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Era da Informação - a internet e gadgets estão criando uma geração sem foco?

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Imagem: Getty Images

Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação

Você já deve ter passado por essas situações: diversas abas abertas no navegador, o celular vibrando com notificações de aplicativos e ícone do envelope piscando no canto da tela indicando que tem e-mail(s) na sua caixa de entrada. Tudo ao mesmo tempo.

Esse tipo de situação é cada vez mais comum no nosso dia a dia. Com tanta informação está cada vez mais difícil se concentrar numa atividade ou ler uma notícia ou um texto inteiro na internet ou fora dela sem se distrair.

Segundo estudiosos, vivemos na Era da Informação, do tudo ao mesmo tempo agora. O mundo digital e as redes sociais trouxeram muitas informações e um contexto em que tudo é imediato e instantâneo. O resultado é que a nova geração de jovens, a chamada geração Z, tem dificuldades de esperar e de se concentrar.

A grande característica desses jovens é zapear. Como cresceram em um mundo onde suas opções são ilimitadas, essa geração se adaptou rapidamente a receber e ter acesso à muita informação. São capazes de ligar ao mesmo tempo a televisão, o rádio, o telefone, ouvir música e navegar na internet. Por exemplo, dados do Spotify, serviço de streaming de música, mostram que 50% das pessoas pulam a música antes dela acabar. Já números do YouTube indicam que em apenas 8 segundos as pessoas decidem se vão assistir a determinado vídeo ou não.

O economista Herbert Simon foi o primeiro a descrever o fenômeno, ainda sem esse nome, na década de 1970: “A riqueza de informação cria pobreza de atenção, e com ela a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio à abundância de fontes de informação disponíveis”.

Nesse contexto surgiu o conceito da Economia da Atenção. A dificuldade de conseguir atenção das pessoas chamou a atenção de economistas, que usam o conceito para se referir a um recurso escasso que é cada vez mais disputado: o tempo das pessoas. Quanto mais coisas disputam a atenção de uma pessoa, mais valioso torna-se o tempo que ela dedica a uma ou outra atividade.

O economista Herbert Simon (1916-2001), Nobel de economia, foi o primeiro a descrever o conceito da Economia da Atenção, ainda sem esse nome, na década de 1970: "A riqueza de informação cria pobreza de atenção, e com ela a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio à abundância de fontes de informação disponíveis".

O cérebro dá conta de tanta informação?

Estudos de neurociência mostram que nosso cérebro não consegue colocar diversas áreas em ação simultaneamente com a mesma qualidade. Esses estudos indicam que há uma correlação entre os estímulos gerados pelo excesso de conexão no celular ou no computador e efeitos como redução da memória, dificuldade de selecionar informações e, em casos mais sérios, falta de empatia. Todos esses sintomas podem ser gerados pela tecnologia ou ela pode apenas acelerá-los.

Por ter nascido em um cenário com um fluxo intenso de informações, a chamada geração Z (nascidos após 1995) abraçou a ideia de ser multitask, termo usado para definir a pessoa que faz mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Um estudo da Universidade de Utah concluiu que apenas 2,5% das pessoas têm a capacidade de fazer (com desenvoltura) diversas atividades ao mesmo tempo: eles são chamados de supertaskers. Segundo os pesquisadores, boa parte dos 97,5% restantes até tenta, mas não consegue se organizar.

Mas fazer várias coisas ao mesmo tempo é bom? Conseguimos ter foco em tudo o que fazemos? Um estudo da Universidade de Stanford, neste ano, reuniu voluntários em dois grupos: um onde as pessoas usavam mídias diferentes ao mesmo tempo (lendo, vendo TV e checando o celular) e outro onde elas não faziam isso. Foi feito um teste com cores para checar quem se distraia mais com diferentes estímulos e um outro teste de eficiência, onde era preciso diferenciar números de letras. Em ambos os casos, o grupo de pessoas que não usava várias mídias ao mesmo tempo deixou a desejar. Isso porque sua atenção estava dividida e fraca, ou seja, eles se dispersavam facilmente.

Estudos também apontam dificuldade das pessoas em memorizar informações que elas sabem que estarão disponíveis ou armazenadas em seu computador. Parece que nos esforçamos menos para guardas essas informações na mente já que elas estarão a um clique.

Há também outra questão: consultorias de recursos humanos veem a geração Z como muito informada, utilizando ferramentas como smartphones, tablets, mas que ao mesmo tempo não se aprofundam em nenhum assunto.

Para Nicolas Carr, jornalista e autor que estuda a forma como usamos a tecnologia, e uma referência no tema hoje, a internet encorajou as pessoas a aceitar interrupções constantes, a fazer várias coisas ao mesmo tempo.

"Não importa o quão revolucionária seja, a net é melhor compreendida como a última de uma longa série de ferramentas que auxiliaram a moldar a mente humana. Agora surge a questão crucial: o que a ciência nos diz sobre os reais efeitos que o uso da internet está tendo no modo como nossas mentes funcionam? (...) Dúzias de estudos de psicólogos, neurobiólogos, educadores e web designers indicam a mesma conclusão: quando estamos online, entramos em um ambiente que promove a leitura descuidada, o pensamento apressado e distraído e o aprendizado superficial. É possível pensar profundamente enquanto se surfa na net, assim como é possível pensar superficialmente enquanto se lê um livro, mas não é o tipo de pensamento que a tecnologia encoraja e recompensa”, escreve ele em "A Geração Superficial".

Ele ainda avalia que muitas empresas lucram com a "distração" dos usuários. “Quanto mais tempo passamos on-line e quanto mais rápido passamos de uma informação para a outra, mais dinheiro as empresas de internet fazem”, avalia o autor.

Mas o excesso de conexão e atividades também modificou outra coisa na opinião de Carr: o tempo. A rapidez com que as ferramentas de mensagens evoluíram nos deixou mais ansiosos, ele acredita. Isso porque esperamos muito mais estímulos e respostas muito mais rápidas do que as que tivemos no passado.

É importante destacar que em nenhum momento estudos e autores condenam a internet. Reconhecem que ter acesso e trocar muita informação é um ganho para a sociedade e abre muitas oportunidades. No entanto, uma antiga reflexão se faz presente: sabemos qual o nosso limite?

Bibliografia

A Geração Superficial: o Que a Internet Está Fazendo Com Os Nossos Cérebros, de Nicolas Carr

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