UOL Vestibular Notícias
 

23/02/2010 - 07h00

Em trote solidário, calouros da USP fazem "apagação" de livros rabiscados

Ana Okada
Em São Paulo
Atualizada às 9h43

Os calouros do curso de psicologia da USP (Universidade de São Paulo) passaram por um trote diferente das tradicionais pinturas de guache nesta segunda-feira (22). Com borrachas em punho, eles tiveram que apagar as rasuras feitas por outros alunos em livros da biblioteca da faculdade. A atividade, chamada de "Apaga-ação", ocorreu pelo terceiro ano consecutivo e faz parte da semana de calouros da unidade.

TROTE SOLIDÁRIO NA PSICOLOGIA DA USP

  • Leandro Moraes/UOL

    Durante a "apagação", a caloura Aline Carrenho, 21 diz: "A gente não vai riscar nenhum livro"

  • Leandro Moraes/UOL

    Calouros da Faculdade de Psicologia ficaram apagando rasuras dos livros por uma hora e meia

A ideia é colaborar com a conservação do acervo e conscientizar os "bixos" (nomenclatura utilizada em São Paulo para designar os calouros, grafada com "x") a não rabiscarem os livros. A biblioteca fornece borracha macia e, durante uma hora, os calouros apagam anotações, rabiscos, sublinhados e marcas feitas a lápis nos livros. A cada dia da semana, os novatos têm que ir com uma camiseta de cor diferente; nesta segunda, estavam todos de vermelho.


Segundo a diretora da biblioteca da Faculdade de Psicologia, Maria Imaculada Cardoso Sampaio, a ação já contribuiu para a diminuição do número de obras rasuradas. "É importante alertá-los de que o livro é patrimônio público e não deve ser estragado. Além disso, textos com anotações podem dirigir a leitura de quem irá lê-los, e isso não é aconselhável", diz.

Célia Regina de Oliveira Rosa, coordenadora da atividade e chefe da seção de acesso à informação da biblioteca, nota que a apagação surte mais efeito sobre os alunos do que exposições com os exemplares danificados. "Mesmo os livros que sempre eram os mais rasurados, depois do trote, já não vêm tão rabiscados", afirma. Os livros de Freud, Jung e Winnicott, leituras básicas dos estudantes da graduação, estão entre os que têm mais anotações feitas pelos graduandos.

E os veteranos, não sentem falta do trote antigo, com pedágios e festas? De acordo com uma das organizadoras da semana dos bixos, Gabriela Aquino Kleiner, 19, a semana também terá esse tipo de atividade, além de ações solidárias, como doação de roupas e brinquedos. "Dá tempo para fazer tudo. Na matrícula os calouros também foram pintados, mas foi tudo muito calmo. Pode ver que tem muita gente aí que ainda está cabeluda, porque não quis cortar o cabelo, e a gente respeitou", explica.

Calouros aprovaram

Apesar do cansaço após um dia inteiro de atividades --os calouros chegaram às 8h e a apagação foi das 16h às 17h30-- os estudantes aprovaram a iniciativa. "É interessante, porque é um jeito de fazer sentir na pele o que a gente faria", diz Gianlucca Vergian Dalenogare, 19.

"Eles grifam tudo e depois nem vão ler; por que não pegam um papel à parte e anotam?" questiona a caloura Priscilla Terumi Moraes, 20. "É uma falta de respeito", completa. "A gente não vai riscar nenhum livro, porque o choque é grande", desabafa Aline Carrenho, 21. "Até por estarem na faculdade, essas pessoas deveriam saber que não pode [rabiscar]. É uma falta de consciência muito grande", diz.

Michelle Gallindo, 17, até aproveitaria uma boa rasura: "Se for uma anotação boa, eu até aproveito, mas um livro limpo é mais bonito, né?", opina.

Leia mais
Confira imagens do trote na matrícula da USP
Lei seca é novidade no trote da Poli-USP
Pais também fazem parte do trote na Poli-USP
Calouro é obrigado a beber etanol durante trote; assista
Associação de universidades cobra punição rigorosa para acabar com trotes violentos
Conte como foi seu trote no Fórum de UOL Vestibular
Especialista recomenda fim de qualquer tipo de "trote"; ouça
Veteranos evitam trote violento e se dedicam a atividades filantrópicas
Trotes tradicionais vão de penteado de "moicano" a passeio de jegue

Compartilhe:

    Revisão de disciplinas

    Temas importantes

    Hospedagem: UOL Host