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Bomba H e a Coreia do Norte - uma nova Guerra Fria a caminho?

7.jan.2015 - Cartazes com fotos do líder norte-coreano Kim Jong-un são queimados durante protesto no centro de Seul, Coreia do Sul, em resposta ao anúncio da Coreia do Norte da realização do teste com uma bomba de hidrogênio, centenas de vezes mais destrutiva que uma bomba nuclear - Kim Hong-Ji/Reuters
7.jan.2015 - Cartazes com fotos do líder norte-coreano Kim Jong-un são queimados durante protesto no centro de Seul, Coreia do Sul, em resposta ao anúncio da Coreia do Norte da realização do teste com uma bomba de hidrogênio, centenas de vezes mais destrutiva que uma bomba nuclear Imagem: Kim Hong-Ji/Reuters

Carol Cunha

Da Novelo Comunicação

No dia 6 janeiro de 2016, o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) registrou terremoto de 5,1 graus na escala Richter, com epicentro a 376 km a nordeste de Pyongyang, capital da Coreia do Norte. Pouco depois, a jornalista de um programa da TV estatal norte-coreana confirmou a explosão de uma bomba de hidrogênio, também conhecida como bomba H ou bomba termonuclear

A bomba de hidrogênio é considerada a mais devastadora das armas do planeta. Ela tem uma potência até mil vezes maior que a bomba atômica na liberação de energia. Não se sabe se o teste coreano foi verdadeiro. Se confirmado, esta terá sido a quarta detonação nuclear norte-coreana, com a diferença de que as antecessoras foram armas de plutônio, menos poderosas.

A agência de inteligência da Coreia do Sul acredita que o teste foi feito com uma bomba atômica menor, de fissão, pois se a bomba H tivesse sido realmente detonada, o impacto dos abalos sísmicos teria sido maior. A onda sísmica gerada pela explosão se propaga subterraneamente de modo que pode ser medida mesmo a grandes distâncias. 

O anúncio coreano fez a ONU mobilizar o Conselho de Segurança para tomar medidas de retaliação. O organismo considerou o teste uma “clara ameaça à paz e à segurança mundiais”. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou a declaração e pediu ao regime autoritário do norte-coreano Kim Jong Un que cesse todas as atividades nucleares. 

Analistas acreditam que o teste foi uma tentativa da Coreia do Norte de intimidar sua vizinha, a Coreia do Sul, e os Estados Unidos, considerados seus principais inimigos. Com a bomba H, o governo de Kim Jong-un a passa a ter uma vantagem para desestabilizar qualquer nação. 

No início do século 20, a Coreia vivia sob o domínio do Japão. Após a Segunda Guerra Mundial, o país foi dividido em dois. A União Soviética estabeleceu sua zona de influência ao norte, enquanto os Estados Unidos ficou no sul. Em 1950, a Coreia do Norte invade a vizinha e começa uma guerra que teve duração de três anos. Nunca foi formalizado um tratado de paz e até hoje as duas Coreias vivem em permanente estado de tensão. 

A proliferação nuclear é uma das maiores ameaças à humanidade. A primeira e última bomba atômica que foi usada em uma guerra foi em 1945, nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. O ataque matou 200 mil pessoas e resultou no fim da Segunda Guerra Mundial. 

Como funciona e qual é o potencial destrutivo da bomba H

Os átomos de alguns elementos químicos têm propriedades para, através de reações nucleares, transformar massa em energia. Existem várias tecnologias de construção de explosivos nucleares. 

Uma bomba precisa de um mecanismo que libere energia para a explosão. A bomba atômica detonada no Japão é baseada na quebra de átomos pesados, como plutônio e urânio. O processo é conhecido como fissão nuclear, quando o centro atômico é quebrado para liberar a energia. Quando um átomo de urânio se quebra, seus fragmentos provocam sucessivamente a quebra de outros núcleos. Ou seja, gera uma reação em cadeia. 

A quebra de menos de 1 quilo de matéria foi o suficiente para arrasar a cidade japonesa de Hiroshima no final da Segunda Guerra Mundial. Na bomba conhecida como “Little Boy”, a matéria se desintegrou e liberou energia equivalente a 15 mil toneladas de dinamite. 

A bomba H é diferente porque opera pelo sistema de fusão nuclear, uma tecnologia mais complexa. Ela gera energia para a explosão fundindo átomos. Dois isótopos de hidrogênio, o deutério e o trítio, se unem para formar um átomo de hélio, elemento químico mais pesado. Isso provoca um potencial destrutivo maior que o da bomba de fissão.

Guerra Fria e as bombas nucleares

Após a Segunda Guerra (1939-1945), duas potências emergiram: os Estados Unidos e a União Soviética. Os dois países entraram em disputa mundial pela hegemonia militar, política e econômica do mundo. Começava o período denominado Guerra Fria, um conflito sem confronto direto, marcado por uma corrida armamentista e espacial. 

As duas nações conquistaram a tecnologia da bomba atômica e por causa dessas poderosas armas evitavam se destruir, ao mesmo tempo em que aumentaram suas áreas de influência. O maior medo era a iminência de uma guerra nuclear que destruiria o planeta. 

A Coreia do Norte é fruto do final da Guerra Fria. Com a Coreia dividida entre o socialismo e o capitalismo, dois Estados bem diferentes surgiram - a República da Coreia, apoiada pelos Estados Unidos, no sul, e a República Democrática da Coreia, ao norte, com um líder, Kim Il-sung, que havia sido treinado pelo Exército Vermelho.

Desde o fim da Guerra Fria, a proliferação nuclear tornou-se a maior ameaça já conhecida à vida na Terra. Pelo menos nove países possuem armas nucleares no mundo hoje: Estados Unidos, Rússia, China, Grã-Bretanha, França, Índia, Paquistão, Israel e a Coreia do Norte. 

Países como Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, França e China criaram em 1968 o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Mais de 100 países integram o acordo que busca controlar a produção nuclear no mundo, sob controle da Agência Internacional de Energia Atômica. 

No entanto, países como Coreia do Norte não assinaram o tratado e, por isso, são alvo de sanções econômicas e políticas dos signatários. Recentemente o Irã aceitou as exigências da AIEA e teve sanções retiradas.

Apesar do medo de um desastre ambiental ou de uma guerra atômica, os estoques de urânio e plutônio altamente enriquecidos só têm aumentado. Trata-se de matéria-prima de qualquer bomba nuclear. 

Os norte-coreanos podem estar conquistando alguns avanços científicos que leve a uma maior potência explosiva ou, mais provavelmente, a bombas mais eficientes, e que o mundo não teria controle de como seriam usadas.

Nesse sentido, o clima de tensão relembra o da Guerra Fria, onde mesmo sem um combate direto, a tensão gerada pelo anúncio de armas por países empenhados em demonstrar sua força assustou o mundo. 

BIBLIOGRAFIA

  • Armamentos Nucleares e Guerra Fria, Claude Delmas (Perspectiva)
 

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