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Estados Unidos e Paraguai - O que há por trás das bases militares norte-americanas?

Edilson Adão C. Silva, Especial para o UOL

Fomos surpreendidos recentemente com a notícia sobre a possibilidade de instalação de bases norte-americanas em território paraguaio. Essa possível instalação seria um passo posterior a um estreitamento comercial preliminar entre os dois países. O fato geopolítico chama a atenção e nos obriga a algumas considerações.

Primeiramente, é preciso salientar que um acordo comercial entre os dois países americanos implicaria a revisão da presença do Paraguai no Mercosul, pois as regras do bloco são claras nesse sentido -não se permite alianças comerciais em separado-, e o Paraguai teria que optar entre os Estados Unidos e o Mercosul. O custo ao país platino seria alto, pois as exportações paraguaias estão orientadas essencialmente para os parceiros do bloco meridional, particularmente o Brasil.

De outro lado, é sintomático o esforço norte-americano de uma maior presença militar no subcontinente, num momento em que a América do Sul nunca esteve tão à esquerda em toda sua história. Ao contrário: a tradição sul-americana é de ditaduras e regimes de direita. Para citar alguns exemplos do presente momento à esquerda: Chavez, na Venezuela, Lula no Brasil, Basquez, no Uruguai, sem contar os casos de Chile, Equador e ainda a Argentina. A coroação do "esquerdismo" sul-americano viria com a possível vitória de Evo Morales, na Bolívia; o líder cocalero do MAS (Movimento ao Socialismo) desponta como principal nome nas eleições em dezembro de 2005.

Junte-se a esse momento político sul-americano fortes interesses que a hiperpotência tem na região: o gás boliviano, o petróleo venezuelano, sem falar na suposta "cobiça" amazônica, tantas vezes propaladas por geopolíticos militares brasileiros.

Contudo, a justificativa norte-americana para uma suposta intervenção na região reside, basicamente, em dois fatores.

Primeiro, o combate ao narcotráfico colombiano, atividade ilícita, mas que figura entre as mais rentáveis do mundo - segundo estimativa da ONU, próximo a US$ 1 trilhão anuais. A ilicitude desta atividade alimenta o crime organizado internacional e, consequentemente, está recheada de episódios violentos. O Segundo ponto de "preocupação" norte-americana, seria uma suposta presença de células terroristas locadas na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, onde a presença da comunidade árabe-muçulmana é, de fato, forte.

Como se vê, tal qual no Iraque ou no Afeganistão, a justificativa para a suposta presença sempre tem um fundo legítimo, afinal de contas existe uma subconsciente simpatia pública contra ditadores, traficantes, terroristas e drogas, e os Estados Unidos estão sempre dispostos "a livrar o mundo destes males".

O que falta informar é que próximo ao território em que os Estados Unidos pretendem se instalar localiza-se o Aquífero Gurani, o maior reservatório de água doce deste planeta. E todos sabemos o quão preciso será o líquido para o mundo, nas próximas décadas.

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