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Saúde - obesidade de crianças e adolescentes disparou em quatro décadas

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Imagem: Getty Images

Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação

A obesidade cresceu 11 vezes entre jovens nas últimas quatro décadas. É o que descobriu um estudo do Imperial College de Londres (Reino Unido) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa é considerada como o maior levantamento epidemiológico já feito.

Publicado em outubro na revista médica The Lancet, o estudo analisou aproximadamente 130 milhões de pessoas com mais de cinco anos em 200 países. Foram avaliados dados de 1975 a 2016, com informações sobre o peso, altura e índice de massa corporal.

A OMS define a obesidade com base no Índice de Massa Corporal (IMC) — calculado por meio da divisão do peso (em quilogramas) pelo quadrado da altura (em metros). Um indivíduo com um IMC de 25 pode ser considerado acima do peso, enquanto alguém com um IMC superior a 30 é considerado obeso.

Em 1975, cerca de 11 milhões de crianças e adolescentes estavam obesas no mundo. A prevalência de obesidade global em meninas saltou de 0,7% em 1975 para 5,6% em 2016. Em meninos, a alta foi ainda maior no mesmo período: saiu de apenas 0,9% para 7,8%.

Como consequência, 124 milhões de crianças e adolescentes entre 5 a 19 anos ao redor do mundo estavam obesos em 2016. Há ainda mais 213 milhões nessa faixa etária que apresentam sobrepeso e estão no limiar da obesidade.

Para a OMS, os dados do estudo revelam uma verdadeira epidemia global. O fenômeno do aumento de peso está acontecendo em todos os continentes, mas a tendência é mais preocupante nos países pobres e emergentes.

Enquanto os níveis estabilizaram em alguns países ricos da Europa, nos países em desenvolvimento os números sobem. As maiores taxas estão em territórios da Oceania como as Ilhas Cook, Kiribati e Samoa. Países como Índia, China, Arábia Saudita, África do Sul, México e Egito também têm assistido a grandes picos de obesidade infantil.

Se o crescimento das últimas décadas se mantiver, em 2022, ou seja, dentro de apenas quatro anos, o número de jovens obesos será pela primeira vez superior ao dos que não têm peso suficiente por má nutrição.

A obesidade é causada principalmente por um consumo excessivo de gorduras saturadas e trans como parte de hábitos alimentares e de um estilo de vida com pouca atividade física. Além disso, fatores genéticos também influenciam no desenvolvimento do problema.

Estimativas indicam que as pessoas obesas vivem de 2 a 10 anos a menos do que as mais magras. A infância e adolescência são períodos críticos do desenvolvimento. O excesso de peso em uma criança e a exposição precoce a determinados alimentos pode aumentar o risco de problemas de saúde na fase adulta como diabetes, doenças do fígado, hipertensão arterial e diversos tipos de câncer. 

Mais pessoas obesas do que abaixo do peso

Por outro lado, o estudo do Imperial College apontou que o número de crianças e adolescentes abaixo do peso vem diminuindo no planeta. Hoje são 192 milhões de jovens com peso insuficiente causado por deficiência alimentar. Dois terços deles se encontram na Ásia, que ainda possui países com altos índices de pobreza extrema.

Nos países emergentes, o baixo custo de alimentos industrializados ajudou a reduzir a fome. Mas a pesquisa descobriu que a transição nutricional de um quadro de insegurança alimentar para um ganho de peso, não significa que as famílias estejam comendo melhor. Na verdade, o consumo de alimentos gordurosos está elevando a desnutrição no mundo.

"Nossos dados mostram que a transição da insuficiência ponderal para o sobrepeso e a obesidade pode ocorrer rapidamente, em uma transição nutricional pouco saudável, com um aumento em alimentos pobres em nutrientes e altos em calorias", diz o relatório da pesquisa.

Fatores de influência

O estudo concluiu que as novas gerações de crianças e adolescentes estão ao mesmo tempo obesas e mal nutridas, comendo alimentos pouco saudáveis e nutritivos.

"Esta tendência preocupante, que está igualmente em curso em países de médios e baixos recursos, reflete o impacto do marketing alimentar e das políticas que tornam os alimentos saudáveis e nutritivos muito caros para as famílias e as comunidades pobres", afirma Majid Ezzati, pesquisador do Imperial College, que coordenou a investigação.

Segundo o levantamento, a partir da década de 1970 o mundo passou por mudanças drásticas de hábitos alimentares, produzindo uma rápida transição nutricional. O aumento da renda, a mecanização da produção e a globalização do comércio tornaram diversos alimentos industrializados mais baratos, como o óleo de cozinha, por exemplo.   

Cada vez mais gente saiu do campo e passou a viver nas cidades e a comer fora de casa. A publicidade e a necessidade da conveniência aumentaram o interesse por comida rápida e calórica, encontrada em redes de fast food e nos supermercados. O uso da tecnologia (computadores, videogames e celulares), o acesso a carros e a vida urbana também tornaram a sociedade mais sedentária.

Como consequência, crianças e adolescentes realizam menos atividades físicas e passaram a consumir cada vez mais alimentos que trazem em sua composição o açúcar, sódio, gorduras e carboidratos.

Refrigerantes sucos processados, bebidas açucaradas, biscoitos, salgadinhos fritos, massas, doces e sanduíches se tornaram parte da rotina de muitas famílias. Mesmo a merenda escolar é considerada pouco saudável em diversos países.

Segundo a pesquisa, nas nações em desenvolvimento se observa a redução do consumo de alimentos in natura e o aumento da compra de produtos processados e ultra processados.  Um dos principais motivos é o alto custo de alimentos saudáveis e nutritivos como cereais integrais, frutas, verduras e legumes frescos, que são considerados um “luxo” para a maioria das famílias pobres. Já alimentos altamente calóricos e industrializados estão cada vez mais baratos.

Mas os motivos não são apenas econômicos. O consumo de alimentos calóricos também está associado a fatores culturais como o status (poder comprar comida) e a percepção de que os alimentos industrializados são mais saborosos. 

A OMS recomenda que os países adotem políticas para combater a obesidade infantil. As principais orientações são promover a redução drástica do consumo dos alimentos baratos e com altos teores de calorias e gorduras, aumentar o aleitamento materno, promover o acesso à informação nutricional e a atividade física regular.  Alguns pesquisadores também defendem a adoção de impostos maiores para alimentos industrializados. 

Obesidade no Brasil

Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU e conseguiu superar os índices de desnutrição, alcançando níveis inferiores a 5% desde então.

O Brasil também segue a tendência mundial de aumento de peso. Segundo o Ministério da Saúde, mais da metade da população brasileira está com sobrepeso e obesidade atinge 20% das pessoas adultas.

Na faixa etária jovem, a Federação Mundial de Obesidade estima que em 2025 o Brasil terá 11,3 milhões de crianças obesas. A organização calcula que 150 mil crianças e jovens no Brasil desenvolverão diabetes tipo 2, enquanto 1 milhão terão pressão arterial elevada. Outro dado alarmante é o número de crianças e jovens brasileiros que sofrerão com gordura no fígado - cerca de 1,4 milhão.

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