URSS - O fim - Boris Ieltsin e o fim do regime socialista na Rússia
O ex-presidente russo Boris Ieltsin, morto a 23 de abril de 2007, foi protagonista de um dos fatos mais importantes da recente história mundial: o fim da União Soviética. Esse Estado se originou da revolução socialista na Rússia, em 1917, e se estabeleceu em 1922, ao fim de uma longa guerra civil.
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (CCCP, em russo) tornou-se uma federação de 15 repúblicas multiétnicas, sob supremacia russa. Foi o primeiro país do mundo a adotar esse regime político-econômico e, nesse sentido, um imenso laboratório onde se puseram a prova as teorias do socialismo científico.
Porém, ao contrário do que preconizava Karl Marx, cujas idéias orientaram os socialistas russos, a revolução que deveria a acabar com a sociedade de classes e instituir uma utopia igualitária, a partir da ditadura do proletariado, transformou-se rapidamente na ditadura de um partido único, nas mãos de suas primeiras lideranças, Lênin e, depois, Stálin.
Sob o governo deste último, a política se transformou num monopólio do Partido Comunista da União Soviética, a ditadura intensificou seu caráter autoritário e repressivo e desenvolveu-se o culto à personalidade. Isto é, Stálin foi endeusado e identificado pela população com o próprio Estado soviético.
Entretanto, o endurecimento do regime stalinista talvez seja um dos fatores que permitiu à União Soviética a enfrentar a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Da guerra, a URSS emergiu como superpotência militar. Nessa condição, até os anos 1980, disputou com os Estados Unidos da América a hegemonia do poder mundial.
Fracasso do planejamento
Na União Soviética, partir da década de 1970, o planejamento econômico, pilar do regime socialista (por oposição ao livre-mercado) começou a dar sinais de esgotamento. O controle rígido da economia pela burocracia estatal gerou estagnação em vez de crescimento. O Estado determinava o que e quanto produzir, onde comprar matérias-primas, qual o preço das mercadorias e o salário dos trabalhadores.
Os burocratas do partido só se preocupavam em cumprir as metas estabelecidas. A falta de concorrência levava ao desinteresse por um aprimoramento da qualidade dos produtos, bem como não havia motivo para oferecer à população uma grande variedade de bens de consumo - considerados luxos burgueses. Os grandes investimentos se destinavam à indústria bélica, para fazer frente aos Estados Unidos.
Aos poucos, o desabastecimento até de mercadorias de primeira necessidade tornou-se a regra da economia soviética. Ficaram mundialmente famosas as longas filas e os cartões de racionamento para a compra de pão ou leite. Paralelamente, desenvolveu-se um mercado negro e a corrupção começou a se generalizar no governo do país, cujas lideranças gozavam de privilégios e mordomias.
Perestroika e glasnost
Nesse pano de fundo, em 1985, subiu ao poder Mikhail Gorbatchov, aos 54 anos de idade. Tratava-se de um governante muito jovem pelos padrões da burocracia soviética. Tratava-se também de um político que via necessidades de reformas para evitar o colapso de seu país.
Gorbatchov procurou promover uma reestruturação ("perestroika", em russo) da economia, desmilitarizando-a e descentralizando-a. Introduziu elementos da economia de mercado na União Soviética, abrindo-a ao capital estrangeiro, promovendo privatizações e fechando empresas deficitárias. Nesse sentido, talvez tentasse repetir a Nova Política Econômica, com que Lênin, nos anos 1920, reintroduziu elementos capitalistas na economia soviética para preservar o regime.
Ao contrário de seu ilustre antecessor, Gorbatchov promoveu simultaneamente uma abertura política, a que chamou de "glasnost" (transparência, em português). Com ela, restabeleceu-se o pluripartidarismo, aboliu-se a censura, e libertaram-se presos políticos, além de se incentivar a liberalização dos regimes dos países do Leste Europeu, onde a economia planejada também fracassava e a insatisfação popular aumentava dia a dia.
No entanto, as medidas não foram suficientes para reverter a crise econômica do país e Gorbatchov começou a perder popularidade. Aproveitando-se disso, antigas lideranças do Partido Comunista aliados a chefes militares tentaram dar um golpe de Estado em agosto de 1991.
Ieltsin e a resistência
Foi justamente Boris Ieltsin quem assumiu a liderança da população contra o golpe, entrincheirando-se no Parlamento soviético e mostrando-se determinado a resistir da maneira que fosse necessária. Diante dessa inesperada reação popular, os golpistas acabaram por libertar Gorbatchov que retomou o comando da União. Ieltsin, por sua vez, foi eleito presidente da Rússia, a principal das repúblicas soviéticas.
Em momentos de ruptura, o ritmo dos acontecimentos históricos se aceleram: em setembro de 91, a Lituânia, a Estônia e a Letônia se proclamaram independentes da União Soviética. Em dezembro do mesmo ano, a Rússia, a Ucrânia e a Bielo-Rússia (atual Belarus) se reuniram numa Comunidade de Estados Independentes. Diante disso, na prática a União Soviética não existia mais. Gorbatchov renunciou e declarou a extinção da URSS no último dia do ano.
Presidência de Ieltsin
Ieltsin conseguiu manter-se à frente do governo russo até 1999, mas sua gestão destruiu a imagem heróica de estadista que adquirira com os acontecimentos que puseram fim a URSS. Exerceu o poder de maneira autoritária e populista, não conseguindo resolver os problemas da Rússia: pelo contrário, o país mergulhou no caos econômico e o crime organizado se desenvolveu intensamente.
Enfraquecido no plano político e com a saúde abalada (também devido aos seus excessos alcoólicos que se tornaram notórios), Ieltsin renunciou em 31 de dezembro de 1999, nomeando para seu lugar Vladimir Putin.
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