Geopolítica -
Dica 1
Começamos as dicas de Geopolítica para a primeira fase da FUVEST com uma visão de conjunto, pelo caráter da prova - que é uma visão mais geral. Eu creio que é importante chamarmos a atenção para os aspectos da chamada nova ordem mundial. Esta foi anunciada em 1989, logo após a queda do muro de Berlim e foi marcada por uma grande euforia naquele momento - e por um grande otimismo.
A queda do muro está próxima de completar dez anos, e o balanço que se faz é o de que na verdade, ao invés de termos uma ordem mundial marcada pela paz, o que nós temos hoje é uma nova desordem mundial - haja vista os diversos problemas, sejam étnicos ou nacionalistas, que surgiram tanto na Europa e na América quanto na África.
Essa nova ordem mundial é fortemente marcada pela entrada em cena do neoliberalismo, que veio afetar as economias européias e dos países desenvolvidos, atacando principalmente o Estado do bem estar social. E aí nós tivemos essa "economia-cassino" da desregulamentação financeira que levou a diversas crises, entre as quais a crise asiática, a da Rússia e a da América Latina.
Portanto hoje, essa globalização econômico-financeira, como marca distintiva da nova ordem mundial, marcada pela especulação, se vê na verdade marcada por uma nova desordem mundial. Eu creio que o vestibular deve abordar, por uma prova mais de conjunto, por uma visão de caráter mais abrangente, os principais aspectos da nova ordem. Em resumo esses aspectos seriam: o fim da guerra fria, o neoliberalismo que o marca, a formação de blocos econômicos e, ao mesmo tempo, ao invés de paz, nós temos um aumento dos conflitos e das contradições no cenário internacional.
Dica 2
A segunda dica é sobre comércio internacional. Desde 1995 a Organização Mundial do Comércio substitui o Acordo Geral de Tarifas, o GATT, que foi estabelecido em 1948. A OMC trata hoje tanto do comércio como da circulação de bens e serviços. O comércio internacional, regulado pela OMC, é marcado por um novo avanço dos Estados Unidos, de alguns países da Europa e do Japão.
Temos aí uma reemergência da posição dos Estados Unidos para tentar liderar e buscar mercados em todo o planeta. Mais especificamente na América Latina, nós temos a participação e a tentativa dos Estados Unidos de estender o seu acordo, o Nafta (acordo comercial entre México, Estados Unidos e Canadá), para toda a América através da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).
A OMC foi marcada pela retomada da pax (paz) americana e pela tentativa de se impor um tipo de doutrina Clinton, em que os mercados para seus produtos e as empresas norte-americanas seriam extremamente vitais para o crescimento e a retomada norte-americana no cenário internacional.
Ainda sobre o comércio internacional, vale destacar a lei que os Estados Unidos criaram em 1996 a lei Elmes-Burton, que aumenta o embargo econômico a Cuba, iniciado em 1962. Seus autores queriam privilegiar apenas os produtos norte-americanos e fechar a ilha, ou então operar uma transição em Cuba, na qual os norte-americanos pudessem tirar toda a vantagem.
Em resumo, o comércio internacional, regulado pela OMC, tendo na sua liderança os Estados Unidos, é um jogo que favorece os países ricos, os países mais fortes, em detrimento dos países mais pobres.
Dica 3
Vamos abordar a questão nuclear no planeta, que voltou a ser assunto nos principais jornais após a detonação das bombas atômicas por parte da Índia e do Paquistão. Vale lembrar que a questão nuclear iniciou-se em 1945, quando o Estados Unidos detonaram sobre o Japão duas bombas atômicas. O bombardeio de Hiroshima e Nagasaki deu início à chamada corrida armamentista, através do desenvolvimento de armas de destruição maciça, os armamentos nucleares.
