Revolução chinesa - País despertou para o Ocidente após revolução
Em 1º de outubro deste ano, os chineses comemoraram o cinquentenário da revolução que criou a República Popular da China, com sua via independente do socialismo. O desfile exibiu o gigantismo do país e reforçou a imagem nunca esquecida do líder Mao Tse-tung.
Mais de 1,2 bilhão de habitantes, expectativa de vida de 71 anos, analfabetismo de 17%, superávit na balança comercial, PIB de US$ 960,9 milhões, inflação de - 0,8% e taxa de crescimento de 7,8% em 1998. Os números impressionam, embora os índices econômicos apresentem uma queda em relação aos anos anteriores.
Como explicar o êxito de um país que, dividido em áreas de influência no século 19, foi explorado e invadido, rebelou-se, viveu guerras internas, fez a segunda revolução socialista da história e reavaliou a própria opção?
Com a morte de Mao em 76, iniciou-se a abertura da China ao Ocidente. Sob a liderança de Deng Xiaoping, o programa das "Quatro Modernizações" visou superar o fracasso do "Grande Salto para a Frente", buscando maior eficiência sem abandonar o socialismo.
As reformas liberalizantes atingiram a agricultura, a indústria, a defesa e a área científico-tecnológica. Apesar da forte participação do Estado, os chineses puderam desenvolver a produção rural familiar e abrir negócios, inseridos numa economia de mercado.
Nos anos 80, criaram-se portos livres e zonas econômicas especiais na região litorânea, como Xangai e Xiamen. A isenção de impostos e a oferta abundante de mão-de-obra atraíram investimentos estrangeiros nos setores secundário e terciário.
Produtos, modismos e ideias do exterior começaram a mudar a sociedade chinesa, principalmente nas cidades e entre as novas gerações. Permaneceram, contudo, valores tradicionais baseados no confucionismo, como o respeito à autoridade e à disciplina.
O avanço da economia não foi acompanhado de abertura política. Em 89, manifestações populares, estimuladas pelos estudantes, reivindicaram a democratização do país e denunciaram a corrupção e burocratização do Partido Comunista.
Estudantes, operários, funcionários públicos, intelectuais e até soldados ocuparam a Praça da Paz Celestial (Tiananmen), em Pequim. A lei marcial foi decretada, o Exército mobilizado e, após semanas de resistência, terminava a "Primavera de Pequim". Uma violenta repressão se seguiu, com um número incerto de mortes, fugas, prisões e execuções.
Se internamente as tensões têm sido sufocadas com o uso da força, os acordos para a reintegração de territórios ocorreram sem derramamento de sangue. A devolução de Hong Kong pela Grã-Bretanha, em julho de 97, foi o primeiro passo para a reunificação dos chineses, a ser ampliada com Macau em dezembro de 99.
Macau, concessão imperial a Portugal em 1557, representa o primeiro e último bastião da presença europeia no sudeste asiático. Por um período de transição de 50 anos, Portugal manterá influência na região, preservando os princípios liberais.
A incorporação pacífica dessas sociedades baseia-se na teoria de Deng Xiaoping: "Um só país, dois sistemas". Em outras palavras, uma só China, em grande parte socialista, com dois enclaves capitalistas e democráticos.
Para Taiwan, fundada na ilha de Formosa pelos nacionalistas, em 49, após a derrota na guerra civil, a China oferece a mesma fórmula. Considerada "província rebelde", Taiwan -ou República Nacionalista da China- ainda rejeita a reunificação, apesar da pressão militar continental.
Os índices de crescimento, o promissor mercado consumidor, a mão-de-obra barata, a proximidade aos Tigres Asiáticos em crise, o poderio nuclear e o sucesso da integração territorial sugerem que a China poderá vir a ser a potência do próximo milênio.
No entanto, a disparidade entre o litoral e o interior, o êxodo rural, a concentração de renda, o desemprego, a corrupção, as dissidências, a ausência de liberdades, os movimentos nacionalistas e religiosos no Tibete e em Xinjiang e a questão de Taiwan mostram que o "gigante" tem sérios desafios a enfrentar...
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