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Hizbollah - Milícia é partido político dos muçulmanos xiitas libaneses

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Hizbollah significa "Partido de Deus". A palavra é formada pela junção de hizb, que quer dizer "partido" e Allah, Deus, em árabe. Como a tradução da palavra deixa claro, trata-se de um conceito estranho à mentalidade ocidental, em que, desde o século 18, se procedeu a uma grande separação entre religião e política. Um "Partido de Deus" não faz sentido nem para a ciência política nem para a teologia do Ocidente.

No entanto, para o islamismo, em especial para a denominação xiita, que prega a total fidelidade e a submissão do homem a Deus, a ideia de um partido político religioso ou mesmo de um governo com base na religião não só é plausível como tem existência real, por exemplo, no próprio Hizbollah e na República Islâmica do Irã, em que estão unidos, respectivamente, uma noção política (república) e outra religiosa (islamismo).

O Hizbollah é um grupo xiita libanês, que está constituído simultaneamente como partido político e como milícia, isto é, uma organização de cidadãos armados que não integram o exército de um país. O governo do Líbano e seu exército não se demonstrou capaz de desarmá-lo, apesar da pressão internacional nesse sentido.

 

Islamismo e fundação do Hizbollah

O Hizbollah foi fundado em 1982 para combater as forças armadas de Israel, que haviam invadido o sul do Líbano naquele ano, para combater a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), após ataques lançados por esta ao território israelense, a partir de bases em solo libanês.

É importante compreender que o Hizbollah representa os xiitas do Líbano. Para isso, evidentemente, é preciso saber o que é xiismo, o que obriga a um retorno de cerca de 13 séculos na história. Assim como o judaísmo e o cristianismo, o islamismo é uma religião monoteísta, que prega a crença na existência de um único Deus.

Trata-se do mesmo Deus de judeus e cristãos, que, segundo a tradição árabe, revelou-se ao profeta Maomé (ou Muhammad) no século 7 d.C. Vale lembrar que "Islão" ou "Islã" significa "submissão" total à vontade de Deus e que "muçulmano" significa "servo" de Deus.

 

Sucessão de Maomé

Pois bem, segundo a tradição islâmica, todos os profetas enviados anteriormente por Deus, como Moisés ou Cristo, não foram escutados, mas sim perseguidos e até mesmo executados. A Maomé coube, portanto, conduzir os homens ao modo de vida que Deus lhes destinou e do qual a revolta e o pecado os afastaram.

Entretanto, após a morte de Maomé, em 632 d.C., a comunidade muçulmana se dividiu entre os que acreditavam que seu sucessor, ou "califa", deveria ser o homem mais qualificado para manter os costumes ou "sunna" de Maomé. Formaram a comunidade sunita.

Outro grupo muçulmano elegeu como sucessor do profeta seu primo e genro, Ali, formando o "shi'at'Ali", que deu origem à comunidade xiita, que tem líderes espirituais chamados "imãs" e cuja mais alta autoridade religiosa são os "aiatolás".

Os sunitas compõem 90% dos muçulmanos, mas os 10% xiitas (que também se subdividem em grupos menores) são os que se entregam a sua fé de modo mais radical, tendo, a partir da Revolução islâmica do Irã, em 1979, entrelaçado completamente sua prática religiosa à política e levado adiante ações armadas contra Israel e o modo de vida do mundo ocidental, para eles representado pelos Estados Unidos.

 

Síria e Irã

É nesse contexto que se enquadra o Hizbollah, portanto. Após a retirada das forças israelenses do Líbano em 2000, o grupo, que era basicamente uma milícia, constituiu-se num partido político, que chegou a deter 18% das cadeiras do Parlamento libanês e que se responsabilizou por diversos projetos de desenvolvimento econômico e infraestrutural no país.

No entanto, em meados de 2006, a ala armada do Hizbollah, encorajada pela Síria e pelo Irã, disparou mísseis contra o norte de Israel e sequestrou dois soldados judeus, o que resultou no contra-ataque israelense e num conflito permanente que abala o Oriente médio. Os interesses da Síria e do Irã na questão são ao mesmo tempo geopolíticos e religiosos.

Uma eventual intervenção da Síria para pôr fim às operações do Hizbollah pode ser o ponto de partida para o país negociar com Israel as colinas de Golã, território que lhe foi tomado pelos israelenses na guerra entre os dois países em 1967. Quanto ao Irã, seu presidente já se manifestou contra a existência de do Estado de Israel e sua intenção é expandir a influência iraniana e do islamismo xiita na região.

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