Topo

Atualidades

Crise no Egito - Pouco mais de um ano após tomar posse, presidente é deposto

3.jul.2013 - Praça Tahrir, no Cairo, Egito, tem fogos de artifício após declaração do chefe das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Sisi, da destituição do presidente Mohamed Mursi - Steve Crisp/Reuters
3.jul.2013 - Praça Tahrir, no Cairo, Egito, tem fogos de artifício após declaração do chefe das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Sisi, da destituição do presidente Mohamed Mursi Imagem: Steve Crisp/Reuters

Carolina Cunha

Do UOL, em São Paulo

Depois da renúncia do presidente Hosni Mubarak, em 2011, motivada por intensos protestos no país contra seus 33 anos de governo, e de eleger um novo presidente, Mohamed Mursi, a instabilidade política voltou a abalar o Egito no início de julho de 2013. Mursi foi deposto pelas Forças Armadas e foi substituído temporariamente pelo presidente da Suprema Corte Constitucional, Adly Mansour, 68. A Constituição também foi suspensa. 

EGITO EM TRANSE

  • Entenda as crises no Egito

Antecedendo a deposição do presidente, milhares de manifestantes voltaram às ruas das principais cidades do Egito pedindo a saída de Mursi do poder, entrando em conflito com policiais e apoiadores do governo. No Cairo, o epicentro das manifestações foi a praça Tahrir, que reuniu a maior manifestação popular desde a queda de Mubarak.

Mursi foi levado para um local isolado, dentro do Egito, onde não pode se comunicar com o mundo externo, mas tem acesso a jornais e televisão. O viés islâmico do governo levou ao descontentamento de parte a população que o elegeu com maioria dos votos (51,7%) nas eleições de junho de 2012. Apoiado pelo partido Irmandade Muçulmana (grupo do qual se originou a facção muçulmana Hamas), Mursi foi o primeiro presidente islamita do Egito. O grupo acusa os militares de reverterem o movimento de revolta que conduziu o Egito à democracia.

A relação entre o governo e a população não islâmica começou a ficar mais delicada em dezembro de 2012, devido a dois episódios. No primeiro, Mursi elaborou um decreto para dar maiores poderes a si mesmo. Entre os tais poderes, o decreto concedia a ele decisões de imunidade judicial e impedia as cortes de dissolver a assembleia constituinte e a câmara alta do Parlamento. A decisão foi alvo de muitos protestos, obrigando-o a recuar.

No mesmo mês foi aprovada a nova Constituição do país, com 63,8% dos votos. O comparecimento às urnas foi baixo, e a maioria de votantes era de seguidores do partido Irmandade Muçulmana. A partir daí, a situação ficou delicada para o novo presidente, que deu pouco espaço aos militares em seu governo e não tinha neles grandes aliados.

Outro fator que pode ter colaborado para a deposição de Mursi é uma acusação por conspiração apresentada pela Procuradoria Geral do Egito. Ele teria agido em conjunto com o grupo militante palestino Hamas e homicídio durante sua fuga da prisão em 2011, o que deixou 14 guardas mortos.

Rico em petróleo, o Egito é o país árabe mais populoso, com pouco mais de 82 milhões de habitantes, e embora a maioria da população seja muçulmana, há grupos de cristãos e de cristãos coptas. Tais grupos protagonizaram violentos confrontos em 2012, devido às diferenças religiosas e à discriminação dos cristãos.

Novo grupo de manifestantes

A maior parte dos manifestantes que pedia a saída de Mursi integra um novo grupo popular no país, chamado de Tamarod. A palavra significa 'rebelde' em árabe.

Até junho deste ano, pouco antes da deposição de Mursi, o grupo alegava ter recolhido cerca de 22 milhões de assinaturas pedindo a saída do presidente do poder. O grupo deu um ultimato para que ele deixasse o cargo no início de julho ou iniciariam uma onda de protestos violentos no país.

