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Falsificação de medicamentos - Drogas contra a disfunção erétil conquistam o mercado pirata

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

No sentido contemporâneo da expressão, quando se fala em pirataria, pensa-se principalmente em CDs, DVDs, softwares, roupas e numa enorme variedade de objetos falsificados. Como todos estes produtos, os medicamentos também são alvo de pirataria e o mercado ilegal de fármacos movimentou no ano passado nada menos que US$ 35 bilhões, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

Um relatório do Escritório Internacional das Nações Unidas para o Controle de Psicotrópicos, divulgado na segunda semana de maio de 2007, em Viena, apontou aspectos interessantes da evolução do mercado negro de remédios. Em primeiro lugar, sofreu uma grande alteração o perfil dos fármacos contrabandeados.

Até cinco anos atrás predominava o contrabando de psicotrópicos (que atuam de maneira muito variada na atividade mental), de opioides (que aliviam a dor, mas causam euforia e alteram a consciência) e de estimulantes. Atualmente, concorrem com estes as drogas para emagrecimento e, principalmente, aquelas que combatem a disfunção erétil.

Ciberfarmácias
Em segundo lugar, o relatório revela que a internet se transformou no principal veículo de pirataria de medicamentos no mundo todo. Quanto a isso, qualquer leitor certamente já deve ter recebido e-mails de supostas farmácias canadenses que oferecem, sem receita, e a preço às vezes abaixo do mercado nacional, viagra, ciallis, levitra, além de calmantes, estimulantes e emagrecedores.

Segue transcrito o slogan de uma delas, que entope quase diariamente as nossas caixas postais: "The meds you order is the meds you get" que se poderia traduzir por "o remédio que você encomenda é o que você recebe". Esse slogan é útil justamente para apresentar o terceiro ponto do relatório do Escritório Internacional para o Controle de Psicotrópicos: estima-se que de 25 a 50% dos medicamentos vendidos pelas ciberfarmácias são falsificados.

Ou seja, o remédio que você encomenda nem sempre é o que você recebe e o efeito que ele terá sobre seu organismo é imprevisível, embora a busca de lucros maiores aponte para o fato desses medicamentos serem inócuos, sendo fabricados da maneira mais barata possível, à base de substâncias, por assim dizer, sem princípio ativo.

O lado irônico da pirataria
No que se refere aos medicamentos contra a disfunção erétil, porém, há um aspecto interessante e irônico que não pode deixar de ser mencionado. Mesmo em se tratando de um comprimido falso, em teoria inócuo, ele pode provocar no usuário as reações desejadas, devido ao efeito conhecido como placebo.

Trata-se de um efeito real de uma substância inócua sobre o organismo, causado pela crença de que o "remédio" ingerido vai produzir, efetivamente, algum resultado. Já está estabelecido que a crença e a esperança de uma pessoa no tratamento que vai receber pode produzir reações bioquímicas, estimulando, por exemplo, a mobilização do sistema imunitário.

O efeito placebo ultrapassa os limites do medicamentos falsificados e se estende das terapias alternativas ao curandeirismo - passando pelas célebres pílulas de frei Galvão. É um tópico complexo e polêmico, bem como um recurso largamente utilizado nas pesquisas com medicamentos pela indústria farmacêutica.

Num grupo de pacientes em quem se testa a ação de um remédio, alguns, sem tomar conhecimento disso, recebem as chamadas "pílulas de açúcar", para que depois se realizem comparações entre os resultados constatados nestes e nos que tomaram o fármaco efetivamente.

Por que o Canadá?
Em tempo: muita gente pode se perguntar por que o Canadá se transformou na pátria das ciberfarmácias. Na verdade, devido a sua política de fabricação de medicamentos, os remédios canadenses são muito mais baratos que seus similares norte-americanos. Isso tem alimentado o contrabando de remédios canadenses para os Estados Unidos e já está provocando grandes prejuízos à indústria farmacêutica norte-americana e disputas na Organização Mundial do Comércio.

O assunto foi até tema de um episódio de "Os Simpsons", em que o pai de Hommer torna-se um contrabandista. Aliás, diz-se que, hoje, na fronteira entre os dois países, se dois carros estiverem deixando o Canadá e entrando nos Estados Unidos, sendo um deles a van de um rastafari com adesivos fazendo a apologia da maconha, e o outro um carro discreto tripulado por um casal de velhinhos, a alfândega norte-americana vai parar e revistar o carro dos idosos, mandando a van seguir adiante, sem maiores problemas.

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