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Dia Mundial da Luta contra a Aids - mortalidade cai no Brasil, mas doença avança entre homens jovens

Kiran Manjhunath/AFP
Imagem: Kiran Manjhunath/AFP

Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação

Pontos-chave

  • Desde 1981, 25 milhões de pessoas morreram em todo o mundo por doenças relacionadas à Aids. De lá para cá, muita coisa mudou. Com o avanço das pesquisas médicas, o HIV deixou de ser uma infecção letal.
     
  • 827 mil brasileiros são portadores do vírus HIV. Segundo o Ministério da Saúde, a epidemia está estabilizada. Ainda assim, mais de 41 mil novos casos surgem por ano no país e não há uma queda de novas infecções. 112 mil brasileiros desconhecem ter o vírus.
     
  • A doença tem avançado principalmente entre homens jovens. Os casos de Aids no Brasil aumentaram 40%, de 2006 a 2015, entre jovens de 15 a 24 anos.
     
  • No Brasil, a mortalidade pela doença caiu 42% em 20 anos, com a ampliação do diagnóstico e do tratamento.

Simbolizado por um laço de fita vermelho, o Dia Mundial de Luta contra a Aids é celebrado em 1º de dezembro. A data foi criada em 1998 e serve para dar visibilidade à doença, combater o preconceito e informar corretamente as formas de transmissão do vírus.

A Aids não tem cura, está em todos os continentes e ainda representa um dos problemas de saúde mais graves em todo o mundo. Hoje, mais de 33 milhões de pessoas vivem com HIV e o número tende a aumentar, principalmente na África e na Ásia.

No Brasil, os dados mais recentes do Ministério da Saúde estimam que 827 mil pessoas sejam soropositivas. A epidemia é considerada estável pelo governo, com taxa de detecção em torno de 19,1 casos para cada 100 mil habitantes. Ainda assim, mais de 41 mil novos casos surgem por ano no país e não há perspectiva de uma queda de novas infecções.

Do total de infectados brasileiros, 455 mil pessoas estão em tratamento e 260 mil sabem do seu estado, mas não começaram a se tratar. E mais: 112 mil desconhecem sua condição, o que eleva a chance de transmissão involuntária para outras pessoas. Elas podem ter o vírus e não sentir nenhum sintoma.

A boa notícia é que o número de vítimas fatais vem apresentando redução no país. Nos últimos 20 anos, houve uma queda de 42,3% nas mortes provocada pela doença. A taxa caiu de 9,7 óbitos para cada 100 mil habitantes em 1995 para 5,6 óbitos em cada 100 mil habitantes em 2015. Para o Ministério da Saúde, o resultado se deve a campanhas de incentivo ao diagnóstico e à adesão a tratamentos ainda no estágio inicial. 

Outro dado positivo é a diminuição na transmissão do HIV de mãe para filho --o índice caiu 36% de 2010 a 2015. Os motivos são a ampliação da testagem no pré-natal e o aumento da oferta de medicamentos para gestantes.

Mas ainda existem motivos para preocupação. Embora a epidemia de Aids seja considerada estável, o Brasil enfrenta agora o desafio de blindar o crescimento da incidência da doença entre jovens.

Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, os casos de Aids entre jovens de 15 a 24 anos aumentaram 40% de 2006 até 2015 em todo país.

Entre os motivos apontados estão a falta de acesso a serviços de saúde e a menor adesão desse grupo ao tratamento --pesquisas indicam que essa população não mantém o hábito de frequentar unidades de saúde. Entre os jovens de 18 a 24 anos, apenas 57% estão em tratamento.

Mas o principal fator tem a ver com a falta de prevenção: os jovens estão usando menos preservativos nas relações sexuais. O fato é que muitos contraem a doença porque estão mal informados, não porque não existam campanhas educativas. A avaliação dos médicos sobre a epidemia entre jovens é atribuída a uma mudança cultural.

É possível que essa nova geração tenha perdido o medo da Aids, por acreditar que ela é uma doença do passado ou que ela não mate tanto quanto antes. Muitos também acreditam que, se pegar o vírus, é só tomar um remédio que está tudo bem. O resultado dessa falsa percepção pode ser a falta de uso de preservativos durante as relações sexuais.

Os jovens de sexo masculino constituem o maior número de infecções por HIV no Brasil. A pesquisa revelou uma queda no número de mulheres infectadas, em todas as faixas etárias. Em 2015, houve 1 caso de mulher infectada para cada 3 casos de homens. Em 2006, a proporção era 1 caso de mulher para cada 1,2 casos de homem.

A preocupação é ainda maior com a população jovem gay. Em 2014, o Ministério da Saúde estimou que 0,4% da população brasileira estaria infectada pelo HIV. Mas, entre homens que fazem sexo com outros homens maiores de 18 anos, a taxa subiria para 10,5%.

Outros grupos vulneráveis ao contágio são formados por profissionais do sexo e por usuários de drogas, especialmente nas camadas mais pobres da população.

A doença e sua transmissão

A Aids é uma doença causada pelo HIV, sigla para Vírus da Imunodeficiência Humana. Ela se caracteriza pelo enfraquecimento do sistema imunológico do corpo. Mas ter o vírus não significa necessariamente ter Aids. Uma pessoa é considerada soropositiva quando apresenta o HIV no sangue. Quando manifesta forte deficiência no sistema imunológico, ela é considerada doente.

