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Olimpíadas - Brasil sedia jogos pela primeira vez

03.mai.2016 - Condutor carrega a tocha olímpica em um barco durante o revezamento em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress
03.mai.2016 - Condutor carrega a tocha olímpica em um barco durante o revezamento em Brasília Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Carolina Cunha

Da Novelo Comunicação

O sonho de todo atleta é conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos, a maior competição esportiva do planeta. O evento ocorre de quatro em quatro anos e a cada edição uma cidade do mundo é escolhida como sede. 

Em 2016, o Brasil e a América do Sul recebem pela primeira vez os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, a Rio-2016. A competição será realizada na cidade do Rio de Janeiro durante 17 dias e contará com a participação de 10.500 atletas de 206 países. 

Organizar os Jogos Olímpicos é um desafio para qualquer país. Para uma cidade se candidatar a hospedar o evento, ela precisa assumir uma série de responsabilidades na criação da infraestrutura e das instalações dos Jogos, além de garantir a segurança, o bem-estar e a saúde dos participantes. 

É comum dizer que esse grande evento deixa um legado para o país sede. Sediar a competição pode ser a oportunidade de usar o esporte para trazer uma série de melhorias para a cidade em que ela será realizada, como a criação de redes de transporte e moradias. 

Uma das Olimpíadas mais bem-sucedidas aconteceu na cidade de Barcelona, na Espanha, em 1992. O evento trouxe uma boa imagem para o país e contribuiu para incrementar o turismo. Os Jogos de 2012, realizados em Londres, na Inglaterra, também deixaram um legado positivo, principalmente por recuperar uma das regiões mais degradadas da cidade. A área do evento ganhou o maior parque urbano do Reino Unido e foram criados novos bairros, linhas de metrô, estabelecimentos comerciais e serviços. Tudo construído de forma sustentável.

No entanto, os Jogos já trouxeram prejuízos e por isso muitos debatem suas vantagens. Em 2004, o governo grego investiu 9 bilhões de euros para realizar a competição. Parte do dinheiro foi desperdiçada porque muitas obras construídas hoje estão abandonadas. Outro exemplo é a Olimpíada de Montreal, no Canadá (1976). O evento custou 400% a mais do que o previsto e a cidade canadense quase foi à falência: precisou de 30 anos para pagar as dívidas.

A cidade do Rio de Janeiro foi escolhida como sede do evento em 2009 e teve sete anos para se preparar. Foram construídos ginásios, parques, prédios para acomodar os atletas e uma nova infraestrutura de transporte público. O principal investimento foi para o Parque Olímpico, onde serão disputadas 16 modalidades esportivas. Após 2016, o local será usado para a formação de novos atletas e algumas instalações serão transformadas em escolas, parques e escritórios. 

O governo federal espera que os Jogos Olímpicos deixem como legado principal a expansão do turismo no Brasil e o fortalecimento da imagem positiva do Rio de Janeiro como destino de viagem. São esperados 350 mil turistas na cidade carioca. 

O evento também traz a oportunidade de mostrar a cultura brasileira para o mundo. Ao longo da história dos Jogos Olímpicos, as cerimônias de abertura e de encerramento passaram a ser um convite ao turista para conhecer a cultura do país anfitrião, mostrada em espetáculos que unem música, dança e teatro. Imagens que serão transmitidas pela televisão, internet, jornais e revistas do mundo todo. 

A cultura brasileira também está presente nos mascotes criados para a Rio-2016. Eles foram batizados com nomes de dois grandes artistas: Tom Jobim e Vinicius de Moraes. O mascote Vinicius representa uma mistura de todos os bichos brasileiros. O outro é Tom, uma criatura mágica inspirada nas plantas das florestas brasileiras.

Polêmicas no Rio de Janeiro 

A primeira crítica à organização dos Jogos Olímpicos de 2016 está relacionada ao atraso das obras. Em 2015, a menos de um ano do evento, a maior parte dos espaços de competição ainda não estava pronta.

Um dos pontos críticos é a poluição das águas dos locais destinados às competições aquáticas: a Baía da Guanabara, a Lagoa Rodrigo de Freitas e a praia de Copacabana. Testes realizados em 2015 encontraram índices muito elevados de vírus, bactérias e coliformes fecais causados pelo esgoto humano que chega às áreas de água na cidade.

A preocupação é que má qualidade da água afete a saúde dos atletas, que podem contrair uma infecção ou passar mal com vômitos e diarreias. A ordem é que atletas e turistas estrangeiros sejam vacinados contra hepatite A e febre tifoide.

A promessa de tratar até 80% do esgoto despejado na Baía de Guanabara para os Jogos de 2016 não será cumprida. O tratamento era um compromisso do governo com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Mas pouco foi feito e maior parte das obras não saiu do papel. O governo estadual do Rio de Janeiro diz que está investindo em saneamento, com obras de expansão da coleta e tratamento do esgoto, de fechamento de lixões e de prevenção contra inundações. 

Em fevereiro de 2016, a notícia de que o Brasil vivia um surto de zika vírus também fez a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertar o país a tomar medidas que não coloquem em risco a saúde dos atletas e turistas.

