Topo

Atualidades

Saúde - Brasil realiza vacinação em massa contra HPV. Você conhece esse vírus?

Thinkstock
Imagem: Thinkstock

Andréia Martins

Da Novelo Comunicação

Quando se fala de política de saúde pública, a vacina ocupa um lugar de destaque por ser, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), um dos principais meios de prevenção de doenças e de redução do impacto das epidemias.

No Brasil, as campanhas de vacinação contra a varíola (erradicada no mundo em 1980, e que no país, em 1904, motivou a Revolta da Vacina) e contra a poliomielite, hoje adotada em vários países, são alguns exemplos de bons resultados dos programas de imunização com vacina.  Aqui, desde 1973, a política de vacinação foi consolidada com a criação do PNI (Programa Nacional de Imunização), que instituiu um calendário nacional de vacinação. 

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Este ano, a vacina contra o vírus do HPV entrou para esta lista. O Brasil começou em março a sua primeira campanha nacional de imunização em massa contra o vírus, que apresenta mais de 100 tipos. A vacina aumenta a proteção contra quatro deles. O foco desta campanha são adolescentes do sexo feminino na faixa de 11 a 13 anos, pois para ter melhores resultados, a vacina deve ser aplicada antes do início da vida sexual e nessa faixa etária.

A iniciativa causou polêmica. A aplicação da vacina como forma de prevenção ao câncer de colo de útero divide médicos que consideram o exame papanicolau o modo mais eficaz da prevenção, além de questionarem os efeitos colaterais da vacina. Somado a isso, muitos pais se posicionaram contrários à vacinação de adolescentes contra DST (doenças sexualmente transmissíveis) com receio de que isto pudesse induzir à prática sexual precoce.

As objeções ganharam força depois que três adolescentes que tomaram a vacina perderem temporariamente o movimento das pernas. Assim como toda vacina, a contra o HPV também possui efeitos colaterais leves como dor no local de aplicação, febre, dores musculares e mal-estar geral.

Os casos aconteceram em Bertioga, litoral de São Paulo. A investigação descartou a possibilidade de ocorrência de problema com o lote do medicamento usado e que, provavelmente, a paralisia temporária foi uma reação psicológica de ansiedade em relação à imunização. Ainda assim, qualquer efeito colateral deve ser relatado ao médico.

Nos EUA, alguns casos também questionaram a segurança da vacina, mas nenhuma relação foi comprovada. Em 2009, os CDC (Centros para o Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA afirmaram que algumas pacientes tinham constatado um aumento no número de coágulos de sangue depois de receberem a vacina tetravalente (que protege contra três tipos de câncer). Um estudo realizado por cientistas dinamarqueses e publicado este ano no “JAMA(Journal of the American Medical Association)” indica que a vacina em mulheres não aumenta o risco de formação de coágulos sanguíneos.

Japão e França também registraram casos de efeitos colaterais mais graves, o primeiro até retirou o apoio à vacina. Doenças como síndrome de Guillain-Barré, efeitos colaterais no sistema nervoso, falência ovariana, sintomas como convulsão e desmaios têm sido associados à vacina, mas nenhuma relação foi oficialmente comprovada até agora.

No Brasil, a campanha oferece gratuitamente a vacina quadrivalente, que protege contra quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18). Ela continua em 2015, quando serão vacinadas adolescentes de nove a 11 anos e, a partir de 2016, as de nove anos de idade. Cada adolescente deverá tomar três doses da vacina para completar a proteção, sendo a segunda, seis meses depois da primeira, e a terceira, cinco anos após a primeira dose.

Para mulheres na faixa etária dos 25 aos 64 anos, a orientação é que elas façam anualmente o exame preventivo papanicolau. A vacina não substitui o exame e nem o uso do preservativo nas relações sexuais. São formas de prevenção complementares, não excludentes.

A vacina contra o HPV tem eficácia comprovada de mais de 90% para proteger mulheres que ainda não tiveram contato com o vírus, ou seja, antes do início da vida sexual.

O foco da campanha no público feminino se deve à existência de um ambiente mais favorável para o desenvolvimento e multiplicação do HPV. No entanto, os homens também correm risco: a infecção pelo vírus está relacionada, em média, a 40% dos casos de câncer de pênis e 90% do câncer anal em homens.

A implantação da vacina no Brasil

Em junho de 2006, foi aprovada pela FDA (Food And Drug Administration), dos Estados Unidos (EUA), uma vacina quadrivalente contra o HPV, sendo a primeira vacina projetada para prevenção de câncer de colo de útero e lesões vaginais.

Fabricada por um laboratório farmacêutico, essa vacina foi licenciada no Brasil no mesmo ano, para ser utilizada em mulheres com idades entre 9 e 26 anos. Inicialmente, ela era oferecida apenas em clínicas particulares e cada uma das três doses chegava a custar R$ 300,00, sendo inacessível para mulheres de baixa renda.

A vacina foi incluída ao calendário do SUS (Sistema Único de Saúde) em 2014 e hoje é produzida nacionalmente, fruto da parceria entre o laboratório público Instituto Butantã e o laboratório privado MerckSharpDohme, detentor da tecnologia.

