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Sustentabilidade - a ascensão do automóvel elétrico

AP Photo/General Motors
Imagem: AP Photo/General Motors

Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação

Em 1996, um carro chamado EV1 circulou pela Califórnia sem emitir poluentes. Chamado de “Carro do Futuro”, ele funcionava a energia elétrica e tinha autonomia para rodar 260 quilômetros. Era considerado o modelo elétrico mais rápido e eficiente já construído.

O promissor carro da General Motors tinha potenciais compradores, mas a empresa fabricante preferiu recolher e destruir todos os veículos, despedir os trabalhadores e dar fim ao projeto. Afinal, a grande dúvida é: por que o EV1 teve um período de vida tão curto?  A história é contada no documentário “Quem Matou o Carro Elétrico?”, lançado em 2006.

Segundo analistas, o nascimento deste novo tipo de veículo incomodou muitas pessoas, empresas e principalmente o cartel da indústria do petróleo, que temia perder o monopólio do mercado da gasolina e do diesel. O EV1 se tornou lendário, um símbolo da falta de políticas e incentivos para essa tecnologia. 

A vida nas metrópoles depende de meios de transporte. Muitas inovações aconteceram nesse setor. O automóvel elétrico não é necessariamente uma novidade. Ele foi inventado em 1830. Depois, cidades passaram a ter linhas de transmissão para bondinhos elétricos, que foram desmanteladas posteriormente.

Apesar da tecnologia existente, o século 20 foi marcado pelo petróleo como principal combustível, tanto que chegou a ser chamado de “ouro negro”. Mesmo após a Crise do Petróleo (1973-1980), em vez de investir em pesquisas e na diversificação de tipos de combustíveis, o mundo continuou apostando na gasolina. O carro elétrico parecia fadado aos filmes de ficção científica ou a projetos experimentais. Mas a tendência é que essa história mude. 

O avanço desses carros acontece em grande escala nos países mais desenvolvidos. Em todo o mundo, 1% dos veículos vendidos hoje são elétricos e circulam principalmente nas estradas da Europa, Estados Unidos, Japão e China. Isso é apenas o começo. As próximas décadas serão de grande crescimento para o setor.

Segundo o relatório Global EV outlook 2017, produzido pela The International Energy Agency,  a frota de carros elétricos chegará a 20 milhões em 2020. O boom deve acontecer em 2025, quando chegará a 70 milhões.  Para a consultoria Morgan Stanley, os veículos de passeio movidos a eletricidade deverão representar 16% da frota mundial até 2030.

Um dos motores desse crescimento será a China, que representa o maior mercado de veículos do mundo. Este ano, o país vai estabelecer um prazo para que sejam finalizadas as vendas de veículos movidos a combustíveis fósseis pelas montadoras. Atualmente, 40% dos carros elétricos do mundo são chineses.

A Europa também está na frente dessa corrida e cria novas políticas para o setor. Recentemente, autoridades francesas e britânicas anunciaram a intenção de proibir a venda de modelos que rodam com gasolina ou diesel a partir de 2040. Na Alemanha, o banimento está previsto para 2030 e na Holanda, para 2025.

Um veículo para um mundo com problemas ambientais

Quais são os fatores por trás desse crescimento?  As razões são econômicas e ambientais. O mercado de petróleo já não oferece tanta rentabilidade como no passado e existe a previsão de esgotamento de muitas reservas petrolíferas. Além disso, o alto preço da gasolina nas bombas afasta o consumidor do desejo de adquirir um carro particular e causa revolta em relação ao valor das passagens do transporte coletivo.

Mas o principal fator de mudança é a pressão dos países desenvolvidos para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa (GEE), responsáveis pelo aquecimento global, o aumento da temperatura média do planeta.  Os motores de veículos movidos a combustíveis fósseis respondem por um quinto de toda a emissão de dióxido de carbono (CO2) do mundo.

Além disso, a fumaça liberada pelo escapamento dos veículos tradicionais é a principal causa da poluição no ar das cidades e responsável por graves problemas de saúde na população. Na cidade de São Paulo, por exemplo, o ar possui três vezes mais partículas poluentes do que o limite considerado seguro pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Já nos carros elétricos, a emissão direta de poluentes é nula ou muito reduzida. Além de serem mais limpos para o meio-ambiente, os carros elétricos são mais silenciosos e provocam menos ruídos de trânsito. Como não precisa das explosões, o motor não faz nenhum barulho. Essas características que ajudariam a melhorar a qualidade de vida de uma cidade.

Independentemente do que aconteça com o clima do planeta nos próximos anos, a assinatura de tratados como o Acordo de Paris fará com que o mundo reduza drasticamente as emissões de carbono e caminhe para um cenário com matrizes energéticas mais limpas. 

Governos de diversos países já oferecem incentivos para estimular a produção e o uso do carro elétrico, como a redução de impostos e leis específicas. Além disso, existe o investimento em infraestrutura, como a instalação de pontos de abastecimento públicos para a recarga elétrica.

Apesar de ser considerado um veículo limpo, críticos avaliam que a “pegada” de carbono de um combustível deve levar em consideração a origem da energia elétrica. Nos Estados Unidos, a maior parte da energia vem da queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o gás natural.

Modelos de carros elétricos e desafios

Já imaginou plugar o carro na tomada para “abastecer”? Os carros elétricos são classificados segundo a forma de suprimento de energia. Os puros empregam apenas baterias como fonte de energia. Os híbridos têm pelo menos um motor elétrico e um motor a combustão interna. Existe ainda o híbrido plug-in, que traz dois motores distintos e pode ser alimentado tanto com combustíveis tradicionais como a partir da rede elétrica.

A bateria é uma das partes mais caras do carro elétrico. Uma bateria de lítio chega a custar 50 mil dólares no mercado. Por isso, os modelos elétricos ainda são considerados “carros de luxo” pela maioria da população. A fabricação em massa poderia baratear os custos.

Um dos carros mais falados dos últimos tempos é o Model 3, da Tesla. Em junho deste ano, a empresa lançou seu primeiro modelo de carro elétrico "popular". O veículo custa a partir de 35 mil dólares nos Estados Unidos. Por seu preço competitivo, analistas avaliam que o lançamento poderá impactar a indústria automobilística do país e aumentar os investimentos no setor.

Outro desafio do carro elétrico é a autonomia do passageiro. Mesmo com 100% de energia, uma bateria raramente consegue rodar mais de 300 quilômetros entre uma recarga e outra. Por isso, os carros elétricos da atualidade são ideais para uso urbano. Seria necessário o investimento em infraestrutura de pontos de abastecimento para que o carro consiga percorrer longas distâncias. Segundo a consultoria Morgan Stanley, em 2030, a Europa vai precisar de até três milhões de pontos como esse.

Fatores como esses ainda são entraves para a massificação do carro elétrico. Apesar desses desafios, investimentos em pesquisa e desenvolvimento estão diminuindo os custos de fabricação dos carros elétricos e aumentando a eficiência das baterias.

Existem ainda projetos que transformam luz solar em eletricidade, a partir de painéis fotovoltaicos instalados na lataria dos veículos. As baterias seriam recarregadas por energia solar, o que seria útil em países de alta incidência solar. A tecnologia para esse tipo de modelo deve se tornar viável apenas nas próximas décadas.

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