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Crise na Venezuela - Problemas políticos, financeiros e energéticos prejudicam Chávez

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

O ano de 2010 começou mal para o presidente venezuelano Hugo Chávez. Inflação, problemas com o abastecimento de energia elétrica, protestos de rua e conflitos internos no governo ameaçam a sobrevivência do "socialismo bolivariano".

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Há quase 11 anos no poder, Chávez vê sua popularidade cair depois de três medidas polêmicas: a desvalorização da moeda local, os planos de racionamento de energia e o cancelamento da transmissão de canais de TV a cabo.

Isso em um ano decisivo de eleições parlamentares, marcadas para 26 de setembro. Chávez, que tem maioria na Assembleia venezuelana, corre o risco de perder apoio. Fato que já vem acontecendo na região, em decorrência da eleição de um antagonista no Chile, o empresário Sebastián Piñera, e da perda de um aliado em Honduras, o presidente Manoel Zelaya, deposto por um golpe de Estado há sete meses.
 

TVs a cabo

Os violentos protestos que dividiram o país entre chavistas e opositores são um reflexo da crise venezuelana. Dois estudantes foram mortos a tiros durante os tumultos.

O estopim foi o cancelamento, no dia 23 de janeiro de 2010, da transmissão de seis canais de TV a cabo. Entre as emissoras fechadas está a Radio Caracas Televisión Internacional (RCTVI), sucessora da RCTV, que em 2002 apoiou uma tentativa de golpe contra o presidente.

Segundo o governo, os canais foram retirados do ar devido ao descumprimento do decreto de dezembro de 2009, que obriga as emissoras, entre outras regras, a transmitirem na íntegra os discursos do presidente. Três TVs conseguiram regularizar a situação, enquanto as demais (incluindo a RCTVI) continuam com as atividades suspensas.

Em meio à pressão dos manifestantes, o presidente venezuelano sofreu duas baixas importantes no governo, com as renúncias do vice-presidente e ministro da Defesa, Ramón Carrizález, e do presidente do Banco Central, Eugénio Vázquez Orellana. Eles deixaram o cargo, respectivamente, nos dias 25 e 26 de janeiro.
 

Luz

Mas o descontentamento dos venezuelanos se deve, principalmente, às crises financeira e energética. Ambas têm origem no fato de o país depender do petróleo (a Venezuela é um dos maiores produtores e exportadores do mundo) e, segundo especialistas, na má aplicação dos recursos do setor e na criticável condução da política econômica.

A crise no abastecimento de energia elétrica se deve à falta de chuvas, que reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas. A mais afetada foi a usina de Guri, que responde por 70% do abastecimento. O Estado de Roraima, que importa energia elétrica da Venezuela, também foi prejudicado.

Sem investimentos em infraestrutura para enfrentar períodos de seca, o governo teve de recorrer ao programa de racionamento. Cidades ficam sem luz durante quatro horas a cada dois dias, em regime de rodízio. Em Caracas, a capital, o governo suspendeu o racionamento, mas só devido à pressão popular.

Chávez anunciou, em caráter emergencial, a criação de um fundo de US$ 1 bilhão para aumentar a produção das termelétricas e um novo programa de racionamento, que aliviaria as classes mais pobres. Ele conta ainda com o apoio do governo brasileiro, que vai enviar especialistas em "apagão" para ajudar na recuperação do setor elétrico.
 

Inflação

Outra ação polêmica foi a adoção de um novo sistema cambial. Desde o dia 8 de janeiro de 2010, a Venezuela possui duas taxas cambiais: 2,6 bolívares (moeda local) o dólar, para importações de produtos de primeira necessidade (como alimentos e remédios), e 4,3 bolívares o dólar para as demais transações comerciais.

A intenção é estimular a produção nacional e recuperar o país da crise financeira, que reduziu o PIB (Produto Interno Bruto) em 2,9% no ano passado, depois de cinco anos de crescimento consecutivos. Contudo, a maior circulação de dinheiro e o aumento da demanda fizeram com que os comerciantes aumentassem os preços dos produtos. A Venezuela tem hoje uma das maiores taxas de inflação do mundo, de 25% ao ano.

Para combater a alta dos preços, Chávez recorreu ao Exército. Fechou 1,9 mil estabelecimentos acusados de remarcar preços irregularmente e expropriou a cadeia de supermercados francesa Êxito.
 

Popularidade

Desde que assumiu a presidência, em 1998, Chávez vem recorrendo a sucessivas consultas populares para se manter no cargo. Esse tipo de socialismo, financiado pelos dólares conseguidos por meio da exportação de petróleo, conquistou aliados nos governos da Bolívia, do Equador e da Nicarágua, além da condescendência do Brasil.

Em 2007, Chávez sofreu sua primeira derrota nas urnas, no referendo que previa reeleição ilimitada. No ano passado, submetido à mesma consulta popular, conquistou o direito de se candidatar sucessivas vezes à Presidência. Dessa forma, garantiu a candidatura, em 2012, a mais seis anos de mandato.

Contudo, a popularidade, que se encontra abaixo dos 50% de aprovação, pode atrapalhar os planos do presidente venezuelano.

Direto ao ponto

Desde o começo de 2010 o presidente venezuelano Hugo Chávez vem enfrentando críticas, protestos e queda de popularidade. Isso se deve, principalmente, a três medidas polêmicas:

* Cancelamento da transmissão de seis canais de TV a cabo.

* Programas de racionamento de energia elétrica.

* Novo regime cambial e desvalorização da moeda.

A suspensão das atividades das TVs a cabo foi o estopim de violentos protestos de rua que dividiram o país. As emissoras foram punidas por não acatarem um decreto que as obriga a transmitir os discursos presidenciais na íntegra. O racionamento de energia elétrica - provocado pela seca e por falta de investimentos no setor - deixa todas as cidades até quatro horas sem luz, a cada dois dias, em sistema de rodízio. Chávez também adotou um novo regime cambial - para reduzir importações e estimular a indústria nacional -, mas provocou crescimento da demanda e aumento dos preços, fatos que poderão piorar os índices de inflação, que já se encontram entre os mais altos do mundo.

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