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Poluição - Superfície da Terra está dominada por partículas de plástico

Concentração de plástico e materiais descartados é vista flutuando no Oceano Pacífico - NOAA
Concentração de plástico e materiais descartados é vista flutuando no Oceano Pacífico Imagem: NOAA

Carolina Cunha

Da Novelo Comunicação

A Terra é uma grande superfície de plástico. Restos de embalagens, sacolinhas de supermercado, garrafas pet, celulares, computadores, baldes, brinquedos, material de construção civil e outros produtos estão em todos os cantos do planeta, incluindo as profundezas dos oceanos e dos rios.

Uma pesquisa da Universidade de Leicester publicada em janeiro deste ano pela revista científica Anthropocene mostrou que desde a Segunda Guerra Mundial a humanidade já produziu plástico suficiente para revestir toda a Terra.

Ao ar livre, o sol se encarrega de quebrar os fragmentos de plástico em pedaços cada vez menores. No entanto, os polímeros que os compõem ficam na atmosfera. Segundo a pesquisa, boa parte dessa poluição está se espalhando pelo solo, ar e água em formato de grãos microscópicos altamente nocivos e que percorrem distâncias surpreendentes na superfície do planeta. Os grãos são encontrados nas cidades, na zona rural, nos oceanos, nas camadas polares e até em lugares remotos de todos os continentes.

O plástico tradicional é produzido a partir do petróleo. Nos últimos 50 anos, o consumo do material no mundo aumentou em 20 vezes. Cerca de 311 milhões de toneladas são produzidas a cada ano. Até o final deste século, a estimativa é que o planeta receba 30 bilhões de toneladas de plástico. O impacto no planeta será colossal, segundo os cientistas.

A capacidade de reciclagem do plástico é muito baixa se comparada a outros materiais como o vidro e o papel. Uma sacola plástica, por exemplo, pode demorar até 500 anos para se decompor na natureza. Já a garrafa pet pode demorar até 200 anos. Alguns polímeros são considerados praticamente indestrutíveis.

O estudo da Universidade de Leicester conclui que a presença dessas moléculas representa o marco de uma nova era geológica. A confirmação dessa tese poderá pôr fim ao período do Holoceno, que teve início há 12 mil anos, e marcar o início do Antropoceno.

A tese estudada por geólogos avalia se as atividades humanas estão alterando a geologia do planeta, como a radiação e as emissões de gases de efeito estufa. Segundo eles, o período Antropoceno já começou. E a presença de plásticos que alteraria o equilíbrio do planeta seria um dos motivos.

Quando muitos animais e plantas são extintos em pouco tempo, a geologia considera que o fenômeno significa o início de outra era. O termo “Antropoceno” foi criado em 2000 por Paul Crutzen, químico atmosférico ganhador do Prêmio Nobel. Ele significa que as mudanças que estão acontecendo na atmosfera são movidas pela ação humana.

As ilhas de plástico nos oceanos

No meio do Oceano Pacífico, entre a Califórnia e o Havaí, existe uma gigantesca ilha feita inteiramente de lixo. Seu nome é popularmente conhecido como o “Grande Depósito de Lixo do Pacífico”.

Com aproximadamente o tamanho da Inglaterra, a ilha é formada por pedaços minúsculos de plástico que foram arrastados para um ponto de convergência de diversas correntes marinhas. Grande parte dos resíduos do Atlântico e do Índico também acaba se dirigindo para o Pacífico.

Por causa das correntes e dos ventos, o lixo fica encurralado girando em uma espiral gigantesca. Além do lixo que boia na superfície, as manchas têm camadas de resíduos com até 10 metros de profundidade.

A China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã são os países que contribuem com mais da metade da quantidade de lixo plástico no oceano Pacífico. Um dos motivos é a falta de gestão de resíduos nesses países em desenvolvimento. Além da poluição e do descarte de resíduos em cidades nas costas, os rios também carregam o material para o mar.

Mas essa ilha de lixo não é a única. Existem pelo menos outros quatro lixões oceânicos similares, além de algumas formações menores nos dois extremos dos polos do planeta. Há estimativas de que 10% de todo o lixo plástico – algo como 91 milhões de toneladas anuais – acaba nos oceanos. Ao chegar aos mares, a maior parte do material acaba afundando, mas cerca de um terço do total é arrastado para essas zonas de atração.

Se o consumo continuar em 2050, estudiosos acreditam que haverá mais plástico nos oceanos do que peixes. A consequência para a fauna é desastrosa. Uma vez que o plástico entra na água, aves, peixes tartarugas, baleias, focas e outros seres podem confundir o material com comida. Muitos deles podem morrer sufocados.

Os plásticos menores são facilmente ingeridos por esses animais que se encarregam de disseminar a contaminação via cadeia alimentar. Como as ilhas de plástico têm alta concentração de poluentes orgânicos persistentes, com o pesticida DDT e dioxinas, a sua toxicidade é bastante alta. Até mesmo os plânctons comem as micropartículas e absorvem suas toxinas. Ao comer peixes que passaram por essas regiões, o ser humano ingere também os produtos tóxicos absorvidos pelos animais.

Como combater esse problema ambiental? Limpar a área completamente seria muito difícil. O ideal seria que países cuidassem do descarte de forma responsável. Para complicar, ainda não existe um acordo global ou uma negociação internacional para reduzir o problema. Um dos entraves é a discussão sobre de quem é a responsabilidade.

Por enquanto, o jeito mais fácil é reduzir o consumo de plástico. Por exemplo, não usar sacolinhas plásticas no supermercado ou evitar o uso de canudinhos e bebidas engarrafadas. Outras medidas seriam empresas inovarem em tecnologia e mudarem suas matérias-primas para materiais recicláveis.

BIBLIOGRAFIA

Plástico Bem Supérfluo ou Mal Necessário?, de Eduardo Leite do Canto (Moderna)

Artigo O futuro dos plásticos: biodegradáveis e fotodegradáveis, de Alessandra Luzia Da Róz (Ufscar; 2003). Disponível online

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-14282003000400003

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