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Sucessão e Venezuela - O que eles têm a ver com a reaproximação de EUA e Cuba?

16.jan.2015 - Cubano acena de sua varanda decorada com bandeiras dos EUA e de Cuba, em Havana - Yamil Lage/ AFP
16.jan.2015 - Cubano acena de sua varanda decorada com bandeiras dos EUA e de Cuba, em Havana Imagem: Yamil Lage/ AFP

Andréia Martins

Da Novelo Comunicação

Poucos dias antes do final de 2014, o presidente norte-americano Barack Obama anunciou que retomaria as relações diplomáticas com Cuba. Foi o primeiro passo para colocar fim ao embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos contra o país em 1962, depois do fracasso da invasão à ilha para tentar derrubar o regime de Fidel Castro, um ano antes.

O anúncio do “descongelamento” das relações diplomáticas entre os países, 53 anos depois do embargo, aponta para novos rumos numa relação conturbada, já que os dois países defendem diferentes modelos econômicos e formas de governo.

Cuba vive um regime socialista desde 1959, quando ocorreu a Revolução Cubana. O regime caracterizou-se pela implantação de uma série de programas assistencialistas sociais e econômicos, que incluíam a alfabetização e o acesso à saúde universal. O país recebeu o apoio soviético, quando ainda ocorria a polarização entre a antiga União Soviética e os EUA na Guerra Fria, o que fez com que o país se distanciasse ainda mais dos norte-americanos.

No entanto, antes da revolução o cenário do país era o inverso. Cuba dependia economicamente dos EUA, era um lugar com cassinos e bordéis muito frequentados pela máfia e por fuzileiros estadunidenses. Mas a população vivia em extrema pobreza. O analfabetismo, que, segundo o governo do país, foi zerado após a revolução, chegava a quase um quarto da população. A área da saúde, pela qual o país se destaca atualmente, também era precária.

Com a nacionalização de refinarias de petróleo norte-americanas e o alinhamento ao bloco soviético, Cuba declarou-se comunista. A partir de então, o país começou a sofrer retaliações econômicas dos EUA, até o decreto do embargo total.

A atual reaproximação dos EUA foi negociada com o presidente de Cuba, Raúl Castro. O cubano afirmou que o país não está disposto a mudar o sistema político, ou seja, não renunciará ao socialismo. Castro, que substituiu seu irmão Fidel, em 2008, no comando da ilha, realizou uma série de reformas econômicas que o governo definiu como um “processo gradual de descentralização”.

Mas, embora a decisão tenha sido uma surpresa para muitos governantes e as duas populações, a questão principal era: por que essa reaproximação aconteceu justo agora?

Alguns elementos ajudam a entender o movimento para essa mudança. Entre eles, o envelhecimento dos irmãos Castro, no poder desde a Revolução Cubana, e tanto de seus apoiadores como opositores, o que irá alterar o cenário político da ilha em breve, com lideranças surgindo e dando novos rumos ao país.

A morte do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez também foi um elemento motivador para os cubanos. A Venezuela era um país mais do que aliado de Cuba desde meados da década de 1990, quando a ilha perdeu o apoio econômico dos socialistas com a dissolução da União Soviética em 1991.

A relação comercial entre os países contemplava ajuda ao desenvolvimento, troca de bens a baixo custo, realização de empreendimentos conjuntos, troca de recursos energéticos e tecnologia da informação, além de cooperação nas áreas de serviço de inteligência e militares.

O clima de instabilidade política na Venezuela após a morte de Chávez, agora nas mãos de seu sucessor, Nicolas Maduro, -- o país tem conflitos entre diferentes correntes chavistas, forte oposição dos contrários ao governo e enfrenta uma crise devido à queda no preço do petróleo -- foi transferido para Cuba, que viu seu antigo parceiro sem condições políticas e econômicas de oferecer o mesmo apoio que antes.

Na estimativa do governo cubano, mais de meio século de embargo provocaram a perda de aproximadamente US$ 1,1 trilhão. Agora, precisando de mais investimentos para o país, o que antes era renegado (aproximar-se dos EUA) pareceu ser a melhor saída. Para ambos.

Além de ampliar o mercado norte-americano, a decisão do governo Obama melhora a percepção externa dos EUA na América Latina, ganha a simpatia de cubanos exilados e com poder decisivo de voto no Estado da Flórida e pode conquistar o eleitorado latino para o candidato democrata na disputa presidencial de 2016.

Fora questões políticas e econômicas, a reaproximação dos países impacta a vida da população cubana, de forma mais intensa, e também dos norte-americanos. Entre os objetivos do plano de reaproximação estão itens como melhorar o livre fluxo de informação "para, desde e entre a população cubana" e a permissão para o envio trimestral de remessas financeiras de indivíduos nos EUA para Cuba serão ampliadas de US$ 500 para US$ 2 mil.

Além disso, os EUA receberão autorização para exportar mais produtos para Cuba, como material de construção civil e equipamentos de agricultura; empresas norte-americanas terão permissão para abrir contas em bancos cubanos; cartões de crédito e débito de bandeiras norte-americanas serão aceitos em Cuba, e empresas de telecomunicação e internet dos EUA deverão ter mais liberdade para operar na ilha. Há a expectativa de que a ilha passe a receber mais turistas dos EUA.

 

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