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Transporte público - Da tarifa zero à mobilidade

Vários protestos contra o aumento no valor das tarifas ou a favor do passe livre ocorreram em dezenas de cidades brasileiras no mês de junho - Fabio R. Pozzebon/ABr
Vários protestos contra o aumento no valor das tarifas ou a favor do passe livre ocorreram em dezenas de cidades brasileiras no mês de junho Imagem: Fabio R. Pozzebon/ABr

José Renato Salatiel

Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

A crise dos transportes públicos voltou ao centro dos debates no Brasil após uma série de protestos contra o aumento no valor das tarifas, ocorridos em dezenas de cidades brasileiras no mês de junho.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Em resposta às reivindicações dos manifestantes, prefeitos anularam ou congelaram os reajustes das tarifas de ônibus, trens e metrôs. Outro reflexo positivo foi a maior transparência nas contas públicas. Em São Paulo, por exemplo, a prefeitura cancelou a licitação das linhas de ônibus a anunciou que tornaria pública as planilhas de custos.

Ao mesmo tempo, a insatisfação com a qualidade dos serviços levou autoridades a discutirem soluções para melhorar o atendimento ao público.

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados em Brasília aprovou em 25 de junho uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que inclui o transporte coletivo entre os direitos sociais do cidadão. Se aprovada no Legislativo, a medida obrigará os governos a definirem políticas públicas para a área, incluindo formas de gratuidade para atender a população.

 

A tarifa zero é a principal bandeira do Movimento Passe Livre (MPL), que desencadeou as passeatas em São Paulo e outras capitais. Mas, será essa proposta viável para as metrópoles? Qual é a melhor maneira de oferecer um serviço de qualidade e, ao mesmo tempo, barato aos cidadãos?

Uma pesquisa recente do Datafolha revelou que o sistema de transporte é considerado ruim ou péssimo para 55% dos entrevistados na cidade de São Paulo. De acordo com o levantamento, é a maior taxa de insatisfação já registrada desde a primeira consulta, feita em 1987.

Os dados refletem uma piora nos serviços nas últimas décadas. O preço das tarifas de ônibus ficou mais caro, ao passo que o número de passageiros aumentou e a frota e o número de viagens diminuíram. A mesma pesquisa apontou que 73% dos paulistanos utilizam ônibus, 39% metrô, 27% carro e 18%, trem.

Mobilidade urbana

Uma maior atenção dos governos ao transporte público urbano – ônibus, trens e metrôs – será positivo também porque favorecerá a mobilidade. A partir dos anos 1990, a estabilidade econômica e o incentivo do governo, com a redução de impostos e facilidade de crédito, fizeram com que o brasileiro optasse pelo transporte individual.

Segundo dados do Denatran (Departamento Nacional do Trânsito), em 2011 o número de carros no país era de 20,5 milhões, correspondendo a um crescimento de 77,8% em relação a 2001.

Esse estímulo à compra de veículos particulares fez parte de uma estratégia econômica do governo para gerar empregos e renda. Mas o conforto da classe média teve um preço alto para as cidades, pois o aumento da frota de veículos particulares não foi acompanhado por melhorias equivalentes na infraestrutura viária.

Assim, os congestionamentos passaram a fazer parte da rotina de milhões de brasileiros, causando prejuízos tanto à economia quanto ao meio ambiente e à qualidade de vida das pessoas.

Por isso, especialistas apontam a necessidade de, agora, melhorar o serviço de transporte público, para convencer o brasileiro a usar mais ônibus e metrôs. Uma das principais iniciativas, neste sentido, foi o lançamento do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) para a área de mobilidade urbana, que prevê R$ 8 bilhões de investimentos em 59 cidades com até 700 mil habitantes.

Os projetos municipais selecionados incluem a construção de linhas de metrô, corredores de ônibus, monotrilhos, VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) e BRTs (sigla em francês para trânsito rápido de ônibus). Obras em andamento devem beneficiar também capitais brasileiras como Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Tarifa zero

Solução mais controversa é a gratuidade, defendida por manifestantes. Pequenas cidades dos Estados Unidos e Europa possuem experiências nesse sentido, incluindo três cidades do interior do Brasil: Agudos (SP), Porto Real (RJ) e Ivaiporã (PR).

Mas nunca uma metrópole de milhões de habitantes, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, adotou medida semelhante.

O motivo é que isso obrigaria o Estado a subsidiar completamente o sistema de transporte, incluindo a compra de mais veículos e contratação de mais funcionários para atender a demanda. A verba teria que ser retirada de outros setores ou do aumento de impostos.

Somente para a cidade de São Paulo, dados oficiais revelam que seriam necessários R$ 6 bilhões por ano para manter a tarifa zero, o que corresponde a mais de 14% do Orçamento Municipal.

Somente baratear ou zerar os valores das tarifas, portanto, não resolverá o problema, se isso significar um transporte com qualidade pior, superlotado e precário. Ainda assim, a “revolta contra os R$ 0,20”, junto com os preparativos para a Copa do Mundo de 2014, serviu para colocar a questão em primeiro plano na agenda dos governantes.

Fique Ligado

As manifestações que ocorreram no país em junho tiveram como estopim o aumento no preço das tarifas dos ônibus. A questão do transporte público, portanto, está na ordem do dia. Nesse sentido, convém lembrar outras questões relativas ao tema já focalizadas nesta seção de Atualidades do UOL Educação. Além da mobilidade, a violência nas grandes cidades e a insegurança também esteve na pauta dos manifestantes. Por isso, não custa voltar a pensar sobre o tema. Finalmente, é bom rever a matéria sobre as próprias manifestações, para entender o começo dessa história.

 

Mobilidade urbana

 

Violência urbana

 

A revolta da nova geração
 

Direto ao ponto

Os recentes protestos no Brasil colocaram os transportes públicos na agenda política do país. Após manifestações que pediam a redução do valor das tarifas, governos municipais cancelaram reajustes e congelaram os preços de ônibus, metrôs e trens em dezenas de cidades. Há também uma pressão para que os prefeitos tenham mais transparência na contratação das empresas que operam o setor e divulgue as planilhas de custos de serviços.

 

A partir dos anos 1990, o governo incentivou a população a optar pelo transporte individual, de forma a gerar empregos no setor automotivo e “aquecer” o consumo interno. Mas o aumento da frota de veículos particulares não foi acompanhado de melhorias no sistema viário, o que provocou congestionamentos e prejuízos à economia e ao meio ambiente.

 

Por isso, há hoje um estímulo do Governo Federal ao uso do transporte público, que é caro e ineficiente nas grandes metrópoles. Uma das principais iniciativas do governo para reverter essa situação foi o lançamento do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) para a área de mobilidade urbana, que prevê R$ 8 bilhões de investimentos em 59 cidades com até 700 mil habitantes.

 

Já o Movimento Passe Livre (MPL), que desencadeou as passeatas em São Paulo e outras capitais, defende a gratuidade no transporte coletivo. No Brasil, três cidades do interior adotaram a “tarifa zero”: Agudos (SP), Porto Real (RJ) e Ivaiporã (PR). Mas, em uma cidade grande, os custos do Estado para subsidiar o transporte, dizem as autoridades, obrigaria os governos a desviar verbas de outras áreas ou aumentar impostos.

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