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Greve de fome - Método de resistência pacífica existe há séculos

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

A morte do cubano Orlando Zapata Tamayo, no dia 23 de fevereiro de 2010, depois de 85 dias em greve de fome, gerou críticas, no mundo todo, ao regime comunista de Cuba. Zapata, 42 anos, era um dos mais importantes dissidentes políticos do país e estava preso desde 2003. Ele iniciou o jejum para protestar contra as condições desumanas dos cárceres de Havana.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita a Cuba no dia seguinte à morte de Zapata, foi criticado por não se solidarizar com os presos políticos, comparando-os a presos comuns. Foi a primeira morte de um dissidente cubano desde 25 de maio de 1972, quando o poeta Pedro Luis Boitel não sobreviveu a 53 dias ingerindo apenas líquidos.

Outro opositor ao regime castrista, Guillermo Fariñas, 48 anos, iniciou greve de fome no dia 24 de fevereiro de 2010, em homenagem ao companheiro morto e para pedir a libertação de 26 prisioneiros políticos doentes. Ele está hospitalizado em estado grave. Cuba possui 64 dissidentes presos, cumprindo penas que variam de 10 a 27 anos de prisão.

A greve de fome é um método de resistência pacífica, por meio do qual a pessoa deixa de consumir alimentos e até líquidos (como no caso de Fariñas), até que suas reivindicações sejam atendidas. É uma das principais estratégias utilizadas por presos políticos para pressionar autoridades, empregada, ao longo da história, por religiosos, políticos e ativistas de todo mundo.

Para que o jejum funcione, é preciso que haja publicidade do ato, ou seja, que o público tenha conhecimento do protesto. Mas é uma escolha de alto risco: são grandes as chances de morrer de inanição ou contrair doenças incuráveis durante a abstinência. Ocorreram casos em que governos recorreram à força para alimentar os grevistas.
 

Irlanda

A tradição da greve de fome é antiga. Ela remonta ao século 8, quando, na Irlanda, as pessoas cobravam dívidas e reparações de injúrias jejuando na porta do autor da ofensa. A partir de 1917, republicanos e, anos mais tarde, o Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês), grupo católico que lutava pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, adotaram a tática contra o governo britânico.

O caso mais famoso na Irlanda do Norte foi a morte de dez presos, em 1981, que jejuaram por um período que variou de 46 até 73 dias (ver filmes indicados abaixo). Eles se rebelaram, em 1976, contra a revogação, pelo governo do Reino Unido, da categoria especial em que se incluíam os presos políticos.

Um dos detentos, Bobby Sands, ex-comandante do IRA, chegou a ser eleito para a Câmara dos Comuns durante a greve, mas ele morreu após 60 dias de jejum e virou um mártir da causa.

As greves desencadeadas tiveram como consequências a partidarização de movimentos nacionalistas irlandeses e uma crise no governo da primeira-ministra Margareth Thatcher (1979-1990). Somente após a morte de dez prisioneiros e violentas manifestações nas ruas, o governo inglês atendeu parcialmente às exigências do grupo.
 

Gandhi

A Índia é outro país com histórico de greve de fome. O mais famoso líder político a praticar jejum foi o Mahatma Gandhi (1869-1948), primeiro contra a colonização britânica e pela independência da Índia e, em seguida, pela união de hindus e muçulmanos.

Para Gandhi, a abstenção era uma forma de exercer a desobediência civil e a não violência como caminho para a revolução. Os ingleses temiam a repercussão internacional que a morte do líder indiano causaria, mas Gandhi nunca jejuou por mais de 21 dias.

Ficaram famosas também as greves das sufragistas no começo do século 20. Elas lutavam pelo direito ao voto das mulheres no Reino Unido e nos Estados Unidos. Muitas morreram ao serem alimentadas à força nas prisões.

Já durante a era Bush, presos de Guantánamo em greve de fome foram alimentados utilizando-se uma sonda nasal que ia até o estômago, o que foi caracterizado como tortura.
 

Ditadura

No Brasil, durante o período da ditadura (1964-1985), presos políticos amotinaram-se em favor da anistia. Uma das greves de fome mais simbólicas da época aconteceu em 1979 e envolveu dezenas de prisioneiros em todo país (ver livro indicado abaixo).

A greve durou 32 dias e terminou com a aprovação da Lei de Anistia pelo Congresso Nacional, em 22 de agosto do mesmo ano.

Em dezembro de 2007, o bispo de Barra (BA), dom Luís Flávio Cappio, ficou 24 dias em jejum contra o projeto do governo federal de transposição do rio São Francisco. Em novembro de 2009, o italiano Cesare Battisti ficou 10 dias sem comer para contestar uma eventual extradição do país. O caso, aliás, julgado pelo Supremo Tribunal Federal, que foi favorável à extradição, aguarda decisão do presidente da República.
 

Agonia

Mas quanto tempo o corpo humano suporta a falta de alimentos? A resistência depende de dois fatores: a quantidade de gordura corporal da pessoa e as técnicas usadas pelos grevistas. Alguns, como no caso dos irlandeses, em 1981, conseguiram suportar o suplício por mais tempo, ingerindo água e uma colher de sal.

Em geral, depois de três ou cinco dias o jejum começa a oferecer riscos à saúde. O corpo humano, na falta de glicose, passa a consumir a gordura corporal para produzir energia. No processo, o organismo gera maior quantidade de cetona, um composto tóxico. Uma característica evidente dessa condição é o hálito adocicado.

Quando a concentração de cetona torna-se muito elevada na corrente sanguínea, pode correr a cetoacidose, que, em alguns casos, traz complicações que podem ser fatais.

Após três semanas, ou quando a perda corporal passa de 18%, há redução do metabolismo. Depois de gastar toda gordura corporal, o corpo utiliza músculos e órgãos vitais para sobreviver. Em outras palavras, o homem consome a si próprio até a morte.

Em média, o jejum é fatal depois de 60 dias após o início. Alguns grevistas, no entanto, sobrevivem por mais de 100 dias, mantendo uma dieta que inclui vitaminas, líquidos, sal e açúcar não refinado.

O cubano Guillermo Fariñas foi internado em 11 de março de 2010, após sofrer um ataque de hipoglicemia (um dos efeitos da cetoacidose). É sua 23ª greve de fome, desde 1995.

Direto ao ponto

Depois de 85 dias em greve de fome, o dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo morreu no dia 23 de fevereiro de 2010. O caso chamou atenção do mundo para as condições dos presos políticos em Cuba. Outro dissidente em jejum, Guillermo Fariñas, está internado em estado grave em um hospital de Havana.

A greve de fome é uma tradição antiga no mundo. Gandhi (1869-1948) foi o mais famoso líder político a praticar a greve de fome, primeiro pela independência da Índia e, mais tarde, pela união de hindus e muçulmanos. No Brasil, dezenas de presos políticos fizeram greve de fome em 1979 em oposição ao regime militar (1964-1985).

O protesto durou 32 dias e terminou com a aprovação da Lei de Anistia pelo Congresso Nacional. A resistência do corpo humano depende de dois fatores: a quantidade de gordura corporal da pessoa e as técnicas usadas no jejum. Passados três ou cinco dias, o organismo, na falta de glicose, começa a consumir a gordura para produzir energia. Deste modo, gera maior quantidade de cetona, um composto tóxico. Em geral, o jejum leva à morte em 60 dias.

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