Os surtos de dengue e zika vírus no país chamaram a atenção da imprensa internacional e logo veio o temor de que atletas e turistas começassem a abandonar a competição. Uma das declarações polêmicas foi a da atleta Hope Solo, da seleção norte-americana de futebol feminino. Em entrevista ao canal de televisão CBS, ela declarou que “Se as coisas ficarem como estão agora, eu provavelmente não vou”. 

O COI recomendou aos atletas que tomassem medidas preventivas como manter as janelas fechadas na Vila Olímpica e usar repelentes para evitar o mosquito Aedes Aegypti, transmissor do vírus da dengue e do zika vírus. 

Em abril deste ano, um trecho da ciclovia Tim Maia, recém-inaugurada no Rio, desabou após receber uma forte onda do mar, deixando duas pessoas mortas. A ciclovia não seria usada diretamente nas Olimpíadas, mas fez parte das obras de infraestrutura do evento. O acidente fatal colocou em dúvida a capacidade do Rio de Janeiro de sediar a competição em agosto e a segurança das obras. 

Outra questão que preocupa os estrangeiros é a segurança da cidade carioca. As constantes notícias de arrastões, assaltos e mortes fazem os jornais questionarem se o planejamento foi adequado para tal competição.

O espírito pacífico dos Jogos Olímpicos 

Os Jogos Olímpicos foram criados na Grécia Antiga, no ano de 776 a.C. Eram realizados a cada quatro anos na cidade de Olímpia, em homenagem ao deus grego Zeus. Os jogos duravam vários dias e reuniam atletas de todas as cidades gregas. Ao longo da competição, eram disputadas provas de corrida, salto, arremesso de disco, entre outras. Ao final, os vencedores recebiam coroas de louro. 

O evento era tão sagrado que existia a chamada Trégua Olímpica, quando até mesmo as guerras eram suspensas para que os gregos pudessem assistir às competições em segurança, passando com tranquilidade em zonas de batalha. A ideia de que as competições esportivas eram mais importantes do que as guerras inspirou a criação dos Jogos Olímpicos modernos. 

No século 19 o francês Pierre de Coubertin decidiu criar um festival esportivo internacional baseado nos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Em 1896, em Atenas (Grécia), aconteceu a Primeira Olimpíada da Era Moderna. 

Coubertien era um educador e viu na realização da competição uma forma de promover o esporte e propagar uma filosofia que ele chamou de “Olimpismo”, e inclui três valores principais: excelência, amizade e respeito. A partir do esporte, seria possível exaltar o melhor de cada atleta e promover a paz entre as pessoas e as nações. É de autoria do francês um lema que se tornaria muito popular no mundo esportivo: “o importante é competir”.

Esporte no contexto político

Apesar de sua declaração e tendência apolíticas, os Jogos Olímpicos estiveram envolvidos em várias situações extraesportivas ao longo do século 20 que por vezes alterou seus rumos como, por exemplo, duas grandes guerras, crises econômicas, boicotes e atentados. Muitos desses casos entraram para a história dos Jogos.

Em 1936, em Berlim, na Alemanha, o regime nazista apropriou-se dos Jogos. Nos anos que antecederam a realização do evento, vários governos e organizações desportivas manifestaram as suas preocupações sobre o regime e as suas políticas. A ameaça de um boicote pairava sobre os Jogos, mas no fim foram as convicções individuais que impediram alguns atletas de participar.

O esporte foi uma das disputas usadas por Estados Unidos e União Soviética, durante a Guerra Fria (1945-1989), para mostrar a superioridade de um país frente ao outro. As competições esportivas tornaram-se uma das manifestações públicas de maior divulgação desse conflito. Grandes nações obviamente deveriam produzir grandes atletas que demonstrariam ao mundo o verdadeiro potencial de construção de domínio de uma ordem mundial binária.

Em 1968, na Cidade do México, no México, os atletas norte-americanos Tommy Smith e John Carlos manifestaram-se contra a segregação racial em seu país. Quando subiram ao pódio para receber suas medalhas levantaram os punhos com luvas negras e inclinaram a cabeça quando a bandeira americana foi erguida. O ato foi um apoio ao movimento Black Power que lutava contra a discriminação contra os negros nos EUA. O gesto não foi bem visto e eles foram mandados embora da competição mais cedo.

Outro episódio conhecido é o ataque à delegação de Israel por terroristas palestinos nas Olimpíadas de Munique, na Alemanha, em 1972. O evento terminou em tragédia, com nove reféns executados e a morte de um policial e dois outros membros da delegação Israelita. Os terroristas foram mortos pela polícia.

Mas outras situações mostram que o evento esportivo pode ser sim palco do reestabelecimento de relações ou de uma convivência pacífica entre nações que divergem politicamente. Um exemplo aconteceu na abertura dos Jogos de 2000, em Sydney, na Austrália. As delegações da Coreia do Sul e Coreia do Norte desfilaram juntas sob uma única bandeira, um momento sem precedentes desde a ruptura das relações diplomáticas entre os dois países após a Guerra da Coreia (1950-1953).

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