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Batalha de Maratona - Entenda a origem da palavra "maratona"

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Primeiro sul-americano a vencer a Maratona de Nova York, a 5 de novembro de 2006, o brasiliense Marílson Gomes dos Santos merece os louros da vitória por diversos motivos. Em primeiro lugar, por sua performance espetacular. No meio da prova, ele ultrapassou o pelotão de elite e, a partir do quilômetro trinta, manteve-se na dianteira durante os 12 quilômetros restantes, até chegar ao final, surpreendendo os concorrentes africanos e os comentaristas esportivos norte-americanos, que mal o conheciam.

Em segundo lugar, por sua origem humilde e seu índice muito baixo de gordura corporal (3,8%), o que tornou mais difícil enfrentar o frio de 6ºC em Nova York naquela manhã de domingo, em especial para quem não está acostumado a baixas temperaturas. Finalmente, não se deve esquecer o significado histórico e mitológico da expressão que dá o nome a essas longas corridas.

Para começar, Maratona é um nome próprio que designa uma planície e uma cidade a cerca de 35 km de Atenas, na Grécia. Em 490 a.C., ali se travou uma batalha cujo resultado foi decisivo não só para os atenienses e gregos da época, mas para todos nós, ocidentais, que temos na Grécia um dos mais antigos ancestrais de nossa civilização.



A batalha de Maratona

O que estava em jogo na batalha de Maratona? A civilização grega e a democracia que nela estava surgindo naquele momento. Se o Império persa, que era o inimigo, tivesse vencido, os resultados talvez pudessem ser comparados a uma vitória de Hitler na Segunda Guerra Mundial.

A comparação não é nada impertinente, sob o ponto de vista histórico, uma vez que se tratava da luta entre um regime democrático e outro despótico, em que o rei mandava e quem tivesse juízo obedecia. Por outro lado, imaginar as consequências de uma vitória persa seria deixar a história de lado e entrar no reino da fantasia.

Mas tem mais: a vitória grega em Maratona foi verdadeiramente heroica, pois aconteceu em circunstâncias muito desfavoráveis. Naquele momento, boa parte das cidades litorâneas e das ilhas gregas já havia sido conquistada pelos persas, comandados pelo rei Dario 1º (521-486 a.C.). Muitas das cidades gregas que permaneciam livres ainda vacilavam, temerosas de enfrentar uma potência fortíssima, que já dominava inclusive o Egito.



Cinco contra um

Os atenienses não só se dispuseram a resisitir ao invasor, como a se humilhar, pedindo a ajuda de Esparta, que era tradicionalmente sua rival. Os espartanos aceitaram colaborar, mas chegaram tarde demais. Desse modo, contando somente com a ajuda dos habitantes de uma pequena cidade, Plateia, e sob o comando do general Milcíades (550-489 a.C.), cerca de 10 mil atenienses enfrentaram quase 50 mil persas e se saíram vencedores, fazendo o inimigo bater em retirada.

Para se ter a ideia do que a vitória em Maratona significou para os gregos daquela época, basta lembrar que Ésquilo (525-456 a.C), o "pai" do teatro grego, ao escrever seu próprio epitáfio, não mencionou nenhuma das peças de sua autoria, mas fez questão de lembrar de sua corajosa participação na referida batalha.



De Atenas a Nova York

Mas, afinal, em que tudo isso associa o nome Maratona a corridas de longo percurso? Segundo Heródoto (Livro 6, 105-106), o "pai" dos historiadores, o general Milcíades teria despachado um soldado de nome Fidípedes para avisar os espartanos do desembarque dos persas em terras gregas. Para isso, o mensageiro atravessou correndo os cerca de 240 km que separam Atenas de Esparta, durante dois dias, deu sua mensagem e morreu do coração.

Ou seja, as corridas chamadas de maratona rememoram e homenageiam a façanha (possivelmente lendária) de Fidípedes. Com esse nome, passaram a ser disputadas a partir das primeiras Olimpíadas modernas, realizadas em Atenas, em 1896, cobrindo a distância que separa a capital da Grécia da cidade de Maratona, que não chega a 40 km. Os 42.195 m atuais foram estabelecidos nos jogos olímpicos de Londres, em 1908, para permitir que a família real assistisse, do Palácio de Windsor, o início da corrida.

A primeira maratona anual foi na cidade de Boston, nos Estados Unidos, a partir de 1897. Várias cidades aderiram gradualmente à prática em todo o mundo. Atualmente, o recordista mundial na categoria é o queniano Paul Tergat, que completou o percurso em Berlim, em 2003, num tempo de 2h04m55s.

Na maratona vencida pelo "nosso" Marílson Gomes dos Santos, em 2h09m58s, Tergat não deixou de subir ao pódio, embora no terceiro degrau. E foi um dos primeiros concorrentes a reconhecer, com certo constrangimento, que não conhecia o vencedor.

Marílson agora virou celebridade, fechou o pregão da bolsa de Nova York e deu entrevista a David Letterman. E, claro, recebeu a tradicional coroa feita com folhas de louro, uma planta associada à imortalidade e à glória desde a Antiguidade clássica.

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