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Tecnologia - uso de drones dispara e equipamentos prometem mudar o mundo

11.jul.2015 - O site Dronestagram realizou a segunda edição do prêmio "Drone Photography Contest", que escolhe as melhores fotos feitas por drones. - Reprodução/Virgula
11.jul.2015 - O site Dronestagram realizou a segunda edição do prêmio "Drone Photography Contest", que escolhe as melhores fotos feitas por drones. Imagem: Reprodução/Virgula

Por Carolina Cunha

Da Novelo Comunicação

Pontos-chave

  • Drones são veículos não tripulados, controlados à distância.
  • Esses equipamentos já são usados há muito tempo na área militar, mas nos últimos anos, viraram uma febre para as mais diversas finalidades.
  • A segurança do espaço aéreo e a garantia de privacidade da população são questões que preocupam a população em relação aos drones. 

Elas são leves, voam em uma altura que os helicópteros não alcançam, entram em espaços considerados pequenos e fazem manobras com facilidade. Mas não são aviões. As aeronaves remotamente pilotadas (RPAs), mais popularmente conhecidas como drones, são máquinas voadoras operadas a distância por controle remoto.

Os drones aéreos surgiram durante a Segunda Guerra Mundial e buscavam evitar mortes de soldados em operações de risco. Durante a Guerra Fria, foram usados pelas Forças Armadas dos Estados Unidos em operações de espionagem. Na Guerra do Iraque, em versões modernizadas, foram usados para bombardeios.

Em 2014, o presidente Barack Obama anunciou que os EUA passariam a utilizar drones em operações antiterroristas para combater grupos jihadistas em países como a Síria, Afeganistão, Somália e Iêmen. Na última década, a frota de drones dos EUA aumentou de 50 para mais de 7 mil aeronaves, incluindo minidrones e drones sem armas, que podem ser pilotados a partir de bases norte-americanas.

Cientistas apostam em uma terceira revolução na tecnologia bélica (depois da pólvora e das armas atômicas) na qual a guerra passa a se fazer por automação e inteligência artificial, com drones terrestres, marítimos e subterrâneos. Seu uso militar promete “uma guerra sem combate”. Segundo David Deptula, um oficial da força aérea norte-americana, a verdadeira vantagem deles é “projetar poder sem projetar vulnerabilidade”, ou seja, não é necessário enviar tropas e coloca-las em risco.

Para o filósofo francês Grégoire Chamayou, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica francês, o drone bélico propõe um dilema ético: o ataque só coloca em risco a vítima e estabelece uma distância entre a violência e o campo de comando. Em um cenário tradicional de conflito, os lados envolvidos estão tecnicamente vulneráveis a ataques físicos no campo de batalha. No ataque de um drone, as vítimas são apenas de um lado e o operador pode voltar pra casa como se nada tivesse acontecido. Por não estar presente, ele sentiria uma menor “responsabilidade” por um ato letal. 

Daí surge outra questão ética: se um drone matar um civil por acidente, de quem é a culpa? Em 2010, a ONU (Organização das Nações Unidas), alertou contra o uso de drones na guerra. A ONU destacou os riscos dos operadores de drones se desligarem do contexto por estarem em estações longe do conflito e recomendam uma maior atenção à sua formação psicológica.
Nos últimos anos, a tecnologia de drones evoluiu e esses “robôs voadores” começaram a se tornar menores e relativamente baratos, conquistando o mercado civil. Seu uso mais conhecido é na captação de imagens aéreas para fotografia e vídeos, quando o equipamento voa com câmera acoplada, trazendo diferenciais como a capacidade de aproximação e ângulos inusitados em produções cinematográficas, publicitárias e jornalísticas. Mas o uso do drone mudará radicalmente em pouco tempo e suas possibilidades parecem ser infinitas.

A Lux Research, empresa norte-americana que presta consultoria em pesquisas de mercado, estima que mais de 1 milhão de drones deverão ser comercializados no mundo até 2025. No Brasil, a expectativa de faturamento do setor é de R$ 220 milhões em 2016, segundo um estudo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

E tudo isso apenas para captar imagens? Não. Esses equipamentos também podem ter um papel estratégico no ramo de transportes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a empresa Amazon vem testando essas aeronaves como entregadores em larga escala, com capacidade para levar uma carga de até 25 kg. A empresa quer entregar produtos nas casas dos consumidores norte-americanos em apenas 30 minutos. Em 2016, uma empresa chinesa desenvolveu o protótipo Ehang 184, o primeiro drone criado para levar passageiros. O veículo autônomo é semelhante a um mini-helicóptero, consegue carregar até 100 Kg e voa a uma altura de 11 mil pés.

Além destas utilidades, drones ainda têm um diferencial: podem chegar com mais facilidade a locais com condições adversas a seres humanos. Esses equipamentos já foram utilizados em operações de busca e salvamento em Fukushima, no Japão, após acidente nuclear de 2011, provocado pelo tsunami que atingiu a costa do país. Os drones também já foram testados por bombeiros para apagar incêndios e em missões humanitárias para entregar de medicamentos e vacinas em áreas de difícil acesso.

