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Crise na Tunísia - Levantes ameaçam regimes árabes

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Pela primeira vez na história, um líder árabe foi deposto por força de movimentos populares. Isso aconteceu na Tunísia, país mulçumano localizado ao norte da África. O presidente Zine Al-Abdine Bem Ali renunciou em 14 de janeiro após um mês de violentos protestos contra o governo. Ele estava há 23 anos no poder.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Há décadas que governos árabes resistem a reformas democráticas. Agora, analistas acreditam que a revolta na Tunísia pode se espalhar por países do Oriente Médio e ao norte da África. O Egito foi o primeiro a enfrentar manifestações inspiradas pela “revolução do jasmim” (flor nacional da Tunísia).

O novo ativismo no mundo árabe é explicado pela instabilidade econômica e pelo surgimento de uma juventude bem educada e insatisfeita com as restrições à liberdade

Na Tunísia, os protestos começaram depois da morte de um desempregado em 17 de dezembro do ano passado. Mohamed Bouazizi, 26 anos, ateou fogo ao próprio corpo na cidade de Sidi Bouzid. Ele se autoimolou depois que a polícia o impediu de vender frutas e vegetais em uma barraca de rua.

O incidente motivou passeatas na região, uma das mais pobres da Tunísia, contra a inflação e o desemprego. A partir daí, o movimento se espalhou pelo país e passou a reivindicar também mudanças políticas.

O governo foi pego de surpresa e reagiu com violência. Estima-se que mais de 120 pessoas morreram em confrontos com a polícia. Na capital Tunis foi decretado estado de emergência e toque de recolher. Mesmo assim, milhares de manifestantes tomaram as ruas.

Ben Ali foi o segundo presidente da Tunísia desde que o país se tornou independente da França, em 1956. Ele ocupava o cargo desde 1987, quando chegou à presidência por meio de um golpe de Estado. Em 2009, foi reeleito com quase 90% dos votos válidos para um mandato de mais cinco anos.

Depois de dissolver o Parlamento e o governo, Bem Ali deixou o país junto com a família, rumo à Arábia Saudita. No seu lugar, assumiu o primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, um aliado político. Por isso, na prática, o regime foi mantido, e os manifestantes continuam em frente ao Palácio do Governo. Eles exigem a saída de todos os ministros ligados ao ex-presidente, que ainda ocupam cargos-chave no governo de transição.
 

Egito

Sob certos aspectos, a Tunísia é o país mais europeu do continente africano, com classe média e liberal, alta renda per capta e belas praias mediterrâneas. Mas também possui um dos governos mais corruptos e repressivos de toda a região. A história do país é parecida com as demais nações árabes: foi domínio otomano, colônia europeia e, depois, ditadura. A falta de liberdades civis em países como a Tunísia sempre foi compensada por progresso econômico. Crises recentes como a do Irã, desencadeadas por jovens descontentes com os rumos econômicos e políticos do país, mostram que a população chegou ao seu limite.

Há o risco da revolta se espalhar por países vizinhos como Egito, Líbia, Síria, Iêmen, Omã, Jordânia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Na Líbia e em Omã, por exemplo, o ditador Muammar Gaddafi e o sultão Qaboos bin Said, respectivamente, estão no poder há mais de 40 anos.

Os primeiros protestos inspirados pela Tunísia aconteceram no Egito. Em 25 de janeiro, policiais e manifestantes entraram em choque nas ruas da capital Cairo. Eles pediam a saída do presidente Hosni Mubarak, há 30 anos no comando. Pelo menos quatro pessoas morreram.

O movimento, chamado "dia da revolta" foi inspirado pela "revolução do jasmim" e organizado por meio do Twitter e do Facebook, a exemplo dos protestos iranianos, ocorridos em 2009.

Não se sabe, por enquanto, quais as consequências destes distúrbios em países como o Egito. O impasse também persiste na Tunísia, onde, até agora, o regime persiste, mesmo com a saída do presidente. A ausência de lideranças políticas deixa o país sem alternativas para compor um novo governo. Mas pelo menos um tabu foi quebrado, numa região em que ditadores só eram depostos mediante golpes de Estado ou invasões estrangeiras.

Direto ao ponto

O presidente da Tunísia, Zine Al-Abdine Bem Ali renunciou em 14 de janeiro após um mês de violentos protestos contra o governo. Ele estava há 23 anos no poder. Foi a primeira vez que um líder árabe foi deposto por força de movimentos populares. Analistas acreditam que a revolta na Tunísia pode se espalhar por países do Oriente Médio e ao norte da África.

O Egito foi palco de manifestações inspiradas pelas da Tunísia, no dia 25 de janeiro. O novo ativismo no mundo árabe é explicado pela instabilidade econômica e pelo surgimento de uma juventude bem educada e insatisfeita com as restrições à liberdade Na Tunísia, os protestos começaram depois que Mohamed Bouazizi, 26 anos, ateou fogo ao próprio corpo na cidade de Sidi Bouzid, em 17 de dezembro do ano passado. Ele fez isso depois que a polícia o impediu de vender frutas e vegetais em uma barraca de rua. O governo tunisiano foi pego de surpresa e reagiu com violência. Estima-se que mais de 120 pessoas morreram em confrontos com a polícia. O primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, aliado político de Bem Ali, assumiu o cargo no governo provisório. Por isso, na prática, o regime foi mantido, e os protestos continuam.

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