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Esporte e poder - Ano do futebol na África começa com violência

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Sede da Copa do Mundo 2010, a África é também uma das regiões mais pobres do planeta, assolada por conflitos étnicos e nacionalistas que datam do final da era imperialista, no século 20. Esse lado mais sombrio do continente africano conferiu um ar de tragédia à Copa Africana das Nações, um torneio de futebol que reúne as 16 melhores seleções africanas e antecede os jogos da FIFA.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Na antevéspera da abertura do evento, ocorrida em 10 de janeiro de 2009, a delegação de Togo foi alvo de um ataque terrorista. Os atletas saíram de ônibus da República do Congo em direção a Cabinda, província de Angola. Quando atravessavam a selva, o veículo foi metralhado por guerrilheiros das Forças de Libertação do Estado de Cabinda (Flec). Três pessoas morreram - o motorista, o assessor de imprensa e um assistente técnico - e outras seis ficaram feridas. Temendo novos ataques, a equipe desistiu de participar da competição e foi desclassificada.

A Copa Africana das Nações é o maior torneio de futebol da África, similar em importância à Eurocopa ou à Copa América, realizados, respectivamente, nos continentes europeu e americano. A competição ocorre com regularidade desde 1968. Neste ano, os jogos acontecem em Angola, país de língua portuguesa.

Entre as 18 províncias angolanas escolhidas para receber as seleções africanas está Cabinda, onde foram marcados sete jogos. A região é tumultuada por guerras separatistas desde os anos 1960, mas o Comitê Organizador quis mostrar que ela estava pacificada e, assim, atrair investimentos com o campeonato.

Eventos esportivos dessa importância, entretanto, atraem não somente a atenção de pessoas bem intencionadas, mas também, dependendo do contexto político, terroristas (ver filme "Munique", indicado abaixo).
 

História

Cabinda é um exclave angolano, isto é, uma das 18 províncias da República de Angola, mas totalmente cercado por territórios estrangeiros; no caso, ao norte pela República do Congo, e a leste e ao sul pela República Democrática do Congo (a oeste, pelo Oceano Atlântico). São 7.283 quilômetros quadrados onde vivem 265 mil habitantes. Os limites territoriais foram definidos na Conferência de Berlim (1885), que dividiu a África em colônias europeias. Na ocasião, o Reino do Congo foi fragmentado em: Congo Belga, atual República Democrática do Congo; Congo Francês, atual República do Congo; e Congo Português, hoje Cabinda.

A região, originalmente, fazia parte de Angola, mas a Bélgica negociou com Portugal uma saída para o Oceano Atlântico, isolando assim o protetorado lusitano de Cabinda. Em 1956, o ditador português António Salazar (1932-1968) anexou novamente a terra a Angola, para conter despesas nas colônias.

Por este motivo, quando ocorreu a independência angolana, em 1975, Cabinda tornou-se província do governo de Luanda, capital da Angola. Desde então, grupos separatistas reivindicam a independência do povo cabindense, alegando diferenças culturais, históricas e geográficas.

Para Angola, contudo, a independência está fora de questão. O país é um dos maiores produtores de petróleo da África e Cabinda responde por até 80% dessa produção. Os guerrilheiros, por outro lado, contam com apoio da população local, que não se beneficia dos recursos gerados pela indústria petrolífera de Luanda.

Em agosto de 2006, o governo assinou um acordo de paz com as facções separatistas que lutavam pela independência. Elas concordaram em manter o território como província angolana, em troca de privilégios políticos e econômicos.

Mesmo assim, parte dos guerrilheiros da Flec continuou em atividade. O ataque à delegação do Togo é considerado a ação mais violenta do grupo nos últimos anos.
 

Guerras civis

O caso, porém, está longe de ser isolado na África, cujo fim do período de colonização legou disputas sangrentas pelo poder. A África do Sul, país sede da Copa do Mundo este ano, ficou quase 50 anos sob o regime de discriminação e violência do apartheid. Como atualmente é um Estado em desenvolvimento e politicamente estável, os organizadores garantem que não há risco de investidas terroristas.

Outros países africanos são praticamente dizimados por guerras civis que duram décadas, deixam milhares de mortos e milhões de famílias desabrigadas vivendo em campos de refugiados - e que dependem da ajuda humanitária da ONU (Organização das Nações Unidas) para sobreviver.

A Somália, por exemplo, é uma nação dividida entre duas facções islâmicas armadas que combatem o governo para impor um estado teocrático. Segundo dados da ONU, 40% da população passa fome e uma em cada cinco crianças é desnutrida. Os somalianos ficaram famosos pelos ataques de piratas a navios comerciais.

Na região de Dafur, a oeste do Sudão, os conflitos já deixaram 300 mil mortos e 2,7 milhões de refugiados, de acordo com dados da ONU. Os confrontos entre rebeldes e o governo do ditador Omar al-Bashir começaram em 2003, dando origem a um massacre de cidadãos da etnia "árabe".

República Centro Africana, República Democrática do Congo, Nigéria, Guiné, Chade e Mauritânia são outros países africanos onde atualmente são travadas violentas batalhas pelo poder.

Direto ao ponto

O ano do futebol começou mal na África, continente que sediará este ano a Copa do Mundo da FIFA. Na antevéspera da abertura da Copa Africana das Nações, o mais importante campeonato da região disputado por 16 seleções africanas, a delegação do Togo foi atacada por guerrilheiros da Forças de Libertação do Estado de Cabinda (Flec). Três pessoas morreram e os atletas desistiram de participar do torneio, que este ano ocorre em Angola.

Cabinda é um exclave angolano, isto é, uma das 18 províncias da República de Angola, mas totalmente cercado por territórios estrangeiros; no caso, ao norte pela República do Congo, e a leste e ao sul pela República Democrática do Congo (a oeste, pelo Oceano Atlântico). Desde os anos 1960, a província é tumultuada por violentas lutas pela independência, primeiro de Portugal (1885-1975) e, depois, de Angola. O problema é que Luanda, capital angolense, é dependente economicamente de Cabinda. O país é um dos maiores produtores de petróleo da África e Cabinda responde por 80% de toda produção.

Disputas pelo poder, como a que acontece em Angola, fazem parte da rotina do continente africano. Desde o século 20, com o fim dos impérios colonialistas, grupos armados travam guerras contra regimes locais, deixando um saldo de milhares de mortos, fome, massacres étnicos e campos de refugiados. Entre os casos mais graves estão Somália e Dafur, localizada na região oeste do Sudão.

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