Com páginas em redes sociais, o grupo tornou-se figura presente em todos os protestos, se manifestando em semáforos e bloqueando ruas para entregar petições. Entre as reclamações contra Mursi estavam: a falta de segurança desde a revolução de 2011, o pedido de empréstimo de US$ 4,8 bilhões (cerca de R$ 10,7 bilhões) feito ao FMI (Fundo Monetário Internacional) para sanar dívidas públicas, a falta de justiça para os mortos pelas forças de segurança durante os confrontos e a ideia de que o Egito estaria seguindo a cartilha dos Estados Unidos.

Governo transitório e o futuro político

No dia 16 de julho de 2013, Adly Mansour, presidente interino do Egito, empossou seu gabinete provisório. O novo governo é liderado pelo primeiro-ministro Hazem el-Beblawi, tendo como vice o general Abdel-Fattah el-Sissi, que acumula o cargo de ministro da Defesa desde o governo Mursi. Na composição do gabinete, nenhum representante da ala islamita foi chamado.

Para o cargo de vice-presidente interino, Mansour nomeou Mohamed El-Baradey, derrotado nas urnas por Mursi e que se tornou líder da oposição ao governo. A composição de um governo provisório não cessou os protestos nas ruas. Os confrontos entre os apoiadores islâmicos e as Forças Armadas chegaram a deixar 50 mortos em uma só noite. Ainda é esperado do novo governo o anúncio dos principais pontos para elaborar a nova Constituição e de um cronograma para novas eleições presidenciais.

Entenda a crise no Egito

O país vive um clima de instabilidade política há pelo menos dois anos e meio, desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro de 2011, após 33 anos de um governo ditatorial, onde o presidente era escolhido pelos militares.

A renúncia foi resultado de uma revolta popular que ocupou as ruas das principais cidades do país. Nas duas semanas que antecederam a renúncia de Mubarak, cerca de 300 pessoas morreram em confrontos com as forças de segurança durantes as manifestações.

Mubarak foi o segundo presidente dos países da Primavera Árabe, termo criado para agrupar os países cuja população foi a rua protestar contra governos ditatoriais e que estavam há décadas no poder, a cair. Zini El Abidine Ben Ali, presidente da Tunísia, onde as manifestações tiveram início, foi o primeiro a cair fugindo do país. 

Em um discurso um dia antes da renúncia, Mubarak transferiu seus poderes para o vice-presidente, Omar Suleiman, e afirmou que não disputaria as próximas eleições.

Após um longo julgamento com a saúde debilitada –Mubarak chegou a comparecer ao tribunal numa maca-, ele e seu ex-ministro do Interior, Habib al-Adly, foram considerados culpados e condenados à prisão perpétua em 2012 acusados de serem cúmplices no assassinato dos manifestantes. Depois de apelarem, no início de 2013 a justiça garantiu a eles o direito a um novo julgamento que deve acontecer em agosto.

A crise provou uma queda no turismo do país, conhecido pelas famosas pirâmides, como as de Gizé e a Grande Esfinge, e as múmias no Museu Egípcio do Cairo. A melhora do setor, que estava sendo projetada para o primeiro semestre de 2013, foi novamente abalada com nova crise.

DIRETO AO PONTO

O presidente do Egito Mohamed Mursi foi deposto do governo pelos militares no dia 3 de julho de 2013, após ficar pouco mais de um ano no poder. Mursi era o sucessor de Hosni Mubarack, que governou o país durante 33 anos e renunciou devido aos protestos populares em janeiro de 2011.

Mursi foi deposto depois que um grande número de manifestantes saiu às ruas do país pedindo sua saída decido ao viés islâmico que ele estava dando ao governo.

No dia 16 de julho de 2013, Adly Mansour, presidente interino do Egito, empossou seu gabinete provisório, que governará o país até que novas eleições e os pontos principais para a elaboração da nova Constituição sejam anunciados.

Bibliografia

  • Paz e Guerra no Oriente Médio: A Queda do Império Otomano e a Criação do Oriente (Contraponto): livro do historiador David Fromkin que conta a história da formação dos países árabes, essencial para entender o panorama político atual na região.
  • O Atlas do Oriente Médio - O Mapeamento de todos os conflitos (Publifolha): livro escrito por Dan Smith que explica as guerras no Oriente Médio desde o Império Otomano até os dias atuais, contextualizando os confrontos na política internacional.

Atualidades