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Irã sinaliza reaproximação com potências ocidentais - programa nuclear é principal polêmica

O presidente do Irã, Hassan Rowhani, discursa durante a 68ª Assembleia Geral da ONU - Timothy Clary/AFP
O presidente do Irã, Hassan Rowhani, discursa durante a 68ª Assembleia Geral da ONU Imagem: Timothy Clary/AFP

Carolina Cunha

Novelo Comunicação

Em agosto de 2013, o presidente eleito do Irã, Hassan Rouhani, fez um discurso em sua posse solicitando aos países ocidentais que derrubem as sanções econômicas e políticas ao país. Apoiado pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, o discurso do presidente refletiu algumas promessas de sua campanha: melhorar a relação do Irã com outros países e retomar o crescimento da economia, que sofre com as sanções econômicas internacionais em razão de seu controverso programa nuclear.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Os países do ocidente, principalmente os Estados Unidos, suspeitam que o país enriqueça urânio em nível suficiente para desenvolver armas atômicas, apesar da reivindicação do governo de que o programa nuclear tem fins pacíficos para ser usado em pesquisas médicas e como gerador de energia.

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Outro gesto que sinalizou uma abertura diplomática foi a troca de cartas entre Rouhani e o presidente Barack Obama, após o anúncio do resultado das eleições iranianas. Na ocasião, Rouhani declarou em entrevista à emissora norte-americana NBC que recebeu uma carta “positiva e construtiva” do presidente Obama. Logo depois, em setembro, Obama declarou que teve uma conversa ao telefone com o presidente iraniano e que agora eles teriam uma oportunidade única para chegar a um acordo sobre a questão nuclear.

A conversa telefônica foi o primeiro diálogo direto entre os presidentes dos dois países em mais de 30 anos. No Twitter, o presidente iraniano revelou que Obama terminou o bate-papo com um cordial “Khodahafez”, expressão persa que significa “Que Deus olhe por você”. Segundo o presidente norte-americano, Rouhani afirmou que jamais construirá uma bomba atômica.

O próximo movimento do governo iraniano foi enviar uma delegação a Genebra para discutir seu programa nuclear com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Reino Unido, China, França, Rússia e Estados Unidos) junto com a Alemanha (grupo chamado de 5+1). O objetivo do Irã é comprovar que o programa nuclear visa fins pacíficos, como a matriz energética do país.

O plano apresentado pelo Irã surpreendeu os negociadores ao vislumbrar a possibilidade de visitas surpresa de inspetores da ONU em instalações nucleares, como estabelece o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Assinado em 1968, o acordo visa impedir o uso de materiais atômicos para fins bélicos, erradicar as armas nucleares e assegurar o uso da energia nuclear apenas para fins pacíficos. Ao todo, 189 países e Taiwan, que a ONU reconhece como território chinês, são signatários do acordo (assim como o Brasil). Apenas Israel, Paquistão, Índia e Coreia do Norte não fazem parte do grupo.

Uma nova rodada de negociações acontecerá em novembro deste ano para tentar um acordo sobre o programa nuclear do Irã. No entanto, ao menos dois passos já foram dados em Genebra para melhorar a relação entre Irã e ocidente: o país e o Reino Unido anunciaram a retomada de suas relações bilaterais, rompidas desde 2011. Além disso, na véspera das conversas com o grupo 5+1, o vice-ministro iraniano de Relações Exteriores, Abbas Araghchi, se reuniu a porta fechadas com uma representante dos EUA, a secretária de Estados adjunta para Relações Políticas, Wendy Sherman. Reuniões diplomáticas entre os Estados Unidos e o Irã são raras. A última aconteceu em 2009.

O início das sanções e a conturbada relação ente EUA e Irã

O projeto nuclear iraniano teve início em 1950, com apoio técnico dos Estados Unidos. A parceria e o programa foram interrompidos após a Revolução Islâmica de 1979, que acabou com a ditadura do Xá Reza Pahlevi, aliado dos norte-americanos. A partir daí, o Irã passou a sofrer sanções impostas pelos Estados Unidos. Ainda durante a revolução, iranianos invadiram a embaixada americana na capital Teerã e mantiveram reféns os funcionários da embaixada.