Atualmente, existem duas vacinas comercializadas no Brasil. Uma delas é quadrivalente e previne contra os tipos 16 e 18, de alto risco e presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero, e contra os tipos 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais. A outra é específica para os subtipos 16 e 18. Na rede pública só está disponível a vacina quadrivalente.

O que é HPV e a importância da prevenção do câncer

HPV, sigla em inglês para o Papilomavírus Humano, é um vírus cujo contágio acontece em contato com a pele e que causa lesões e verrugas genitais. Além de ser a doença sexualmente transmissível mais comum atualmente, a infecção pelo HPV é a principal causa do câncer de colo de útero, o terceiro mais frequente entre as mulheres no Brasil (atrás do câncer de mama e do colorretal).

O vírus pode ser transmitido por meio da relação sexual com uma pessoa infectada ou durante o parto, de mãe para o filho, pela contaminação da vagina. Estima-se que 80% das mulheres entrarão em contato com o HPV ao longo da vida. O Instituto Nacional do Câncer prevê o surgimento de 15 mil novos casos da doença no Brasil e cerca de 4.800 mortes provocadas pela patologia.

Quando o HPV causa lesão no colo do útero, a doença pode progredir para o câncer (importante dizer que estar infectado pelo vírus não garante que ele evolua para um câncer), que em estágio avançado, só pode ser curado com a retirada do útero ou trompas.

O HPV pode ser detectado precocemente por exames simples, como o papanicolau, em consulta médica de rotina, além de não interferir na capacidade da mulher de ter filhos. Para isso, é necessária prevenção, como o sexo seguro e mudanças de hábito. Fumar e beber menos e consumir mais alimentos saudáveis podem fortalecer o sistema imunológico e diminuir a incidência da doença. O tratamento inclui métodos como a eliminação de lesões por agentes químicos ou cauterização e fortalecimento do sistema imunológico para a eliminação do vírus.

Embora a camisinha não seja 100% eficaz com relação a esse vírus, ela é essencial na prevenção contra o vírus HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. No caso do HPV, a camisinha não cobre toda a área que pode estar contaminada, como a pele que fica em volta do órgão sexual masculino ou o saco escrotal, que podem estar infectados com o vírus HPV.

Como age a vacina

As vacinas, em geral, contém o antígeno (corpo estranho ou vírus) em forma atenuada ou com microorganismos mortos (inativo). Ao ser inoculado no organismo humano, estimula a produção de anticorpos e a formação de células de memória que protegerão o organismo em futuras infecções, com a produção de grande quantidade de anticorpos em curto espaço de tempo.

A vacina do HPV é do tipo Vacina de DNA. É produzida a partir de um fungo que recebe o material genético do vírus. O fungo vai produzir proteínas típicas do vírus construindo uma estrutura chamada capsídeo (capa), que não apresenta o genoma em seu interior e vai ser inserido no organismo humano. Essa capa é reconhecida como antígeno e o sistema imunológico vai criar uma memória, estimulando a produção de anticorpos específicos para cada tipo de HPV.

Existem mais de 100 tipos diferentes do vírus do HPV e estima-se que 16 possam evoluir para um tipo de câncer. No entanto, em até 70% dos casos, segundo o Ministério da Saúde, quem é infectado com o vírus não desenvolve câncer.

Na maioria dos casos o HPV é eliminado pelo sistema imunológico do organismo sem que a pessoa perceba que estava infectada. No caso de infecção, quando há sintomas como coceira ou quando existe associação a lesões precursoras do câncer, estas devem ser tratadas. Se o diagnóstico for positivo, as opções são o tratamento clínico (com medicamentos) ou cirúrgico.

A Organização Mundial de Saúde estima que haja 290 milhões de portadoras da doença no mundo e que, a cada ano, 270 mil mulheres morram devido ao câncer de colo do útero. Cerca de 51 países optaram pela vacinação maciça de meninas como forma de prevenir o HPV. Na Austrália, país que adotou a medida há quatro anos, a vacina reduziu em 90% a incidência de verrugas genitais. 

DIRETO AO PONTO


Em março de 2014 teve início no Brasil a campanha de vacinação contra o vírus do HPV. Além de ser a doença sexualmente transmissível mais comum atualmente, a infecção pelo HPV é a principal causa do câncer de colo de útero, o terceiro mais frequente entre as mulheres no Brasil. O Instituto Nacional do Câncer prevê o surgimento de 15 mil novos casos da doença no Brasil e cerca de 4.800 mortes provocadas pela patologia.
 

A vacinação maciça em meninas entre 11 e 13 anos vem causando polêmica no Brasil. Especialistas se dividem quanto à forma de prevenção e os pais acreditam que a vacina pode influenciar o início da vida sexual dos filhos. Para a OMS  (Organização Mundial de Saúde), a vacina é a melhor forma de prevenção, principalmente para quem ainda não iniciou a vida sexual.
 

De outro lado, a vacina contra o HPV reforça a importância do acesso público a essa forma de prevenção e imunização.

 

Atualidades