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Muro de Berlim - Construção marcou a divisão de ideologias na capital alemã

Cinilia T.Gisondi Omaki, Maria Odette S. Brancatelli, Especial para a Folha

Tochas vermelhas e fogos de artifício iluminaram a noite de 9 de novembro último na capital da Alemanha reunificada. Cidadãos comuns e convidados ilustres comemoraram os dez anos da queda do Muro de Berlim, maior símbolo da Guerra Fria.

Com o fim da Segunda Guerra, o Acordo de Potsdam (45) dividiu a derrotada Alemanha nazista e sua capital em quatro zonas de ocupação entre URSS, EUA, Reino Unido e França.
Em 48, a URSS impôs o bloqueio de Berlim, encravada em sua zona. Depois desse incidente, surgiram as repúblicas Federal da Alemanha (Ocidental) e Democrática Alemã (Oriental).

O interesse da URSS em impedir fugas para o lado capitalista de Berlim levou-a a erguer o muro em 61. Mais do que dividir uma cidade, o "muro da vergonha" separou fisicamente famílias, ideologias e o mundo, colocando cada parte sob influência de uma das superpotências.

O socialismo não se restringiu à Alemanha Oriental, sendo imposto no Leste Europeu após 45. A URSS reprimiu as tentativas de desobediência às suas orientações na Polônia e na Hungria, em 1956, e na então Tchecoslováquia, em 1968 (Primavera de Praga), usando as tropas do Pacto de Varsóvia.

O desgaste da Guerra Fria e a falência do modelo soviético exigiram mudanças. A glasnost (transparência política) e a perestroika (reestruturação econômica) de Mikhail Gorbatchov não atenderam às expectativas, provocando o fim da URSS e a criação da Comunidade dos Estados Independentes (91).

Os "ventos da liberdade" repercutiram nos países da "Cortina de Ferro". A desintegração do bloco socialista, a partir de 89, deu-se por várias vias: negociações entre as autoridades e oposição na Polônia, Bulgária e Hungria; revolução popular violenta na Romênia e manifestações de massa pela democracia na Alemanha Oriental e Tchecoslováquia (Revolução de Veludo).

Na Albânia, "farol do socialismo puro", pressões sociais levaram a reformas. Na Iugoslávia, explodiram antigos problemas étnico-religiosos e nacionalistas, gerando violentas guerras civis e a fragmentação do país.

Para os alemães orientais o "sopro" inicial veio quando a Hungria abriu sua fronteira com a Áustria, permitindo o livre acesso ao mundo capitalista.

O acontecimento mais representativo dessas transformações foi a derrubada do Muro de Berlim por multidões que, havia semanas, saíam às ruas com o lema "Somos o povo". Com o anúncio da abertura das fronteiras da RDA, alemães efusivamente destruíram o marco da bipolarização entre URSS e EUA.

Os dirigentes desses países, Gorbatchov e George Bush, encaminharam as negociações para a reunificação. Coube a Bush convencer Reino Unido e França, rivais históricos da Alemanha, que temiam a volta da "potência central" dos tempos de Bismarck e de Hitler.

Helmut Kohl, premiê da RFA, articulou a incorporação da parte oriental, primeiro com a união monetária e depois com a política. Em outubro de 90, a Alemanha voltou a ser uma só, capitalista e membro da Otan.
O mais rico, populoso e influente país da União Europeia ainda convive com as consequências da divisão e da reunificação: disparidades socioeconômicas e diferenças políticas, além de preconceitos e do "fantasma" do neonazismo.

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