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Bípedes - Andar sobre dois pés é característica essencial do ser humano

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Publicada no periódico "Proceedings of the Natural Academy of Sciences", em 16 de julho de 2007, uma pesquisa dirigida pelo antropólogo Michael Sockol, da Universidade de Nova York, propõe a teoria de que o ser humano passou a andar em pé porque isso é menos custoso em termos energéticos.

A conclusão do estudo afirma que o homem - por ser bípede - gasta 25% menos calorias para caminhar do que o chimpanzé, o qual anda com o auxílio dos braços, além das pernas. Talvez se possa considerar esse resultado uma evidência de que a preguiça é parte integrante da personalidade da espécie humana.

Por outro lado, o bipedalismo, ou seja, a postura ereta sobre os dois pés, é uma das características essenciais do Homo sapiens, segundo a ciência que estuda os seus traços físicos marcantes: a antropologia biológica. Vale a pena conhecer outros desses elementos característicos do homem e perceber como eles influem em nosso desenvolvimento sociocultural.

Estudiosos da evolução humana apontam pelo menos dez elementos significativos que não só nos diferenciam de outras espécies de primatas, como também influenciam diretamente o modo de levarmos nossas vidas como seres humanos. Vamos passar em revista os quatro mais importantes.

Cabeça grande
Em 2,5 milhões de anos de evolução, o volume do cérebro das espécies que dariam origem ao Homo sapiens passou de 400 centímetros cúbicos (cc) a 1.400 cc, em média.

A inteligência está relacionada ao tamanho cerebral. Porém, não exclusivamente. Outras características do cérebro têm de ser analisadas para entender as relações entre características físicas e capacidades intelectuais ou mesmo entre a fisiologia e o comportamento sociocultural.

Apesar de avançados, os estudos para compreender o órgão que é a sede da inteligência humana ainda estão no começo. Tiveram grande impulso nos anos 1990, proclamada "a década do cérebro" pelos cientistas. Entre eles, muitos poderiam ser destacados, mas vale citar somente um, o luso-norte-americano Antônio Damásio, da Universidade de Iowa.

Damásio merece a citação uma vez que, além das descobertas que realizou, escreveu uma obra de divulgação científica, "O Mistério da Consciência", em que procura explicar ao leigo "as bases biológicas" dessa mesma consciência, fenômeno que nos permite tanto perceber a realidade quanto nos relacionar com ela. O livro foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras.

Meu querido pé
Bipedalismo e postura ereta são duas características co-relacionadas que precederam o advento da espécie humana. Já se manifestavam em alguns de nossos ancestrais mais remotos. O fato de serem bípedes lhes permitiu sobreviver às mudanças climáticas que transformaram as florestas em savanas, há 5 milhões de anos.

Com a nova postura, as mãos ficaram livres para realização de outras tarefas que levaram ao aparecimento de um modo distintamente humano de vida. Nele se pode destacar a produção de ferramentas, com que o homem e seus ancestrais adquiriram vantagens na adaptação ao meio natural.

Caracterizados por possuírem dedão grande e capaz de agarrar galhos, os pés das espécies de macacos atuais são adaptados essencialmente à vida nas árvores. Os pés dos humanos, por sua vez, são adaptados à locomoção bípede e o seu dedão serve como uma plataforma flexível para caminhar e correr.

Sem as especificidades de nosso pé, os antepassados do homem teriam se tornado presas fáceis para os predadores do continente onde surgiram e viveram: a África.

Mão na roda
Como no caso do pé, a mão humana é uma modificação da anatomia básica dos primatas. O dedo polegar humano é mais longo do que no chimpanzé ou gorila. Além disso, é posicionado ligeiramente mais longe dos outros quatro dedos, o que lhe permite opor-se a eles, bem como ter maior rotação.

Nosso dedo polegar pode ser girado contra os dedos, o que permite pegar objetos de diferentes tamanhos com a mesma eficiência e manipulá-los com maior destreza. Essa alteração anatômica possibilitou uma ampla variedade de funções que os humanos têm e os macacos não.

O polegar opositor nos dá tanto força para agarrar, quanto precisão para desenvolver movimentos sutis. As atividades executadas pelas mãos humanas são bastante diversificadas e possibilitaram não somente a utilização de ferramentas como a lança e o machado, mas também linha e agulha. Sem falar que só as mãos humanas podem servir para pintar um quadro ou tocar um violino.

Uma questão de pele
A combinação de altos níveis de transpiração e a quase ausência de pêlos faz da pele humana um dispositivo refrescante que dissipa o calor químico produzido através de esforço. Isso possibilita ao homem, por exemplo, correr por mais tempo do que os chimpanzés.

Portanto, até recentemente, os cientistas consideravam que a pele humana compensava o esforço necessário à própria posição ereta do homem. Mas é justamente esse esforço que o estudo de Michael Sockol questiona, mostrando que o andar de pé é uma forma de poupar trabalho.

Desse modo, ao mesmo tempo que esclarece aspectos da evolução humana, a pesquisa da equipe de Sockol questiona conhecimentos estabelecidos anteriormente. E nisso se pode apontar uma característica essencial à própria ciência: ela não é estática, faz-se e se refaz continuamente, evoluindo como o próprio homem que a produz.

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