Topo

Atualidades

Previsões - Economia da América Latina deve decolar em 2005

Patricia Pérez-Cejuela, Da EFE

A América Latina confirmou sua recuperação econômica e as previsões para o futuro são mais que otimistas. Este pode ser o ano de sua decolagem ou de sua estagnação definitiva. A chave está em conseguir a confiança dos investidores independente das oscilações do dólar.

Neste ano, a América Latina pode consolidar a espetacular recuperação que sua economia vem demonstrando nos últimos tempos. Em 2004, alcançou um crescimento superior a 5%, o que pode ser um sinal de que chegou o momento de ganhar importância no cenário internacional.

José Luis Martínez, analista chefe do Citibank, acha que "o crescimento econômico para a região em 2005 será ligeiramente inferior ao do ano passado. Estamos falando de uma cifra próxima a 4,5% que seria inferior aos 6% de 2004. Apesar disso, é um crescimento forte".

O bom momento da economia mundial, a alta no preço das matérias-primas e o retorno do investimento estrangeiro, geraram índices macroeconômicos muito estáveis em grande parte dos países da América Latina, incluindo taxas de juros relativamente baixas, posições fiscais sólidas, baixos níveis de inflação, assim como uma melhora dos saldos fiscais e comerciais.

Embora a assimetria entre os países da América Latina continue se acentuando, muitos deles "nos surpreenderam", continua explicando José Luis Martínez, já que "um ano atrás era impensável que o Brasil pudesse experimentar um crescimento de 5%.

Também surpreendem a Argentina, que teve um crescimento próximo a 9%, o Chile, com 6%, e o México, com 4%. Nos últimos anos, a América Latina era o 'patinho feio', seu déficit por conta corrente beirava 2,5%. Em contraposição, a balança de conta corrente em 2004 foi extraordinária. Algo está mudando na região".

Tudo parece indicar que os investidores internacionais recuperaram a confiança na América Latina, o que está relacionado com fatores como "a recuperação da demanda doméstica na região que se beneficiou também de um forte aumento da demanda internacional, especialmente de matérias-primas".

O risco do dólar
A maioria dos observadores estima que ainda existe o risco de uma forte subida na taxa de câmbio do euro contra o dólar, o que repercutiria na economia mundial.

Neste contexto, as economias emergentes da América Latina dependentes da hegemonia americana começaram a tremer. Os países da região exportam grandes quantidades de matérias-primas e, a permanência da queda do dólar poderia significar uma substancial perda de receita para os exportadores.

Na opinião de Juan Torres López, catedrático de Economia Aplicada da Universidade de Málaga, "os países da região têm uma enorme dívida em dólares. Se a queda do dólar continuar, terão que enfrentar taxas de juros mais elevadas que aumentarão a hipoteca da dívida externa".

Segundo cálculos do FMI, se o dólar continuar descendo, muitos países da região teriam grandes perdas que poderiam projetar-se até o equivalente a 3,5% do Produto Interno Bruto na Argentina e de 5,8% no caso do Chile.

Juan Torres López acredita que "a queda do dólar vai ser seguramente bastante importante nos próximos meses em função da extraordinária magnitude do déficit dos EUA e da possibilidade que Bush mude radicalmente de política e de horizontes estratégicos neste segundo mandato".

Em consequência, a estabilidade da economia da América Latina depende que os Estados Unidos deixem de emitir dívida ao ritmo atual e que façam um ajuste fiscal, e por outro lado, que continue o apetite da Ásia por investir na região.

Efetivamente, a ONU destacou em suas previsões para 2005 que o crescimento mundial está sendo sustentado pelas economias da China e dos Estados Unidos e que a demanda de matérias-primas por parte do país asiático está beneficiando claramente os países exportadores desses produtos na América Latina.

Torres López afirma que "a China entrou em jogo com grande influência no tabuleiro da economia mundial. Tem uma quantidade tal de dólares acumulados em suas reservas que se quisesse poderia literalmente fazer saltar pelos ares todo o sistema financeiro internacional".
Neste sentido, a América Latina precisa do dinheiro dos investimentos chineses. Ramón Casilda Béjar, Diretor da Cátedra do Grupo Santander da Universidade Antonio de Lebrija (Madri), está convencido que "a América Latina necessita diversificar seu menu de produtos e abarcar novas áreas geográficas como as do sudeste asiático para poder enfrentar novas quedas do dólar".

Fracasso da dolarização
A dolarização das moedas e economias da América Latina nasceu como parte de uma estratégia orquestrada pelo governo dos EUA., que prometia um regime cambiário fixo que traria vantagens como a redução da inflação e das taxas de juros, estabilidade monetária, e um maior crescimento econômico que estimularia a economia e o investimento, uma maior disciplina fiscal e, definitivamente , um sistema financeiro mais forte.

Suas consequências se manifestaram negativas, explica Juan Torres López, "já que a moeda é uma das referências fundamentais da economia de um país e renunciar a governá-la é renunciar a ter autonomia e soberania. A experiência demonstrou claramente que seus efeitos foram muito negativos".

O Chile ligou sua moeda ao dólar americano através do que se denomina uma "fixação débil" no princípio dos anos 80. Depois México e Brasil fizeram-no nos anos 90. El Salvador, Peru e Equador 'dolarizaram' suas economias totalmente. A Argentina optou em um primeiro momento pela fixação de sua moeda ao dólar de uma forma total e rígida, respaldando legalmente a utilização da moeda em todo tipo de contratos.

José Luis Martínez explica que "a crise do país andino provocou uma ruptura com o dólar de uma maneira brusca há três anos. É evidente que a dolarização está se reduzindo na região. Mas, em termos gerais, a flexibilização da taxa de câmbio foi generalizada em todos os países e isto pode beneficiar-lhes se a taxa de câmbio der a volta e ocorrer uma subida forte do dólar".

As mudanças necessárias para impulsionar o desenvolvimento integral da economia dos países da América Latina não surgirão pela introdução do dólar. Os países da região devem pensar uma estratégia que lhes permita levar a cabo uma aliança com o setor privado, que é quem melhor conhece as debilidades e oportunidades destes países. Assim poderão organizar e otimizar seus recursos para o futuro.

José Luis Martínez lembra que "a América Latina segue oferecendo grandes oportunidades ao investidor direto a médio e longo prazo porque tudo parece indicar que seu crescimento econômico seguirá forte".

Atualidades