Conversa de bois (Sagarana) - Guimarães Rosa
O narrador da novela ouviu a tragédia, que vai contar ao leitor, de Manuel Timborna, que a ouviu da irara Risoleta, testemunha do acontecido.
Pelo sertão anda um carro de bois: na frente, Tiãozinho, o menino guia: logo atrás as quatro juntas, com oito bois, que conversam enquanto puxam a carroça: Buscapé e Namorado, Capitão e Brabagato, Dançador e Brilhante, Realejo e Canindé; em cima do carro vai Agenor Soronho. Carregam uma carga de rapadura e, sobre ela, mal acomodado e sacolejando, o caixão com um defunto, o pai de Tiãozinho, ex-guia dos bois do Agenor Soronho.
Tiãozinho vai chorando: sofre com a morte do pai e com a de Didico, sofre também com o calor, o cansaço e os maus-tratos que recebe do carreiro Agenor, que o faz sofrer, que aguilhoa brutalmente os bois. Por doença e morte de seu pai, Tiãozinho ficara totalmente dependente de Agenor Soronho, que sustenta a família do menino, interessado em se tornar amante da viúva, com quem mantivera já misteriosas relações, durante a doença do pai de Tiãozinho.
O boi Brilhante vai contando aos demais a estória do boi Rodapião, que morreu por assimilar os processos mentais dos homens. Os bois vão conversando entre si sobre a opressão dos bois pelos homens e a possibilidade de vencerem sua superioridade. Sentem-se solidários com o menino.
Ao entardecer, na ladeira do Morro-do-Sabão, Agenor encontra, espatifado, o carro da Estiva, carreado por João Bala. Havia caído ao tentar subir a ladeira. Agenor consola o carreiro e, em seguida, para provar a Tiãozinho que era um carreiro de verdade, escala a subida em que João Bala fracassara. Sai vitorioso e coloca-se na dianteira do carro, junto aos bois, e cochila. Os bois percebem que o "homem-do-pau-comprido-com-marimbondo-na-ponta" está dormindo. Jogam-se bruscamente para a frente, atropelando-se para derrubar Agenor Soronho, que cai. A roda do carro passa sobre o seu pescoço, sem que se possa saber se morreu dormindo ou se acordou para saber que morria.
Retomando, sob outro prisma, o conto inicial "O Burrinho Pedrês", este "Conversa de Bois" é uma alegoria sobre a justiça dos animais e a crueldade dos homens.
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