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Madame Pommery - Hilário Tácito

Carlos Cortez Minchillo*, Especial para o Fovest

O Brasil nunca pareceu um país muito sério. Na melhor hipótese, é visto como a terra da preguiça, da festa, da praia e do futebol. Na versão mais trágica, é o paraíso da impunidade, da corrupção, da violência e da miséria. E, se o país não é sério, o que nos resta senão rir dos absurdos nacionais?

O humor, a sátira, a ironia sempre ajudaram a avaliar os defeitos do Brasil e dos brasileiros. Prova disso é a incrível capacidade de o povo transformar os acontecimentos nacionais em piadas. A mesma comicidade se manifesta em certa tradição de nossa literatura, que critica de modo zombeteiro as incongruências do país.

É o caso de Madame Pommery, que, antecipando a iconoclastia dos modernistas de 1922, cria a metáfora do Brasil como um bordel de segunda categoria. Pommery é uma prostituta que desde cedo se revela sagaz e ladina. Nascida na Europa, chega ao Brasil no início do século 20. Logo percebe que nestas terras tropicais o dinheiro tudo compra: mesmo uma mulher "mundana" pode se tornar uma dama da sociedade, desde que traga na bolsa a quantia adequada.

Percebe também que a aparente modernização de São Paulo apenas disfarçava o provincianismo e a falta de gosto. Os ares europeus da burguesia urbana não passavam de uma fantasia, postiça e pobre.

Pommery dedica-se, então, a uma missão "civilizatória". Por meio de empréstimos e trapaças, a anti-heroína inaugura o bordel Paraíso Reencontrado, na pretensão de oferecer aos paulistanos o requinte indispensável no "mundo moderno". Afinal, alguém teria de ensinar aqueles novos ricos a beber champanhe.

É claro que Pommery pensava em seus interesses também. A bebida cara, a aparência de luxo e as tentações da carne levariam os frequentadores do bordel a gastar o que tinham e o que não tinham. O enriquecimento certamente viria e, com ele, a necessária aceitação social. Um prostíbulo como instituição modernizadora e como forma de ascensão social, está aí em resumo a farsa criada e comentada pelo narrador Hilário Tácito.

Boa parte do humor da narrativa é resultado justamente das intervenções e digressões do narrador. Cínico, ele vê virtudes nos aspectos condenáveis da personagem, aceitando como manifestação de boa intenção o que não passa de interesse, vingança ou ambição. Seus comentários vão tecendo a crônica de São Paulo do início do século e sublinham continuamente o risível descompasso entre uma elite que se crê "plugada" no mundo, mas que está imersa na mediocridade. Gente que pensa estar em um salão de Paris, mas vive mesmo é na espelunca falsamente luxuosa de Madame Pommery.

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