Nós sabemos que durante toda a era da guerra fria, que se estende de 1945 até 1989, o mundo viveu sob o terror dos armamentos atômicos. Um dos traços da chamada nova ordem mundial, iniciada com a queda do muro de Berlim, seria o afastamento do perigo nuclear. De fato, a pax atômica encerrou-se, porém a retomada de testes nucleares por parte da China, assim como da própria França - já em 1995 - e mais recentemente por parte da Índia e do Paquistão, trazem de novo o medo do perigo nuclear para todo o mundo.
Quanto ao Brasil, é importante destacarmos que neste ano de 1998 o Congresso ratificou o TNP, o Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares, em vigor desde 1970. Ao assinar, o país mais uma vez confirmou o afastamento desse perigo para a América Latina.
Vale ressaltarmos que embora os países estejam numa época supostamente livre da guerra fria, os armamentos atômicos ainda são uma forma de pressão. A Índia busca, através da explosão de bombas, não só se fortalecer contra seu arquirival, o Paquistão, mas ao mesmo tempo tentar conseguir um lugar numa nova ordem internacional. Esperamos que essa questão nuclear não seja a maneira definitiva para a Índia conseguir o seu lugar entre o concerto da nações.
Dica 4
Esta dica é sobre o papel da ONU e os problemas mundiais. Nós sabemos que terminada a Guerra Fria, foi depositada sobre a ONU uma grande esperança de que ela viesse a mediar os conflitos mundiais e que, portanto, cumpriria o seu papel, que é o de estabelecer a paz mundial.
Na década de 90, mais precisamente desde 1992, a ONU passou a realizar as chamadas megaconferências para tratar de problemas que não dizem respeito apenas a um ou outro país, mas são problemas globais - os chamados temas globais. Para isso ela realizou seis megaconferências: em 1992 para tratar de meio-ambiente; 1993 para tratar de direitos humanos; 1994 para tratar de populações; 1995 sobre a pobreza; 1996 sobre o habitat e assentamentos humanos.
Dentre esses vários problemas que estão colocados para a ONU, eu chamaria o destaque para este ano, quando se completam 50 anos da carta dos direitos humanos. O desrespeito aos direitos humanos é um problema dos mais graves. Em específico, eu chamaria a atenção para uma questão que a FUVEST ainda não abordou, que é o tema dos refugiados. Um tema extremamente contemporâneo, já que cerca de 50 milhões de pessoas estão vivendo fora de seus países. Dentro deles, ficavam numa situação extremamente delicada, inclusive com risco de vida. Os países do norte vêm negando, cada vez mais, a entrada de refugiados em seus territórios.
E a ONU vê o seu papel diminuído pela falta de verba dos países que contribuem com ela, ainda que existam grandes problemas a serem tratados. Em resumo: a questão dos refugiados, hoje, é um problema central na ordem internacional.
Dica 5
A quinta dica diz respeito aos Estados Unidos. Nós sabemos que em 1898 os Estados Unidos se lançaram como potência mundial; passaram por este século consolidados - principalmente a partir da Segunda Guerra - como potência mundial e como superpotência hegemônica no planeta hoje, podemos dizer assim.
Os Estados Unidos revêem o resto do tabuleiro mundial e se perguntam: quais são os desafios? A Rússia está extremamente debilitada - não só pelas crises financeiras, mas também pela atuação das máfias internas. A Europa instável, com a proximidade da Rússia; a Ásia se vê às voltas com a suposta ascensão da China e agora com os armamentos atômicos da Índia e do Paquistão; a África extremamente desestabilizada, pelos vários conflitos étnicos.
Vale chamarmos a atenção ainda para o fato de que os EUA criaram, como já chamamos a atenção, uma relação com o mundo, neste final de século, que parece ser o de reestabelecer uma Pax americana, ou seja, sua hegemonia no planeta como um todo e daí tirar os proveitos não só na área comercial, mas na área diplomática e na área militar. Em suma, o papel dos EUA hoje no mundo, diferentemente de 1990, não é de declínio, mas parece apontar para uma retomada da hegemonia americana em todas as áreas do planeta, mais especificamente na Ásia, no Oriente Médio e recentemente na América Latina. É isso aí.
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