Topo

Atualidades

Democracia no mundo árabe - TV iraquiana faz campanha para condenar Saddam à morte

Da Folha de S.Paulo

Durante um interrogatório de um pai, a polícia secreta de Saddam Hussein colocou seu filho, ainda bebezinho, dentro de um saco e, em seguida, atirou um gato selvagem para lhe fazer companhia. O gato passou a arranhar barbaramente a pequena vítima. Sem resistir, o pai confessou pertencer a um partido político proscrito. Em outra cena, também chocante, um dissidente é atirado do telhado de um alto edifício.

São episódios verídicos, documentados no passado pela polícia da ditadura e agora transmitidos pela TV estatal iraquiana, a Iraqiya.

O programa, informa a agência Reuters, coincide com os preparativos do julgamento do ditador deposto. Os integrantes xiitas do atual governo estão em campanha para que Saddam seja condenado à morte.

Mas a campanha pela televisão compromete a credibilidade do tribunal especial que julgará o ex-ditador, já que mistura a conveniência política com as razões do Judiciário, algo incompatível com um país com a pretensão de se tornar a primeira democracia verdadeira no mundo árabe.

Em outra cena na TV, Ali Hassan al Majid, primo do ditador e cognominado "Ali Químico" por ter matado 5.000 curdos com armas químicas em 1988, aparece interrogando xiitas depois de uma rebelião de que o grupo participou em 1991. Em seguida, um policial, até então fumando um cigarro, esbofeteia violentamente o interrogado, que, em seguida, seria fuzilado.

As cenas são quase sempre fortes. Um prisioneiro político é atirado ao chão de braços abertos. Policiais, em seguida, arrebentam com um porrete os ossos de um dos braços do interrogado. Em outro episódio, policiais descarregam o tambor de seus revólveres na cabeça de um dissidente.

Contagem de mortos
O Ministério do Interior iraquiano divulgou ontem nota em que afirma que, entre julho de 2004 e maio de 2005, foram 8.175 as pessoas mortas no país, a maioria civil.

Com a cifra, o governo procura contestar a informação divulgada na véspera por uma entidade britânica, a Iraq Body Count, segundo a qual nos últimos dois anos foram mortos 25 mil civis, entre os quais eram mais numerosas as vítimas dos militares estrangeiros que as dos grupos insurgentes.

"Consideramos ser um erro aceitar que o terrorismo matou menos que as forças multinacionais", diz a nota oficial.

O governo e a entidade britânica não se referem ao mesmo período. Mas há entre os dois números uma discrepância importante.

A polícia iraquiana dispõe de dados incompletos, enquanto as forças americanas e britânicas não elaboraram estatísticas, o que torna mais verossímil a contagem feita pela ONG britânica.

De qualquer modo, além dos iraquianos, os porta-vozes militares estrangeiros também disseram que consideravam exagerados os números da Iraq Body Count.

Atualidades