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Pirataria - Da Grécia antiga ao Brasil contemporâneo - Da Grécia antiga ao Brasil contemporâneo

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

A captura do superpetroleiro Sirius Star em 15 de novembro de 2008, com 25 tripulantes e uma carga de US$ 100 milhões em petróleo, chamou a atenção do mundo para a pirataria que tem como base a costa da Somália, na África. Pouco depois, noticiou-se a captura de um cargueiro do Iêmen que transportava 570 toneladas de material de construção. Dois jornalistas que foram cobrir esses acontecimentos - um britânico e um irlandês - acabaram sendo sequestrados pelos piratas também.

No caso dos dois navios mencionados, pede-se resgate de, respectivamente US$ 15 milhões e US$ 2 milhões. Pelo resgate dos jornalistas, até a publicação deste artigo, nenhuma quantia ainda havia sido divulgada, mas, em janeiro deste ano, uma médica espanhola e uma enfermeira argentina foram resgatadas aos piratas somalis por US$ 200 mil. Estima-se que a pirataria da Somália tenha arrecadado cerca de US$ 100 milhões no último ano.

Quem se depara com essas notícias pode pensar que se está diante de um renascimento da pirataria, um tipo de banditismo característico do mar do Caribe, no século 18, mas essa é uma visão equivocada. De fato, o Caribe, entre as décadas de 1660 e 1720, conheceu uma grande atividade de piratas, que serviram de base para várias produções cinematográficas, das quais a mais recente é série "Piratas do Caribe", estrelada por Johnny Depp.



O sequestro de imperador

No entanto, a origem da pirataria remonta à Antiguidade. Não se pode precisar uma data exata para seu surgimento, mas ela deve ter aparecido no mesmo momento em que se desenvolveu o comércio marítimo no mar Mediterrâneo e Egeu, durante o século 13 a.C. Aliás, a palavra "pirata" vem do grego "peirates" e designava o indivíduo que procurava sua fortuna por meio da aventura no mar.

Vale lembrar que já nessa época os piratas praticavam o sequestro de pessoas a serem libertadas mediante pagamento de resgate. O caso mais célebre é o de ninguém menos que o jovem Júlio César, futuro fundador do Império romano. O barco em que César viajava para a ilha de Rodes foi capturado e os piratas resolveram pedir por ele 20 talentos de ouro. Segundo biógrafos romanos, Júlio retrucou que poderiam pedir 50 e o resgate foi pago. Uma vez em liberdade, o futuro imperador armou uma frota, perseguiu seus sequestradores, prendeu-os e os crucificou.

No mundo ocidental, durante a Idade Média, a pirataria esteve a cargo dos vikings, que atacavam embarcações e aldeias, particularmente na Grã-Bretanha. Já ao fim dos tempos medievais, quando a República de Veneza monopolizou o comércio no Mediterrâneo, tornaram-se comuns os ataques de piratas sarracenos, nome com que os europeus designavam genericamente os muçulmanos.



Grandes navegações

Foram as Grandes Navegações, em especial a partir do século 16, que deram impulso à pirataria na Idade Moderna. O Brasil, nesse primeiro século de colonização, foi alvo frequente de ataques piratas. Franceses, ingleses e holandeses, cuja expansão marítima foi posterior à espanhola e à portuguesa, invadiram o Maranhão, o Recife, a Bahia e a vila de Santos, na capitania de São Vicente.

O ataque a Santos ocorreu na noite de natal de 1588 (o ano é discutido pelos historiadores, fala-se também em 1590 e 1591). Enquanto a população celebrava a missa na Igreja matriz, esta foi cercada pelos piratas comandados pelo capitão inglês Thomas Cavendish (1555-1592), que saquearam o local e fizeram prisioneiros os homens mais importantes da vila, entre os quais o capitão-mor Brás Cubas (1507-1592), o fundador da localidade.

A aventura pode ser conhecida em detalhes, pois foi transformada em livro por Anthony Knivet, um dos membros da tripulação de Cavendish. "As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet - memórias de um aventureiro inglês que em 1591saiu de seu país com o pirata Thomas Cavendish e foi abandonado no Brasil, entre índios canibais e colonos selvagens" é o título da edição original de 1625 e dela se encontra uma versão recente em português, publicada por Jorge Zahar Editor.



Rio de Janeiro e Amazônia

O Rio de Janeiro também foi vítima de uma invasão semelhante, que se estendeu por um mês entre setembro e outubro de 1711. Tratava-se de corsários franceses, comandados pelo capitão René Duguay-Trouin. Corsários atuavam da mesma maneira que os piratas. Obtinham, porém, uma carta de corso, isto é, uma autorização de seus países de origem para atacar navios e colônias de outras nações.

Duguay-Trouin sitiou o Rio de Janeiro por um mês e só foi embora depois que a cidade pagou um resgate de 100 mil libras em ouro e libertou mil prisioneiros franceses. Suas "Memórias" também podem ser encontradas em português, em volume publicado pela Editora da Universidade de Brasília.

Mas a pirataria em Santos e no Rio de Janeiro não é somente parte da história. Nos portos das duas cidades, que são os maiores do país, a atividade principal dos piratas contemporâneos é o roubo de cargas dos navios ancorados. Além disso, a navegação fluvial na bacia do Amazonas também é vítima da prática de pirataria, particularmente na ilha de Marajó.

Os piratas amazônicos são conhecidos como "ratos d'água". Em dezembro de 2001, o navegador neozelandês Peter Blake, 53, foi morto por um grupo desses piratas durante assalto a seu veleiro, em um distrito de Macapá (AP). Ele era considerado um dos maiores velejadores do mundo e o caso ganhou destaque internacional.

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