Anfíbios - Por que estão desaparecendo?
Pontos-chave
- Os anfíbios estão morrendo a taxas alarmantes. Esses animais são muito sensíveis a alterações tanto do ambiente aquático como do solo e do ar.
- A perda do habitat natural, doenças provocadas por fungos, as mudanças climáticas, espécies invasoras, o comércio ilegal de animais silvestres e a poluição do ar e da água.
- Os anfíbios são animais especialmente sensíveis a alterações climáticas. Eles são animais ectotérmicos, ou seja, são incapazes de controlar fisiologicamente a temperatura corporal. Extremos de temperatura podem afetar o metabolismo desses animais.
- O fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) é apontado como uma das principais causas do declínio das populações de anfíbios em diferentes regiões do mundo.
- O Brasil possui a maior fauna de anuros do mundo (sapos, rãs e pererecas), com quase 900 espécies já identificadas.
Imagine uma noite de verão. O ar está úmido, você está perto de um rio e escuta o vibrante coaxar de sapos, que podem ser ouvidos de longas distâncias. Esse som tão comum está se tornando cada vez mais raro.
Biólogos temem que o planeta esteja passando por uma extinção em massa de animais. A defaunação – como é conhecida a diminuição acentuada da biodiversidade– avança a passos largos. Projeções estimam que o volume de vertebrados caia, até 2020, para um terço do nível de 1970.
Os anfíbios são o grupo de animais vertebrados mais ameaçado de extinção. Sapos, rãs, pererecas, salamandras, cobras-cegas e cecílias estão morrendo a taxas alarmantes. Um levantamento publicado em 2010 na revista Science revelou que mais de 40% das espécies de anfíbios estavam ameaçadas de extinção.
Em outubro deste ano, a morte de um sapo comoveu a comunidade científica. Batizado com o nome de Toughie, o animal faleceu no Jardim Botânico de Atlanta, nos Estados Unidos. Ele era oficialmente o único exemplar vivo da espécie sapo-franja. Toughie foi capturado em 2005 nas florestas do Panamá, em um local que havia mortandade em massa de sapos.
Estudos estimam que desde a década de 1970, mais de 200 espécies de sapos foram extintas. Toughie foi um dos vários animais em extinção, cuja imagem foi projetada na Basílica de São Pedro durante as negociações climáticas em Paris, no ano passado.
Os anfíbios sempre foram animais resistentes, capazes de se adaptar a grandes transformações. Eles existem há mais de 350 milhões de anos e foram os primeiros animais a apresentar musculatura para se sustentar fora da água e “caminhar” na Terra. Sobreviveram a diversas glaciações e à catástrofe que exterminou os dinossauros. Diante de tamanha facilidade de adaptação, por que hoje eles estão tão vulneráveis?
Essas alterações climáticas históricas ocorreram em períodos longos. Apesar de muitas espécies se extinguirem, muitas outras foram capazes de migrar para ambientes favoráveis e assim sobreviver. O problema é que a pressão sob o ambiente hoje está sendo feita em uma velocidade maior que a de evolução ou adaptação de muitas espécies.
A palavra em anfíbio vem do latim (anfi = duplo e bios = vida) e os define como animais que passam parte do ciclo de vida em ambiente aquático e parte em ambiente terrestre. Os anfíbios precisam da umidade e são animais especialmente sensíveis a alterações climáticas, tanto do ambiente aquático como o do solo e do ar.
Eles são animais ectotérmicos, ou seja, são incapazes de controlar fisiologicamente a temperatura corporal. Extremos de temperatura afetam diretamente o metabolismo desses animais.
O fenômeno do aquecimento global aumenta a temperatura dos ambientes frescos e úmidos onde vivem os anfíbios e podem tornar esses locais mais desertos e inadequados para a sua sobrevivência. Mas não é só a temperatura. Os eventos climáticos mais extremos estão ficando mais comuns.