Outro fator que contribuiu para o fim da boa relação entre EUA e Irã foi a “política dos direitos humanos” estabelecida pelo presidente norte-americano Jimmy Carter (1977-1981), pela qual o país se recusava a auxiliar governos ditatoriais no mundo.

Nesse período, para compensar a perda do Irã como aliado, os EUA se aproximaram do país vizinho, o Iraque, já liderado pelo ditador Saddam Hussein. Irã e Iraque entrariam em conflito no início da década de 1990 pela disputa de um canal de escoamento de petróleo, no que ficou conhecido como Guerra do Golfo (1990-1991).

Na década de 1990, empresas e cidadãos americanos foram proibidos de realizar transações comerciais com o Irã. Nesse período, em 1995, graças a um acordo com a Rússia, o programa nuclear do Irã voltou a ganhar forças. Uma década depois, em 2005, o discurso radical do então presidente Mahmoud Ahmadinejad deixaria os países ocidentais e Israel com receio dos possíveis fins bélicos desse programa. Foi a partir de 2006 que a falta de transparência do programa nuclear levou ao aprofundamento das sanções, que buscaram diminuir as exportações do país persa.

As relações entre as potências ocidentais e o Irã pioraram nos anos 2000 com o início da Guerra ao Terror pelo governo norte-americano. Após os ataques às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, os EUA declararam guerra ao terrorismo, classificando Irã, Iraque e Coreia do Norte como o bloco do Eixo do Mal.

Em 2012, os Estados Unidos e os países europeus aprovaram o embargo petrolífero total do Irã. O óleo é o principal item de exportação do país, que figura como o segundo maior produtor da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), depois da Arábia Saudita. Outra sanção são proibições de transações financeiras com bancos iranianos, inclusive o Banco Central, resultando em novos problemas de transferência de dinheiro.

E a elevação do tom de voz do ex-presidente Ahmadinejad, que ficou oito anos no poder, sempre foi um obstáculo para que Irã e os países do ocidente estabelecessem um diálogo. Seu mandato será lembrado por discursos inflamados contra os Estados Unidos e outros países ocidentais, declarações polêmicas como a necessidade de “varrer” Israel do Oriente Médio, a ameaça de fechar para navegação o Estreito de Ormuz, importante canal de comércio entre os países da região, e a negação da existência do Holocausto. Sua retórica e falta de diplomacia levou o Irã a se isolar cada vez mais da comunidade internacional e agravar a crise econômica.

Hoje a capacidade de enriquecimento de urânio por parte do Irã chega a 80%, apenas 10% a menos do necessário para produzir a bomba de Hiroshima, usada pelos EUA na Segunda Guerra Mundial.

DIRETO AO PONTO

Após anos de rivalidade e falta de diálogo, o Irã e os Estados Unidos dão os primeiros passos do que pode significar uma reaproximação de dois países que foram aliados no passado, até a Revolução Islâmica de 1979.

 

A aproximação deve-se em parte à postura do novo presidente do Irã, Hassan Rouhani, que abriu um canal de diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama para que os países ocidentais derrubem as sanções econômicas e políticas ao país, sob a condição do Irã rever alguns pontos do seu polêmico programa nuclear.

 

Os Estados Unidos e alguns de seus aliados suspeitam há anos que o Irã desenvolva em segredo um programa nuclear bélico. O Irã sustenta que seu programa nuclear é civil e tem finalidades estritamente pacíficas, como a geração de energia elétrica e o desenvolvimento de isótopos medicinais, estando de acordo com as normas do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, do qual é signatário.

 

Depois de uma primeira rodada de conversas em Genebra, entre o Irã e os países do G5+1 (composto pelos cinco países do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha), ficou marcada para novembro de 2013 uma reunião para tentar estabelecer um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Esse próximo encontro pode definir melhor os rumos da aproximação entre esses países.

 

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