Alguns projetos de combate ao crime já inserem esses equipamentos na rotina. Na Espanha, a polícia usa drones para patrulhar praias turísticas e identificar várias situações de risco. Eles podem detectar banhistas em dificuldade, embarcações à deriva e incêndios na vegetação costeira. No Brasil, O Ministério do Trabalho e Emprego anunciou que começará a usar drones para combater o trabalho análogo à escravidão no meio rural.

No campo, diversos projetos começaram a monitorar extensas áreas rurais por drones equipados com softwares inteligentes, que buscam coletar e processar dados de precisão. Por exemplo, empresas usam as imagens captadas pelo equipamento para observar falhas na lavoura, identificar ataques por pragas e outros problemas de solo.

As aeronaves também estão sendo usadas para pulverizar agroquímicos na agricultura de larga escala. Esses defensivos químicos, em geral, são pulverizados manualmente sobre as lavouras ou com o auxílio de tratores. Protótipos de drones mostraram-se eficazes ao liberar quantidades controladas de agroquímicos em áreas predeterminadas, levando em conta aspectos meteorológicos e as rotas calculadas pelo seu sistema de GPS. Desta forma, realizam uma pulverização mais segura e eficiente, capaz de melhorar a cobertura da aplicação e a qualidade do processo de cultivo.

Os aparelhos não tripulados também são úteis na gestão de áreas protegidas e no monitoramento de florestas em recuperação. Um projeto da ONG WWF conseguiu evitar a atividade de caçadores sobre rinocerontes e elefantes em áreas protegidas na África. No Brasil, a ONG realiza o monitoramento de florestas e sua regeneração em matas ciliares no município de Lençois (SP). E no Parque Estadual do Cantão (TO), drones são usados pelo Instituto Araguaia para fiscalizar a pesca irregular.

Segurança, vigilância e privacidade

Durante a abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, um drone sobrevoou o espaço aéreo do Estádio Maracanã e mobilizou militares da Força Nacional de Segurança. Militares se prepararam para abatê-lo, entretanto, ele se afastou e não foi mais localizado. Por medida de segurança, os aparelhos foram proibidos de voarem em toda a região do Rio de Janeiro durante a realização do evento.

Um objeto não identificado sobrevoando cidades gera receio por parte dos órgãos governamentais. Isso porque, dependendo do motivo pelo qual é usado, os drones podem atrapalhar o tráfego aéreo, provocando acidentes, ou funcionar como um instrumento de espionagem e ataque.

Outra questão é a garantia de privacidade da população. A vigilância dessas máquinas voadoras praticamente favorece ver sem ser visto. E nas mãos erradas, drones podem “espionar” propriedades e pessoas em locais privados, gravando de tudo e sem a autorização de quem é filmado. O problema pode piorar no futuro. Engenheiros já projetam uma nova geração de drones ainda menores, parecidos com insetos e pequenos pássaros, o que permitiria que a vigilância fosse feita de maneira ainda mais despercebida.

A tecnologia anda mais rápida do que a legislação e controlar os passos e os usos desses aparelhos ainda não é uma tarefa simples. No Brasil só o uso de drones para o aeromodelismo é autorizado, mas a fiscalização é precária. Para outras operações, é necessário autorização. Este documento reúne outras informações sobre qual deve ser a velocidade do equipamento, altura e outras especificações.

Entre os requisitos estão o de informar a Força Aérea Brasileira (FAB) com antecedência de 30 dias antes de cada voo, manter pelo menos 5,5 Km de distância de aeroportos e sobrevoar pessoas e prédios com no mínimo 30 metros de distância. Usar um drone sem autorização pode render penalidades que constam no Código Brasileiro de Aeronáutica e vão desde multa (de R$ 800 a R$ 30 mil), à detenção, interdição ou apreensão do drone.

O próximo passo será a regulação na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), cujo processo ainda está tramitando. A Anac entende que pilotos de drones que comandam aeronaves com mais de 25 quilos deverão ter uma licença e autorização oficial. A regulamentação deve facilitar as regras para quem trabalha com filmagens aéreas e máquinas pequenas.

Outros países também estão criando novas leis sobre o assunto. Em 2015, os EUA anunciou um regulamento para garantir o uso seguro dos artefatos com fins recreativos. O cidadão americano que tenha um drone com peso até 25 quilos deverá registrar o aparelho antes de começar a usá-lo ao ar livre. Não comunicar os dados do artefato e o contato de seu proprietário pode levar a multas de até 250.000 dólares e três anos de prisão. Ao lançar a nova regra, Anthony Foxx, secretário de Transportes disse “Não se engane: os entusiastas de aparelhos não tripulados são aviadores, e isso traz consigo uma grande responsabilidade”.

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