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Rússia e a tragédia da Tchetchênia - Intervenção de Ieltsin, em 94, deixou saldo de mais de 30 mil mortos

Roberto Candelori, Especial para a Folha de S.Paulo

Os números da antiga URSS são impressionantes. Primeiro, era um território que se estendia do Pacífico ao Báltico cortado por 11 fusos horários. Possuía mais de uma centena de grupos étnicos e quase 300 nacionalidades distribuídas por 15 repúblicas federadas. E mais: 20 repúblicas, regiões, distritos, todos autônomos, que ocupavam uma área de cerca de 22 milhões de km2, com uma população próxima dos 290 milhões de habitantes. Toda essa diversidade estava sob o controle do PCUS (Partido Comunista da União Soviética).

A formação desse grande mosaico de povos remonta ao século 18, com a expansão do czarismo, a monarquia russa.

Religião e idioma, além do poder do czar, garantiram a unidade do império. Cristãos ortodoxos, os russos dominavam os "não-russos", impondo a hegemonia da língua e a força do seu poderio militar.

Stalin deslocou populações inteiras para territórios de maioria muçulmana, promovendo a "russificação" da URSS. De modo que mesmo o regime comunista pós-17 seguiu à risca essa lógica da supremacia russa.
República autônoma nas montanhas do Cáucaso, a Tchetchênia possui uma população muçulmana de quase 900 mil habitantes. Sob a liderança de Djokar Dudaiev, os tchetchenos convocaram um plebiscito em agosto de 91 e em seguida declararam sua independência. Movidos pelo caos reinante em Moscou após a tentativa frustrada de golpe e o afastamento de Gorbatchov, os tchetchenos acreditaram que era o momento ideal para alcançar a soberania como Estado independente.

Ieltsin ordenou em 94 a intervenção militar na Tchetchênia. Grozny, a capital, foi praticamente destruída por tropas russas. Houve um saldo de 30 mil mortos, além de mais de 400 mil refugiados. Após o assassinato de Dudaiev, em 96, foi assinado acordo concedendo uma ampla autonomia, mas a resistência tchetchena, movida pelo fanatismo islâmico, continuou sua luta separatista, cometendo atentados terroristas na capital russa. Moscou não reconhece sua independência, e até hoje a questão permanece indefinida.

São quatro séculos de autoritarismo czarista, 70 anos de regime comunista centralizado e uma crença forte de que o centro do império é Moscou.

Novo "czar" da Rússia, Vladimir Putin, ex-espião da KGB e sucessor de Ieltsin, não fez campanha nem participou de debates. Utilizou como trunfo eleitoral apenas a violência bélica contra os rebeldes da tchetchênia. Sua única promessa foi um governo forte. Parece que começou bem.

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