Topo

Atualidades

Risco-país (1) - Entenda o significado do termo econômico

De Gustavo Patú, Folha de S.Paulo

Risco-país é a última moda do vocabulário econômico nacional em 2002. Aparenta ser uma medição precisa, em pontos que variam a cada minuto, do perigo de investir em determinado país e assim tem sido, erroneamente, descrito. Dez anos antes, em 1992, a palavra da moda era "emergentes". Assim eram apresentados ou vendidos ao mundo os outrora chamados países em desenvolvimento, que incluíam os latino-americanos, do Leste Europeu, do Sudeste Asiático e alguns africanos. Vivia-se um momento de otimismo: acabara a Guerra Fria, os juros mundiais estavam baixos e os investidores se animavam com novos mercados e novas oportunidades.

Mais dez anos antes, "moratória" era a novidade nas manchetes econômicas, quando o México anunciou, em 1982, que não tinha como pagar a dívida externa. O Brasil e outros países da periferia do capitalismo seguiram o mesmo caminho, afundando em inflação e estagnação e fechando a torneira de investimentos estrangeiros que funcionara com entusiasmo.

Ali começava um período de transformações políticas e econômicas que atingiriam praticamente todo esse grupo de países, ainda que em ritmos e circunstâncias variáveis. Regimes autoritários ou ditatoriais, desgastados pela crise, deram lugar a democracias; modelos de desenvolvimento baseados na intervenção estatal foram perdendo espaço para o mercado livre. Em 1990, a expressão "Consenso de Washington" foi criada o nome diz onde para batizar a nova onda.

O mercado mundial também mudou profundamente. Os tradicionais empréstimos bancários deram lugar às transações com títulos, ou bônus, espécies de vales que representam frações de dívidas e passam de mão em mão. Papéis de governos, empresas e até pessoas começam a ser negociados diariamente em todo o mundo, com preços que mudam a cada instante, como as ações. É um dos passos mais importantes para o processo que ficou conhecido como "globalização".

De volta a 1992, foi naquele ano que o banco JP Morgan começou a calcular o Embi, sigla em inglês para Índice dos Bônus de Mercados Emergentes, um serviço para clientes interessados em investir nos então novamente promissores países latino-americanos, europeus ex-comunistas, asiáticos e africanos. Logo, porém, um nome mais atraente para o índice foi encontrado: o risco-país.

Como os demais modismos, trata-se de algo mais prosaico do que o nome sugere. O Embi mede, simplesmente, a cotação dos títulos dos emergentes, cujos preços caem quando os investidores têm dúvidas em relação à capacidade de pagamento do país emissor do papel e sobem nos momentos de confiança.

Títulos desvalorizados significam que o investidor com coragem para comprá-los terá ganhos maiores, se, é claro, a dívida for honrada. Basta comparar os ganhos esperados com os proporcionados pelos títulos americanos, os mais seguros do mundo, e está calculado o risco-país que, mais apropriadamente, deveria ser chamado de "medo-credor".

É o medo-credor que, dez anos depois da euforia com os emergentes e do triunfo dos mercados, volta a assombrar o mesmo grupo de países que, há 20 anos, caminhava para a moratória. Esta, por sinal, agora se chama "renegociação da dívida".

Atualidades