O HIV destrói o sistema imunológico e se “alimenta” das células que defendem o corpo de infecções e doenças. Quanto mais o vírus ataca, mais vulnerável o corpo fica. Quando o organismo não tem mais forças para combater os agentes externos, aparecem micróbios e doenças oportunistas --como a tuberculose, pneumonia, a meningite ou o sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer. Se não tratadas, essas infecções podem levar à morte.

Uma vez que o HIV se instalou no corpo, o portador pode transmiti-lo para outra pessoa através de relações sexuais sem preservativos ou pelo contato com sangue contaminado (transfusão de sangue, cortes no corpo e compartilhamento de seringas). Uma mãe que tenha HIV e não faça o tratamento também pode transmitir o vírus para o filho, tanto na gestação quanto na amamentação.

A detecção do vírus é feita por exame de sangue e os tratamentos mais comuns são feitos com a combinação de drogas antirretrovirais que têm como objetivo aumentar a sobrevida das pessoas infectadas. Elas atuam no fortalecimento das defesas do organismo e na prevenção de infecções.

Aids ontem e hoje

O mundo começou a viver uma epidemia de Aids a partir da década de 1980. Os primeiros casos da doença surgiram em países africanos, mas o primeiro registro oficial foi em 1981, nos Estados Unidos.

Nos primeiros anos da doença, foram definidos alguns grupos de risco para caracterizar os mais expostos ao HIV. Os grupos de maiores vítimas eram os homossexuais masculinos, os usuários de drogas injetáveis e os profissionais do sexo.

Por ter se espalhado rapidamente em comunidades gays, a Aids ganhou a referência pejorativa de “peste gay”, o que fez o preconceito aumentar ainda mais contra essas minorias.
Mas, logo depois, a doença apareceu em homens heterossexuais, mulheres e crianças que haviam passado por cirurgias ou recebido transfusões de sangue. A sociedade aprendeu que o vírus não escolhia gênero ou opção sexual e que ele havia se tornado uma epidemia planetária.

Atualmente não se usa mais a expressão “grupo de risco”. O mais correto é falar em comportamentos ou situações de riscos, porque o vírus se espalha de forma geral, todo mundo pode pegar. São considerados os principais comportamentos de risco ter relações sexuais sem proteção e compartilhar seringas e agulhas.

No início, a medicina ainda não sabia como diagnosticar a enfermidade. Teve até quem achasse que a Aids pudesse ser transmitida pelo ar. O pânico assustou profissionais de saúde e portadores. O tempo entre o diagnóstico e a morte era de apenas seis meses. A infecção pelo HIV passou a significar uma verdadeira sentença de morte. Em 1983, pesquisadores isolaram o vírus pela primeira vez e, em 1987, surgiu a primeira droga para ajudar no tratamento da doença.

A falta de informação sobre a doença fez com que os portadores de HIV fossem discriminados. Muita gente se recusava a apertar a mão ou mesmo tocar em soropositivos. Ainda hoje existe um forte estigma a ser combatido.

A sociedade tinha a imagem de que a doença era realmente mortífera. A geração de jovens que cresceu nessa época presenciou a morte de ídolos como os cantores Freddie Mercury, Cazuza e Renato Russo, o jogador de basquete Magic Johnson e o cartunista Henfil e seu irmão Betinho.

Desde 1981, 25 milhões de pessoas morreram em todo o mundo por doenças relacionadas à Aids. De lá para cá, muita coisa mudou. Com o avanço das pesquisas médicas, a síndrome deixou de ser letal. Quem faz o tratamento e toma corretamente os medicamentos pode viver muitos anos e levar uma vida quase normal.

Enquanto isso, a ciência sonha em descobrir uma vacina segura e eficaz. Diversos compostos já estão sendo testados. O maior obstáculo é a complexidade do HIV, um vírus com alta taxa de mutação.

O Brasil é considerado pela Organização Mundial da Saúde como um dos países mais avançados em programas de prevenção e tratamento da doença. O modelo brasileiro virou referência e prevê a produção de remédios localmente, sem o pagamento de royalties para laboratórios internacionais. Aqui o teste de HIV pode ser feito gratuitamente em postos de saúde, que também distribuem medicamentos e preservativos de graça. 

África: o continente devastado pela Aids

A África é o continente que reúne o maior número de pessoas contaminadas. Sete em cada dez ocorrências de Aids no mundo se concentram no continente africano. A doença já matou 17 milhões de africanos.

Em alguns países, as estatísticas são assustadoras. Em Botsuana, mais de um terço da população adulta vive com o HIV. Na África do Sul, 20% da população está contaminada, no total de 4,2 milhões de pessoas.

A doença possui uma relação direta com a pobreza. Dos 33 milhões de soropositivos no mundo, 90% vivem em países pobres. Os governos não possuem recursos para bancar o alto custo do tratamento e realizar programa eficientes prevenção. E, como a população produtiva está morrendo, esses países estão ficando ainda mais pobres. O futuro parece ainda mais comprometido: a África concentra 90% dos casos de crianças com HIV. 

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