O desaparecimento do sapo-dourado da Costa Rica é atribuído a uma mudança do clima. Ele foi visto pela última vez em 1989 e desde então seu paradeiro é um mistério. A reprodução dessa espécie acontecia somente na temporada chuvosa e sob condições ideais. Em 1987, uma longa estiagem deixou o ar seco e causou uma redução drástica no número de anfíbios, o que pode ter sido fatal para sua sobrevivência e das novas gerações. Uma seca inesperada pode secar um depósito de água no solo e matar todos os ovos e larvas que ali viviam.
A poluição de águas e a chuva ácida (resultado da poluição do ar) também afetam diretamente os anfíbios. A pele deles é muito permeável. Quando eles entram em contato com a água poluída, podem absorver substâncias tóxicas fatais.
Esse parece ser o caso dos sapos do Lago Titicaca, na América do Sul. Em outubro, 10 mil exemplares da espécie Telmatobius coleus foram encontrados mortos. A causa mais provável é a poluição gerada pelo despejo do esgoto de indústrias próximas.
O contato com espécies exóticas (que não são naturais do habitat) também altera o equilíbrio da cadeia alimentar. Os axolotes são um tipo de salamandra e vivem nos lagos próximos à Cidade do México. A poluição dos lagos e a introdução de espécies forasteiras como a carpa asiática e a tilápia africana (quem comem esses pequenos animais) estão acabando com os axolotes. Biólogos mexicanos calculam que sua extinção poderia chegar antes de 2020.
Mas espécies de anfíbios que estão desaparecendo também vivem em áreas isoladas e preservadas, onde não existem córregos sujos ou poluentes. O que estaria acontecendo?
Umas das principais causas da extinção em massa em florestas é o fungo Batrachochytrium dendrobatidis, ou Bd, que pode ser considerado um verdadeiro exterminador de anuros (sapos, rãs e pererecas) e salamandras.
O Bd foi identificado em 1998 no Panamá e hoje está presente em todos os continentes. Esse fungo causa uma doença na pele e tem sido apontado como a causa da extinção de até 700 espécies de anfíbios nas últimas três décadas. Em uma floresta panamenha, pesquisadores identificaram que o fungo foi responsável pela morte de 30 espécies de anfíbios em apenas um ano.
Ao encontrar um anfíbio hospedeiro, o Bd se aloja na pele fina e úmida dele e pode alterar o equilíbrio de eletrólitos(íons) dos músculos, podendo dificultar a respiração e até levar a um colapso cardíaco. Após ser contaminado, um sapo doente dura apenas poucas semanas. O fungo pode dizimar um grupo completo.
Outros parasitas também podem ser letais, como o fungo Batrachochytrium salamandrivorans ou Bsal, que está dizimando algumas populações de salamandras na Europa e os ranavírus, que atacam os girinos.
A globalização e o comércio internacional de animais agrava o problema, pois ao introduzir espécies exóticas em um ambiente, elas podem espalhar doenças novas em animais nativos que não tem imunidade a elas.
O Brasil possui a maior fauna de anuros do mundo (sapos, rãs e pererecas), com quase 900 espécies já identificadas. Mas poucos estudos são feitos para monitorar essas populações.
Os principais motivos do declínio de anfíbios por aqui são o desmatamento, a poluição e a intensa pressão antrópica, provocada pelo crescimento das cidades e da agricultura, que torna os ambientes naturais mais fragmentados e cada vez menores.
Muitos anfíbios precisam de ambientes específicos para se reproduzir. Por exemplo, uma espécie de perereca que deposita ovos em bromélias depende dessas plantas para sua população existir.
A maior parte das espécies consideradas em perigo vivem na Mata Atlântica. Esse bioma possui grande diversidade, mas foi reduzido a 7% de sua cobertura original. O avanço das fronteiras agrícolas sob outros biomas, como a Amazônia e o Cerrado também representam uma ameaça, muitas vezes em espécies que ainda nem foram descobertas.
A diminuição dos anfíbios no mundo põe em risco o equilíbrio ecológico do planeta e pode aumentar as populações de insetos, algas e outros organismos dos quais eles se alimentam. Além disso, pode haver perdas nas pesquisas para novos e potenciais medicamentos. Salamandras, por exemplo, são reconhecidas pela capacidade de regeneração de partes do corpo.
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