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Montenegro e Sérvia - Mapa da Europa sofre mudança: processo começou em 1990

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

No domingo 22 de maio de 2006, 86% dos cerca de 700 mil habitantes de Montenegro foram às urnas, para, num plebiscito democrático, decidir se o país continuava unido à Sérvia ou se tornava independente. A independência saiu vitoriosa com 55,5% dos votos e, com isso, o mapa da Europa vai sofrer uma pequena alteração brevemente. Todos os atlas e livros de geografia publicados até hoje - no que se refere à Sérvia e Montenegro - estarão ultrapassados.

Na verdade, a independência de Montenegro é o mais recente ato de um processo que teve início na Europa, em 1989, quando a República Democrática Alemã - a antiga Alemanha Oriental, onde vigorava um regime comunista desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945 - reunificou-se à República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental, capitalista, ou a Alemanha tal qual está configurada atualmente).

O fim dos regimes comunistas na Europa
A unificação da Alemanha (formalizada em 1990) marcou o início de desagregação do bloco de países comunistas que existiam na Europa e que viviam sob a influência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), uma federação socialista oficializada em 1922, cinco anos após a Revolução Russa de 1917, que abrangia parte dos continentes europeu e asiático.

A União Soviética saiu vitoriosa da Segunda Guerra, tornando-se uma superpotência militar que impôs sua influência a todo o Leste europeu, combatendo indiretamente os Estados Unidos e os países sob sua influência na chamada Guerra Fria. Desta guerra, no entanto, os Estados Unidos saíram vitoriosos, fomentando uma gravíssima crise econômica na URSS.

Este foi golpe mais forte contra o comunismo no continente europeu. Aconteceu no ano de 1991, quando a própria União Soviética entrou em colapso político-econômico e se desagregou, dando origem a 15 repúblicas independentes: sete na Europa (Estônia, Letônia, Lituânia, Belarus, Ucrânia, Moldávia e Rússia), e oito na Ásia (Casaquistão, Armênia, Quirguistão, Azerbaidjão, Geórgia, Tadjiquistão, Turcomenistão e Usbequistão.

A guerra da Chechênia
Hoje, o núcleo da antiga URSS, a Rússia é uma federação que congrega 89 unidades administrativas, das quais 25 são repúblicas. Isso faz da Federação russa um país com dimensões continentais, com 17.075.200 Km2 (mais ou menos o dobro do Brasil) e uma população de 142.894.000 habitantes (cerca de 30% menor do que a nossa). No entanto, a porção europeia de seu mapa ainda pode sofrer modificações.

A República da Chechênia, localizada na região do Cáucaso, ao sul da Rússia, já proclamou sua independência em 1991. Nenhum país a reconheceu até o momento, mas o povo checheno pegou em armas para lutar por ela. Uma guerra entre a Rússia e a Chechênia se estendeu desde então até 1997 e que, apesar de um tratado de paz firmado entre as partes em conflito não acabou.

Os chechenos partiram para ações guerrilheiras e terroristas em diversas localidades da Federação russa, como o ataque a uma escola na cidade de Beslam, em 2004, no qual morreram cerca de 300 crianças.

Antiga Iugoslávia
Voltando, porém, à Sérvia e Montenegro, tratava-se de um Estado que se encontrava uma situação geopolítica relativamente semelhante à da antiga União Soviética. Até 2003, Sérvia e Montenegro era o que restava da antiga Iugoslávia, um país que, sob regime comunista após a Segunda Guerra Mundial, congregava a própria Sérvia e Montenegro, além da Croácia, da Eslovênia e da Bósnia-Herzegovina. Tinha capital em Belgrado.

Tratava-se, no entanto, de um verdadeiro mosaico de grupos étnicos e religiosos diversificados, cuja união se forjou no combate à Alemanha nazista, sob o comando do líder comunista Josip Broz Tito. Na verdade, Tito conseguiu constituir o único regime comunista do Leste europeu com relativa independência da União Soviética, até sua morte, em 1980. A partir daí, a Iugoslávia também começou a se desagregar.

As tensões permaneceram latentes por uma década, mas em 1991, a Eslovênia e a Croácia proclamaram sua independência. Belgrado reagiu militarmente para evitar o desmembramento do país. Ocorreu uma sangrenta guerra civil, da qual a Macedônia aproveitou-se para também proclamar sua independência. Em 1992, sempre por meio de combates e verdadeiros massacres, a Bósnia-Herzegovina tornou-se independente também, mas tropas da ONU e, depois, da União Europeia ainda se mantêm no território para garantir a paz.

Limpeza étnica
Os diversos conflitos, combates e massacres que ocorreram no território da antiga Iugoslávia deveram-se sobretudo ao nacionalismo sérvio que pretendia impor-se sobre toda região, chegando, sob o comando do presidente Slobodan Milosevic (1941-2006), a promover uma chamada "limpeza étnica", que constituiu num verdadeiro genocídio da população bósnia.

Milosevic foi preso e acusado de crimes de guerra por um tribunal internacional da Organização das Nações Unidas, mas morreu de ataque cardíaco antes da conclusão do julgamento.

O novo país
Tudo isso torna surpreendente o fato de Montenegro ter sua independência obtida de modo pacífico e de mocrático e reconhecida pelo governo sérvio. Assim como a Sérvia, cuja capital é Belgrado, a União Europeia já reconheceu a independência de Montenegro.

O novo país tem uma população de somente cerca de 700 mil habitantes (a Sérvia tem cerca de 9 milhões) e sua atual capital é a cidade de Podgorica. O euro, que já tinha sido adotado, permanece sendo a unidade monetária montenegrina (enquanto na Sérvia prevalece o dinar sérvio). Administrativamente, Montenegro já tinha um parlamento próprio, que agora se torna soberano.

A conformação política do novo país é assunto a ser discutido pelo governo local e pela sua própria população em breve. Outra questão importante é saber se a independência se consolidará, uma vez que a população montenegrina que se manifestou contra ela constituiu quase a metade dos habitantes da região.

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