Crise diplomática no Golfo Pérsico - países vizinhos rompem relações com o Catar
Desde o dia 5 junho, o Catar é alvo de um embargo por parte de seus vizinhos do Golfo Pérsico. Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Bahrein romperam relações diplomáticas com o país, acusado de apoiar o terrorismo e desestabilizar a região. O grupo fechou as fronteiras terrestres e marítimas e impôs severas restrições aéreas ao emirado.
O Catar é uma pequena nação do Oriente Médio, mas é um grande produtor de combustíveis fósseis. O petróleo e o gás formam a base da economia do país, considerado o maior exportador mundial de gás natural liquefeito. O Catar também faz parte do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) junto com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Arábia Saudita, Kuwait e Omã.
Na última década, as riquezas oriundas do petróleo fizeram o país enriquecer e investir em infraestrutura. Modernos prédios, carros luxuosos e lojas de grife fazem parte da rotina de Doha, capital catariana. Em 2022, o Catar sediará a Copa do Mundo de futebol. O evento é considerado estratégico para promover a imagem da nação pelo mundo. Para tanto, o governo investe milhões de dólares na construção das instalações esportivas.
O inédito rompimento de laços surpreendeu a comunidade internacional. Para alguns analistas, essa é a maior crise diplomática na região desde a Guerra do Golfo em 1991, quando o iraquiano Saddam Husein invadiu o Kuwait. Muitos temem que o embargo possa levar a uma nova onda de instabilidade na região.
A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Egito emitiram uma lista de 13 exigências para o Catar, incluindo o encerramento da emissora de TV Al-Jazeera, o financiamento e o apoio ao terrorismo, e o fim das relações diplomáticas com o Irã.
O governo catariano, comandado pelo emir Tamim bin Hamad Al-Thani, respondeu que as demandas apresentadas são uma violação à sua soberania. O ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Anwar Gargash, pediu ao Catar que leve a sério a lista de demandas ou que se prepare para um "divórcio efetivo".
Apesar de ser uma nação rica, o Catar depende da importação de alimentos para abastecer a população. Com o embargo, o país está sendo obrigado a receber comida e suprimentos de emergências do Irã e da Turquia. O governo afirma que tem fundos suficientes para evitar um colapso econômico, mas ninguém sabe até quando a situação vai durar.
Entenda alguns pontos fundamentais da crise:
A acusação de apoio a terroristas
A decisão do embargo aconteceu após o governo saudita acusar o Catar de financiar grupos extremistas, como o Estado Islâmico, a Al-Qaeda e a Irmandade Muçulmana (adversário do governo egípcio).
O governo catariano nega as acusações de patrocinar grupos extremistas e disse que o Catar está comprometido com as leis e convenções internacionais, especialmente no que se refere à luta contra o terrorismo e o seu financiamento.
A relação com os Estados Unidos
Os Estados Unidos são tradicionais parceiros da Arábia Saudita, país que está liderando o embargo.
Após o rompimento anunciado pelos vizinhos ao Catar, o presidente Donald Trump escreveu no Twitter "É bom ver minha visita à Arábia Saudita dando frutos”. O líder dos Estados Unidos viajou ao país para estreitar relações e convocar os países muçulmanos a se unirem contra o extremismo.
Em maio deste ano, Trump assinou um contrato de 110 bilhões de dólares para venda de armas à Arábia Saudita. Com o apoio dos EUA, o governo saudista inaugurou um observatório para monitorar atividades jihadistas e a captação de combatentes na internet.
Apesar das declarações polêmicas de Trump, o Catar é um importante aliado dos EUA. Ele abriga a maior base aérea americana na região. A base de Al Adid é sede do comando militar dos Estados Unidos para o Oriente Médio e possui mais de 11 mil militares.
A emissora de TV Al-Jazeera
Criada em 1996, pelo governo do Catar, a Al Jazeera é a maior rede de notícias do país e uma das maiores no mundo árabe. O canal de televisão e o site são reconhecidos pela independência editorial em relação aos veículos de mídia da região.
Apesar de ser um sucesso de audiência, a estatal já foi repreendida por coberturas como a Primavera Árabe e do golpe de Estado no Egito. A emissora foi acusada de defender os rebeldes e ser porta-voz de grupos como a Irmandade Muçulmana, organização que se tornou um partido político e que se opõe ao governo egípcio. Ela também já foi criticada por não se esforçar em cobrir a repressão contra a oposição iraniana.
A empresa de mídia está no centro do recente conflito diplomático do Golfo. A tensão entre o Catar e seus vizinhos aumentou depois que a agência de notícias publicou um artigo no qual o emir Tamin bin Hamad Al Thani aparece elogiando Israel e Irã, os maiores adversários da Arábia Saudita na região. O governo catariano alega que o artigo foi uma notícia falsa, fruto de um ataque hacker.
Os vizinhos do Catar acusam a Al Jazeera de incentivar intrigas e exigem que ela encerre suas atividades ou que seja censurada. O Catar defende que a emissora é atacada por ser considerada uma rede que preza a liberdade de opinião numa região que viola a liberdade de expressão e os direitos humanos.
Em comunicado oficial, a emissora defendeu a liberdade de imprensa. "Acreditamos que os pedidos para que se a Al-Jazeera seja fechada são uma tentativa de silenciar a liberdade de expressão na região e de suprimir o direito à informação".
As relações com o Irã
O Irã, país de maioria muçulmana xiita, é o principal rival da Arábia Saudita, país de maioria sunita. Apesar disso, os iranianos são importantes parceiros comerciais do Catar. Os saudistas pressionam o vizinho para se distanciarem do Irã.
Recentemente, o emir Tamin bin Hamad Al Thani foi protagonista de um “mal-estar” diplomático. Após ganhar a reeleição, ele recebeu publicamente os cumprimentos do presidente do Irã, Hassan Rouhani, mesmo sabendo que isso poderia irritar a Arábia Saudita. Durante a conversa entre os dois, Rouhani sinalizou que buscava uma “maior cooperação” na região.
O Irã é acusado de avançar militarmente na região do Golfo e ter instigado a guerra civil no Iêmen, combatida por uma coalização árabe liderada pela Arábia Saudita. Os saudistas acusam o Irã de financiar e armar os rebeldes houthis. O Irã nega o envolvimento, mas acusa os sauditas de devastarem o país.
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