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Curiosidades eleitorais - Casos pitorescos e velhos problemas

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Não faltaram curiosidades nas eleições municipais de 2008, cujo primeiro turno se encerrou a 5 de outubro. Elas revelam, com certeza, um lado pitoresco da atividade política, ao mesmo tempo em que levam a refletir sobre o que faz esse tipo de coisas acontecerem. Algumas talvez sirvam para exemplificar certos aspectos característicos do povo brasileiro, como o bom humor e a irreverência. Outros servem como amostra de problemas que a democracia ainda não resolveu em nossa cultura política.

Entre os elementos pitorescos, em primeiro lugar, talvez se possam destacar os candidatos folclóricos que, utilizando nomes esquisitos ou realizando verdadeiras performances na propaganda eleitoral pela televisão, tentaram conquistar um lugar na Câmara de seus municípios, além de quinze minutos de fama.

No maior colégio eleitoral do país, a cidade de São Paulo (SP), com cerca de 8 milhões de eleitores, chamou a atenção o candidato a vereador Enéas Filho, que se apresentava como um verdadeiro clone do falecido deputado federal Enéas Carneiro. A imitação, porém, não teve o eficiente desempenho do original, conquistando apenas 1.631 votos, ou 0,03% do eleitorado. Enéas, o verdadeiro, quando surgiu, em 1989, também não se elegeu, mas amealhou 380 mil votos, com inserções de apenas 17 segundos na TV. Em 2002 foi o campeão de votos à Câmara dos Deputados.



Lugares incomuns

Da mesma falta de sorte do falso Enéas, compartilharam outros candidatos paulistanos que concorreram com nomes incomuns como Rainha Naja (0,01% dos votos válidos), Kid Bengala (0,02%), Betão do Lava Rápido (0,06%) e a drag queen Salete Campari (0,05%). Mas, evidentemente, a criatividade na escolha do apelido eleitoral não é uma exclusividade dos paulistanos.

Em Campina Grande (PB), por exemplo, houve um candidato que se registrou como Roberto Alexandre, o Rei dos Cornos, e outro como Gordinho da Bisteka (com K mesmo). Em Cuiabá (MT), candidatou-se um tal de Lúcio Mandioca, que, aliás, aparecia nos santinhos de campanha empunhando uma enorme raiz da planta da qual extraiu o nome. Nenhum dos três conseguiu se eleger, obtendo, respectivamente, magros 84, 278 e 698 votos.

Resultado igualmente magro obteve o candidato Gordinho de Itu, que se tornou conhecido Brasil afora devido ao Tas na Zona Eleitoral e ao Monkey News, do UOL, que reproduziram seu vídeo de campanha. Nele, o Gordinho não dizia uma palavra. Apenas devorava pedaços de melancia, enquanto uma música de fundo sugeria que o eleitor lhe confiasse o seu voto. Não confiou: o candidato teve somente 116 votos ou 0,14% dos 81.372 votos válidos da cidade de Itu (SP).



Super-heróis e representatividade

Outros candidatos performáticos, como o Hulk e o Robin, ambos de Aracaju (SE), que se apresentavam fantasiados como os personagens de histórias em quadrinhos, também não conseguiram melhores resultados. O Hulk faturou somente 137 votos, enquanto o amigo do Batman chegou a atingir 1.171 votos, que não foram suficientes para elegê-lo.

Não se limitam aos candidatos folclóricos as curiosidades das eleições municipais. Um fato interessante é o de que os candidatos a vereador mais votados nos três maiores colégios eleitorais do país se elegeram com porcentagens mínimas do total de votos válidos. Gabriel Chalita, em São Paulo, teve 102.048 votos ou 1,7% dos votos válidos. No Rio de Janeiro (RJ), Lucinha, a primeira colocada, conseguiu 68.799 votos, que representam somente 2,1% do eleitorado. Igualmente o prof. Elias Murad, de Belo Horizonte (MG), com seus 15.473 votos, representa somente 1,2% dos eleitores da capital mineira.

A propósito, os candidatos a vereador menos votados nessas cidades foram um certo Italiano, em São Paulo, com três votos, que representam 0,00005% do eleitorado; Vanessa Guida e Jacqueline Oliveira, no Rio de Janeiro, ambas com três votos (0,0001%); Samira Abuid e Sebastião Soares Martins Filho, um voto cada em Belo Horizonte(0,00005%). Mas atenção: houve gente com nenhum voto nos três colégios eleitorais. Respetivamente 17, 36 e 15 candidatos.



Empate e terceira idade

Entre os casos curiosos, encontra-se, sem dúvida, o do empate em Dom Cavati (MG): os dois candidatos a prefeito - Pedro Euzébio Sobrinho e Jair Vieira - obtiveram cada um 1.919 votos, o que garantiu a vaga ao mais velho deles, de acordo com o Código Eleitoral brasileiro.

Por falar em idade, o prefeito mais idoso do país é Susumo Itimura, de Uraí (PR) com 90 anos. São 70 a mais que o do prefeito eleito mais moço, Caio Curado, de Faina (GO), que tem 20 anos. Caio, por sinal, só poderá assumir porque completará 21 anos antes da data da posse. Quem não conquistou uma cadeira em Feira de Santana (BA) foi Mamãe, nome com que concorreu Deodata Pereira Borges, a candidata mais idosa do país, com 104 anos - 38 a menos que o seu número de votos.



Um velho problema

Existem, contudo, curiosidades menos pitorescas. Quem aponta uma delas, da maior gravidade, é a ONG Transparência Brasil. O combate a corrupção foi um tema completamente ignorado pelos candidatos a prefeito de todos os municípios brasileiros. Dados de auditorias realizadas pela Controladoria-Geral da União revelam que se detecta sempre malversação de verbas em mais de 90% dos casos dos programas federais conduzidos em municípios ao redor do país.

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