Caatinga - o bioma menos preservado no Brasil enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos
A caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que ocupa 11% do território do país, estendendo-se por 844.453 km². Esse tipo de vegetação, característico da região nordeste do país, abrange os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. O nome “caatinga” é de origem tupi e significa "mata branca", numa referência à paisagem esbranquiçada da vegetação, frequentemente assolada pela seca.
Um estudo recente sobre o bioma, que é encontrado apenas no Brasil, faz um alerta grave: apenas 7,5% do território da caatinga estão protegidos em UC (Unidades de Conservação), conjuntos de estratégia para cuidar de áreas naturais a serem preservadas.
O alerta foi feito no Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA Educação, em junho deste ano, pelo biólogo Bráulio Almeida Santos, do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), que conduziu o estudo sobre o tema. Outro dado agrava ainda mais a situação: segundo o Ministério do Meio Ambiente menos de 1,5% do bioma contam com unidades de proteção integral, onde o homem não pode viver.
Além disso, a caatinga sofre com outros fatores. As maiores ameaças atuais a este ecossistema são a degradação ambiental, provocada pelo desmatamento e pelo uso dos recursos naturais (como a lenha, carvão ambiental e o uso excessivo da água para irrigação agrícola), a pecuária extensiva de caprinos e ovinos e as mudanças climáticas, que devem aumentar a temperatura na região.
Estima-se que tenha sobrado apenas 54% do bioma no Brasil. Os Estados que mais desmataram foram Bahia, Ceará, Piauí e Pernambuco.
A seca
Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), a região Nordeste enfrenta em 2013 a maior seca dos últimos 50 anos, com mais de 1.400 municípios e 27 milhões de pessoas afetados. No Piauí, 209 municípios, de um total de 224, estão em estado de emergência, devido à seca. Os agricultores estão com perdas que chegam a 90% da safra, só o Estado de Pernambuco perdeu 40% do rebanho. Para auxiliar os moradores e trabalhadores rurais da região, o governo editou a Medida Provisória 610, que oferece benefícios financeiros para amenizar os prejuízos da seca.
As secas têm afetado principalmente regiões na África, nos EUA, no México, no Brasil, e em partes da China e da Índia, Rússia e o sudeste da Europa. Além disso, a ONU estima que 168 países sejam afetados pela desertificação, nome dado ao processo de degradação do solo em terras secas que afeta a produção de alimentos e é agravado pela falta de chuvas.
A tendência é que a caatinga apresente cada vez mais manchas de desertificação. No Brasil, 62% das áreas susceptíveis à desertificação estão em zonas originalmente ocupadas por caatinga, sendo que muitas já estão bastante alteradas.
Características e o lado desconhecido da caatinga
O clima da caatinga é o tropical semiárido e suas características são pouca chuva, secas prolongadas e temperaturas elevadas. Pela pouca água existente no solo, a vegetação é rasteira, com árvores de porte baixo, muitas plantas espinhosas e cactáceas, como o xique-xique (Pilosocereus gounellei) e o mandacaru (Cereus jamacaru), que só existem lá. Entre as outras espécies encontradas na região destacam-se a barriguda, a catingueira, a umburana e o juazeiro.
A fauna da caatinga é bem diversificada, composta por répteis (principalmente lagartos e cobras), roedores, insetos, aracnídeos, cachorro-do-mato, arara-azul (ameaçada de extinção), sapo-cururu, asa-branca, cutia, gambá, preá, veado-catingueiro, tatupeba, sagui-do-nordeste, entre outros animais.
Apesar das circunstâncias desfavoráveis, a biodiversidade da caatinga é rica, apresentando muitos seres vivos de espécies diferentes, adaptadas ao clima local. O ecossistema é considerado a região semiárida mais diversa do mundo e possui cerca de 6.000 espécies, muitas ainda desconhecidas pelos pesquisadores. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, estima-se que 41% das espécies da caatinga permaneçam desconhecidas.
Até o momento, segundo dados do MMA, foram descritas na região 932 espécies de plantas, 241 de peixes, 79 de anfíbios, 177 de répteis, 591 de aves, 178 de mamíferos e 221 de abelhas. No caso da flora, mais de 30% das espécies descritas são endêmicas, ou seja, ocorrem apenas nesse ambiente e região e em nenhum outro lugar do mundo.
Direto ao ponto
Um estudo recente apontou que apenas 7,5% do território da caatinga estão protegidos em UC (Unidades de Conservação) no Brasil. A informação soa mais alarmante quando somada a um dado do Ministério do Meio Ambiente (MMA): menos de 1,5% do bioma faz parte de unidades de proteção integral.
Os pesquisadores alertam que o bioma vem sendo muito desmatado e, ao contrário da Amazônia, do cerrado e da Mata Atlântica, recebe menos atenção quando se trata de preservação e cuidado. Este ano, a região do Nordeste, onde está localizada a maior parte do bioma, enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos.
As principais ameaças contra a caatinga são a degradação ambiental, a pecuária extensiva de caprinos e ovinos, e as mudanças climáticas, que devem aumentar a temperatura na região e o processo de desertificação, agravado pela falta de chuva. |
Bibliografia
Para ler...
Vidas Secas: o romance de Graciliano Ramos é ambientado no Nordeste, ou seja, na caatinga. Em vários trechos do livro o autor descreve a vegetação seca, amarela e cinzenta do sertão.
Biomas do Brasil - Caatinga: O livro é feito por professores de biologia e é destinado a estudantes dos ensinos fundamental e médio sobre as principais características do bioma.
Os Sertões: A primeira parte do livro de Euclides da Cunha, ‘A Terra’, descreve a caatinga e dá tratamento especial para as espécies e vegetação do sertão nordestino
Para ver...
O filme brasileiro "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) traz boas imagens da caatinga, de seu clima e vegetação. Ambos contam histórias de pessoas que tentam atravessar a caatinga em uma jornada contra a seca e o calor
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