de notícias, interrompeu a transmissão do evento e reprimiu simpatizantes.

É o segundo ano consecutivo em que o Nobel da Paz gera polêmicas. No ano passado, o laureado foi o presidente norte-americano Barack Obama, mesmo com os Estados Unidos envolvidos em duas guerras, no Iraque e no Afeganistão.

A decisão deste ano foi, mais uma vez, política. O objetivo do comitê do Nobel foi sinalizar a China de que a hegemonia no mercado e nas finanças deve vir acompanhada de avanços na área de direitos humanos. Nada indica, porém, que os governantes chineses irão libertar os dissidentes.
 

Praça da Paz Celestial

O professor de Literatura e escritor Liu Xiaobo, de 54 anos, ficou conhecido quando foi preso pela primeira vez após os protestos em prol da democracia em 1989. Nessa época, no clima do colapso dos regimes comunistas no Leste Europeu, estudantes chineses ocuparam a praça da Paz Celestial (Tiananmen). A repressão ao movimento, em 4 de junho de 1989, deixou mais de 7 mil mortos, segundo fontes extra-oficiais.

Xiaobo ficou quase dois anos na cadeia por aderir à greve estudantil. Foi preso novamente em 1995 e 1996. No final de 2008, sofreu a quarta detenção. Desta vez, por ser o principal autor da “Carta 8”, documento que pedia a democratização e reformas políticas na China. O movimento foi inspirando na “Carta 77”, emblema do movimento pela democracia na Tchecoslováquia na década de 1970.

A “Carta 8” foi assinada por cerca de 10 mil chineses e publicada por ocasião do 60ª aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Por escrever o manifesto, Xiaobo foi condenado em dezembro de 2009. A Justiça chinesa é subordinada ao Partido Comunista e, por isso, raramente absolvem réus acusados de crimes contra o Estado. A sentença foi criticada pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por grupos de defesa dos direitos humanos.

Atualmente, o ativista cumpre a pena numa prisão localizada a 500 quilômetros ao norte de Pequim. Somente sua mulher tem autorização de visitá-lo na cela, mas ela também está detida, em prisão domiciliar. O casal não se vê desde o dia 7 de setembro.
 

Confúcio da Paz

O Prêmio Nobel foi idealizado por Alfred Nobel, industrial sueco que inventou a dinamite. O objetivo era reconhecer contribuições de valor à humanidade em cinco áreas distintas: física, química, medicina, literatura e trabalhos pela paz.

A premiação ocorre desde 1901 na cidade de Estocolmo - capital da Suécia e sede da Fundação Nobel-, com exceção da entrega do Nobel da Paz, que acontece em Oslo, capital da Noruega.

O Nobel da Paz é concedido para pessoas ou organizações cujas ações promoveram a paz entre as nações e contribuíram para solucionar a conflitos. Entre os mais famosos laureados com o prêmio estão Martin Luther King (1964), Madre Teresa de Calcutá (1979), Dalai Lama (1989), Mikhail Gorbatchev (1990) e Nelson Mandela (1993).

Outros dissidentes também foram agraciados com o prêmio, entre eles o físico soviético Andrei Sakharov (1975), o líder sindical Lech Walesa (1983) e a ativista birmanesa Aung San Suu Kyi (1991).

O governo chinês criticou duramente a escolha do Nobel da Paz deste ano e suspendeu as relações comerciais com a Noruega. O Ministério de Relações Exteriores da China chamou de "teatro político" a decisão do comitê.

Em resposta, a China criou seu próprio prêmio, o Confúcio da Paz. O nome se refere ao filósofo chinês que originou a doutrina do confucionismo. A condecoração foi oferecida a Lien Chan, ex-vice-presidente de Taiwan.

Valendo-se de sua influência comercial e diplomacia, Pequim tentou convencer outros países a boicotarem a cerimônia de entrega do prêmio. Além da China, não compareceram à solenidade representantes de outros 16 países: Afeganistão, Arábia Saudita, Autoridade Palestina, Iraque, Irã, Cazaquistão, Paquistão, Siri Lanka, Vietnã, Cuba, Venezuela, Egito, Marrocos, Sudão, Tunísia e Rússia.
 

Ausente

Poucos chineses souberam da premiação. O governo chinês censurou a transmissão ao vivo da cerimônia pelos canais internacionais de notícias, como a BBC e a CNN. A imprensa local, controlada pelo Estado, não fez nenhuma menção ao evento. Sites da internet também foram bloqueados, impedindo que quase 400 milhões de internautas chineses (o maior número de usuários da rede no mundo) acessarem conteúdo que fizessem referência ao Nobel.

Ao mesmo tempo, colaboradores e simpatizantes foram detidos ou impedidos de deixar o país. Deste modo, nenhum representante de Xiaobo pode ir à Noruega receber a medalha e cheque de US$ 1,5 milhão.

No assento vazio, com a foto de Xiaobo ao fundo, foram deixada a medalha e o diploma. A atriz norueguesa Liv Ullman leu o discurso que o escritor pronunciou em seu julgamento. Um dos trechos diz: "Eu, cheio de otimismo, aguardo ansioso pelo advento de uma China livre no futuro. Pois não existe força que possa por fim à busca humana pela liberdade, e a China, no final das contas, será uma nação regida pela lei, onde os direitos humanos serão supremos."

Direto ao ponto

O dissidente chinês Liu Xiaobo foi condecorado com o prêmio Nobel da Paz. A premiação irritou a China, que não permitiu que nenhum representante do ativista fosse receber o prêmio em seu lugar na cerimônia em Oslo, na Noruega. Foi a primeira vez que isso aconteceu em 75 anos. Xiaobo foi condenado a 11 anos de prisão por manifestações em prol da democracia e dos direitos humanos. Ele está preso em Pequim. Sua mulher, também dissidente, cumpre prisão domiciliar.

A China é hoje a segunda economia do mundo e um dos poucos regimes comunistas remanescentes do século 20. Xiaobo ficou conhecido depois do massacre da Praça da Paz Celestial em 1989, em que aderiu à greve estudantil, e por ser o principal autor da “Carta 8”, documento que pede reformas políticas em seu país. A reação do governo chinês ocorreu de duas maneiras. Externamente, usou a diplomacia para tentar boicotar a cerimônia – aderiram, entre outros, Rússia, Cuba e Venezuela. Internamente, bloqueou sites de notícias, interrompeu a transmissão do evento, reprimiu simpatizantes e criou seu próprio prêmio, o Confúcio da Paz.

É o segundo ano consecutivo em que o Nobel da Paz gera polêmicas. No ano passado, o laureado foi o presidente norte-americano Barack Obama, mesmo com os Estados Unidos envolvidos em duas guerras, no Iraque e no Afeganistão.

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