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Alimentos modificados geneticamente - Consequências na saúde e economia marcam discussões

Adriana Resende, Repórter da Folha Online

Sai CTNBio, entra SBPC. Sai Monsanto do Brasil, entram Greenpeace e Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). A discussão sobre a produção de OGMs (organismos geneticamente modificados), conhecidos como "transgênicos", está cada dia mais quente.

Primeiro, foi o milho importado da Argentina, que ficou retido em Recife (PE) desde o dia 20 de junho e só foi liberado depois do parecer favorável da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). Depois, veio a nota oficial do governo apoiando a produção de transgênicos, com base no parecer da comissão de biossegurança.

Na abertura da 52ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que aconteceu na última segunda-feira (10), a presidente da instituição, Glaci Zancan, fez um pronunciamento em que considerava que " a introdução não controlada no meio ambiente de plantas geneticamente modificadas contendo novas toxinas pode provocar desequilíbrios no sistema biológico do ambiente".

Embora, no mesmo pronunciamento, Glaci Zancan tenha afirmado que a SBPC considera os transgênicos "instrumentos importantes para o estudo de fenômenos biológicos", o reconhecimento de que esses produtos podem ser nocivos vai de encontro ao parecer da CTNBio, que avaliou como positiva a produção dos OGMs. O argumento da comissão é que a utilização de plantas geneticamente modificadas pode tornar as plantas resistentes a determinadas pragas, o que provocaria redução do uso de agrotóxicos nas lavouras.

Interesses em conflito
"O grande conflito é que os transgênicos se chocam com o mercado de agrotóxicos. Todos os anos, são gastos US$ 40 bilhões com agrotóxicos no mundo. No Brasil, são US$ 2,5 bilhões. Por que não podemos economizar esse dinheiro?", questiona Luiz Antônio Barreto de Castro, 60, que presidiu a CTNBio por cerca de três anos e é o atual chefe Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Na mesma linha segue o diretor de marketing da Nutrivida, Rubens de Napole Filho, 41. "Há preocupação com a resistência do organismo em relação a determinada bactéria. Mas o que mais se faz é analisar a questão emocionalmente, muito mais que cientificamente", diz ele.

Essa não é, porém, a opinião de representantes da ONG (Organização Não-Governamental) Greenpeace no Brasil. Roberto Kishinam, 49, diretor-executivo do Greenpeace Brasil, afirma que o maior problema é a desinformação com relação aos impactos ambientais e na saúde pública.

"Não há casos concretos que provem que a utilização de transgênicos pode acabar com a fome. Não se sabe, também, quais sãos efeitos desses produtos sobre a saúde ou o ambiente."

Segundo ele, acontece o contrário. Nos EUA, em vez de diminuir, o uso de agrotóxicos na lavoura aumentou, porque uma bactéria se torna resistente a uma determinada praga e, consequentemente, aumenta-se o teor de inseticida nas plantas.

Benefícios x riscos
Outro ponto abordado que traz controvérsia trata da possibilidade de, com alimentos geneticamente modificados, suprir as necessidades de populações carentes ou evitar doenças.

O secretário-geral da SBPC, Aldo Malavasi, 49, ressalta a importância de rotular a embalagem dos produtos transgênicos. "É isso que falta: informação. Nós não somos contra a pesquisa, até porque somos uma sociedade científica, mas os órgãos de controle encarregados da liberação do uso de OGMs no Brasil devem exigir que as empresas responsáveis pela operação analisem os riscos à saúde e ao ambiente". Segundo ele, não há risco de morte por contaminação por meio desses organismos, mas não se conhecem a fundo os verdadeiros riscos da produção de transgênicos. Ele explica que há reações alérgicas, semelhantes à alergia provocada por corantes e conservantes.

Rubens de Napole, da Nutrivida, lembra que, por meio das pesquisas realizadas com OGMs, podem-se obter alimentos com menor teor de gordura saturada e alimentos enriquecidos de nutrientes, como é o caso da banana, que, se for modificada geneticamente, pode se tornar uma vacina contra diarreia infantil.

"Não é nada disso", diz Roberto Kishinam, "diarreia é um problema de saúde pública e não pode ser solucionada com essas modificações." Para ele, a Monsanto, empresa multinacional que produz alimentos geneticamente modificados, teria solicitado à Associação Brasileira de Óleos Vegetais que aumentasse o limite do teor de inseticidas permitido nos alimentos, já que ela mesma é uma das produtoras de herbicidas.

A Monsanto, que havia sido procurada pela reportagem da Folha Online na sexta (7/7) e na segunda-feira, decidiu não se pronunciar na ocasião. A CTNBio cancelou, na quarta-feira (12/7), o Certificado de Qualidade em Biossegurança (CQB) da Sementes Monsanto Ltda.

O diretor-executivo do Greenpeace Brasil diz que a atuação das empresas tem dificultado informações básicas sobre o assunto. Para ele, a utilização de herbicidas favorece a agricultura mecanizada e extensiva. "Isso só piora o quadro social, aumenta o desemprego."
 

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