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Aquecimento global (5) - Os efeitos da catástrofe no Brasil

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Apresentado no dia 2 de fevereiro de 2007, em Paris, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) mais confirmou hipóteses do que revelou surpresas.

Há 90% de certeza de que o aquecimento global é causado pelas atividades humanas, que seus efeitos no clima já começaram e que continuarão pelos próximos séculos, ainda que haja um corte nas reduções dos chamados gases estufa, que provocam o efeito conhecido pelo mesmo nome.

O relatório, porém, traz dados mais consistentes e realistas que o da última versão, datada de 2001, pois os modelos de análise do clima foram bastante aprimorados nesses últimos anos. Com isso, uma questão particularmente preocupante para o Brasil tornou-se evidente: a dos extremos climáticos, que se caracterizam por pancadas de chuva violentas alternadas por longas secas, ondas de calor e furacões.

Extremos climáticos
A questão é especialmente grave no Brasil, um país já marcado por muitos extremos climáticos, o que implica em secas, enxurradas, deslizamentos de encostas, inundações e vendavais, os quais certamente irão se intensificar. Por isso, eles têm o potencial de perturbar a vida dos brasileiros tanto ou mais do que o aumento de temperatura propriamente dito.

São exemplos de extremo climático o furacão Catarina, evento raro em território nacional, que prejudicou agricultores e desabrigou famílias no sul do país em 2004, e ainda a seca na Amazônia em 2005, que levou a região a apresentar o menor índice pluviométrico em quase meio século. Sem falar na maior temperatura já registrada na história do país: 44,6º C na cidade de Bom Jesus (PI), também em 2005, e as inundações em Minas Gerais e São Paulo neste início de 2007.

Tanto os extremos climáticos quanto o aquecimento estendem seus efeitos para o campo econômico. Os sintomas dessa crise ambiental atingem diretamente a agricultura. A redução nos lucros do agronegócio, que responde por mais de 25% do PIB (Produto Interno Bruto) poderá causar prejuízos de até 10% à riqueza nacional, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (CEPEA/Esalq), de São Paulo.

Diminuição de safras
A entidade alerta para o fato de que em 2006 a safra de soja diminuiu em mais de 10% em relação ao ano anterior por causa do clima seco. Os prejuízos econômicos, no caso, não se limitam à somente à própria diminuição dos grãos, pois a soja faz parte de várias cadeias alimentares de animais criados no Brasil, sendo a base de rações de aves e suínos.

Uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade estadual de Campinas (Cepeagri/Unicamp), também no Estado de São Paulo, revela que, num cenário mais pessimista, as safras dos principais grãos cultivados no Brasil podem cair pela metade no próximo século.

Responsável por 5% do PIB do agronegócio brasileiro, o café seria o produto mais prejudicado, com queda de 90% na produção. O grão deixaria de existir para sempre nas zonas tradicionais de cultivo, como o Oeste paulista, para ser produzido somente em regiões do território nacional com temperaturas mais amenas, como o Paraná e o Rio Grande do Sul.

Estudo e combate
Se pesquisas como essas são efetivamente assustadoras, por outro lado, elas são simultaneamente uma forma de combater os problemas. O estudo do Ceagri/Unicamp cruza as previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática com o zoneamento de risco climático das cinco principais culturas agrícolas do Brasil (café, arroz, milho, feijão e soja), de modo a prever o quê, quando e onde se pode plantar diminuindo os prejuízos por causa do clima.

Isto é, a pesquisa permite avaliar que zonas seriam aptas para o plantio das culturas selecionadas, se houvesse um aumento de 1,5º C, 3º C, ou 6º C, determinando em que áreas de cultivo o aquecimento global faria as temperaturas ultrapassarem os limites de cada um desses produtos, provocando queda na produção.

Desse modo, o projeto do Ceagri/Unicamp, que também conta com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pode antever e propor soluções que reduzam a perda de 70% da área agrícola do Brasil.

Melhoramento genético
Mas os caminhos que os cientistas da Embrapa apostam para adaptar a agricultura brasileira aos novos cenários climáticos são o melhoramento genético e a substituição de culturas. É preciso desenvolver, num primeiro momento, espécies mais resistentes ao calor, num segundo plano, espécies que possam aumentar a limpeza da atmosfera, como a produção de matéria-prima para a bioenergia.

Líder mundial do uso de biocombustível como fonte de energia para o transporte, o Brasil pode até lucrar com a crise, uma vez que a União Europeia, por exemplo, já decidiu ter 10% de sua frota de carros movida a álcool até o ano de 2020.

O que o país não pode é ficar de braços cruzados: precisa urgentemente reduzir a emissão de gases estufa, principalmente a partir da diminuição das queimadas, que representam 75% das emissões, segundo dados da ONG WWF-Brasil (World Wildlife Fund/Fundo Mundial para a Natureza). O Brasil está entre os 10 maiores países poluidores do planeta.

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