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Insetos na alimentação - Eles podem ser comida do futuro e ajudar a reduzir a fome no mundo?

François Lenoir/Reuters
Imagem: François Lenoir/Reuters

Carolina Cunha

Da Novelo Comunicação

Os insetos constituem o maior grupo animal da face da Terra -- há um milhão de espécies vivas conhecidas de um total de 30 milhões que provavelmente existam. Esses animais desempenham importante papel ecológico, atuando em diversas funções: polinizadores, herbívoros, decompositores, predadores e parasitoides. Mas eles também possuem a fama de serem nojentos, pragas de lavouras e de atrapalhar as pessoas em dias de calor.

E como alimento dos seres humanos? Sim, já estão pensando nisso. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) acredita que o futuro do combate à fome no mundo está justamente no consumo desses bichinhos. 

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Recentemente, a FAO publicou um relatório que analisa o potencial dos insetos na oferta de alimentos para a humanidade. Para a organização, os insetos podem ser utilizados como reforço na comida de boa parte da população no futuro. 

A organização calcula que quase 1 bilhão de pessoas sofram de desnutrição atualmente. No futuro, o cenário pode ser pior ainda. A população mundial está estimada em 9 bilhões para o ano de 2050. E, para alimentar esse batalhão de gente, a atual produção de alimentos precisará dobrar. 

Mas a expansão das terras cultivadas e a criação de animais não vão acompanhar esse ritmo. A solução, acreditam os especialistas, estaria nas fazendas de criação de insetos. Na África, um dos continentes mais atingidos pela fome, 62% dos países têm 500 espécies de insetos comestíveis presente na região, por exemplo. 

Comparada à pecuária, a criação desses bichos causaria um impacto ambiental muito menor. Ela utiliza menos espaço e é mais barata. Além disso, os insetos se reproduzem em uma velocidade maior e emitem menos gás carbônico (causador do efeito estufa). Outra possibilidade que esse tipo de cultivo pode abrir é o aumento de renda familiar de comunidades carentes, uma aposta da FAO, já que eles poderiam ter suas próprias criações e comercializá-las.

Uma ressalva: uma criação como essa requer a mesma atenção zootécnica que qualquer outro animal.

E os artrópodes apresentam ainda uma relação eficiente entre ração e carne produzida. Estudos recentes feitos por um grupo de pesquisadores brasileiros mostram que os insetos têm mais carne a ser aproveitada e podem converter 2 kg de ração em 1 kg quilo de massa. No caso do gado, são necessários 8 kg de ração para produzir 1 kg de carne. 

Comer insetos, uma questão cultural

A rejeição aos insetos é uma questão cultural. Para muitas pessoas, esse hábito é visto como um comportamento primitivo, por isso o preconceito. Mas os números podem surpreender. Atualmente, mais de dois bilhões de pessoas usam os insetos em suas refeições diárias. A maioria em países do sul da Ásia e regiões tropicais, como América Central, que abrigam mais de 300 espécies de insetos comestíveis. 

O Camboja (sudeste asiático), por exemplo, possui aranhas como iguarias tradicionais; a China aprecia espetos de grilos e larvas de bicho-da-seda. No México é possível degustar lagartas, ovos de mosquito, gafanhotos e percevejos, e na Índia, o cupim ao molho curry é prato popular.

A prática de comer insetos é chamada de entomofagia. Durante séculos, muitos povos incluíram insetos em seus cardápios. Na Roma e Grécia Antiga eram comuns banquetes repletos de larvas de besouros e de gafanhotos.  

Segundo o último levantamento feito por cientistas, em abril de 2012, existem 1.900 espécies comestíveis de insetos. O maior grupo é o de coleópteros (besouros), com mais de 400 espécies, seguido por himenópteros (principalmente formigas), com algo em torno de 300 espécies, ortópteros (gafanhotos e grilos) e lepidópteros (lagartas de borboletas e mariposas), cada grupo com mais de 200 espécies registradas, além de cupins, cigarrinhas e moscas, dentre outros. 

Os insetos podem ser consumidos em qualquer estágio de desenvolvimento, mas a maioria dos alimentos para consumo humano envolvem insetos em forma de larva (em fase de desenvolvimento) ou pupa (estágio do inseto entre a larva e o adulto), etapas que fazem parte do ciclo dos insetos holometábolos, ou seja, aqueles que apresentam metamorfose completa durante o seu desenvolvimento.

No Brasil, o “cascudo” mais famoso é a saúva, formiga que pode ser encontrada principalmente em panelas da região Norte. O hábito é uma herança dos índios amazônicos e dizem que o gosto lembra o de camarão. Atualmente, apenas uma empresa localizada em Minas Gerais trabalha com a produção de alimentos à base de insetos no país e já apresentou um pedido para vender insetos para consumo humano ao Ministério da Agricultura. 

Para acostumar a população a esse tipo de alimento, em 2013, duas redes de supermercados da França começaram a oferecer produtos testes e rodadas de degustação. É uma forma de fazer com que as pessoas deixem de ver estranheza num prato com larvas, minhocas e besouros.

Os benefícios e as vitaminas

Comer insetos não faz mal à saúde dos humanos –nós já utilizamos remédios feitos de insetos, por exemplo. Esses animais são ricos em proteína, moléculas importantes na constituição do organismo. A proporção é vantajosa: um corpo de um inseto pode conter até 80% de proteína (o excesso de proteína deve-se ao sangue de temperatura fria desses bichinhos). Além disso, eles também são ricos em lipídeos de qualidade (gordura), fibra, vitaminas e minerais

O besouro, inseto mais consumido por humanos, por exemplo, possui uma concentração de ferro mais alta do que um bife de carne bovina. O mineral é um nutriente importante e sua deficiência pode causar anemia. Já o gafanhoto S. histrio, oferece vitamina D em níveis semelhantes ao do peixe arenque, ao do fígado de galinha cozido ou à gema do ovo. A formiga da espécie Atta cephalotes (tanajura ou saúva) também não fica atrás: possui mais proteínas (42,59 %) do que a carne de frango (23 %) ou bovina (20 %).

Mas cuidado: não dá para adotar essa iguaria no cardápio "caçando" no jardim de casa. Assim como os animais, os insetos podem estar contaminados ou podem ser focos de doença e pesticidas. A recomendação é que venham de criadores responsáveis. 

 

DIRETO AO PONTO

Um relatório recente da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), avaliou que os insetos podem ser utilizados como reforço na comida de boa parte da população no futuro. A organização calcula que hoje, quase um bilhão de pessoas sofram de desnutrição. Em 2050, a estimativa é que o mundo tenha 9 bilhões de habitantes. E para alimentar esse batalhão de gente, a atual produção de alimentos precisa dobrar.

 

O problema é que a expansão das terras para a agricultura e criação de animais não vai acompanhar esse ritmo. A solução estaria nas fazendas de criação de insetos, que seria mais baratas, mais fáceis no quesito estrutural e menos poluente do que as criações de gado.

 

Atualmente, existem cerca de 1.900 espécies comestíveis de insetos, presentes majoritariamente em regiões da Ásia e de ambiente tropical, como a América Central. Entre os comestíveis, o maior grupo é o de coleópteros (besouros), com mais de 400 espécies, seguido por himenópteros (principalmente formigas), em torno de 300 espécies, ortópteros (gafanhotos e grilos) e lepidópteros (lagartas de borboletas e mariposas), cada grupo com mais de 200 espécies registradas, além de cupins, cigarrinhas e moscas, dentre outros.

 

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