Recusado pelo Prouni, aluno estuda sozinho e passa em medicina na USP
“O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode lhe dar forma. Tudo depende só de mim.”
O texto, atribuído ao ator e diretor inglês Charles Chaplin (1889-1977), é o lema de um estudante de 21 anos que teve uma bolsa de estudos do Prouni (Programa Universidade para Todos) negada pelo governo e resolveu estudar sozinho em casa para tentar vaga em uma faculdade pública.
O ex-aluno da rede pública Matheus Alpaccino Vale de Castro está na lista dos 175 aprovados no vestibular da Fuvest e cursará medicina na USP (Universidade de São Paulo).
Castro vive no Parque Estuário, bairro de classe média-baixa do distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá, a 86 km de São Paulo. Mora com a mãe, deficiente auditiva, os tios e um primo de 7 anos. O primeiro semestre de 2014 foi de estudos intensos: diariamente, das 8h30 às 22 ou 23h, “com intervalos para lanche, almoço e, às vezes, para sair”.
Passou em faculdade particular
Em meados do ano passado, ele passou na seleção do curso de Medicina da Faculdade Santa Marcelina, particular. Sem dinheiro, recorreu ao Prouni (Programa Universidade para Todos). Porém, teve o pedido de bolsa recusado porque o tio tinha economias e um carro.
O jovem apelou à Justiça e ganhou o direito ao benefício, mas mudou de ideia: como já havia perdido dois meses de aulas, trancou a matrícula e decidiu se preparar para ingressar em uma universidade pública.
Castro retomou o ritmo de estudos e prestou quatro vestibulares para ingresso em 2015. Foi aprovado na Furg (Universidade Federal do Rio Grande), ficou na lista de espera na UFPR (Universidade Federal do Paraná) e passou na Fuvest em 141º lugar.
Ele foi classificado também na Unesp (Universidade Estadual Paulista), mas, diante da escolha pela USP, não declarou interesse na vaga. Por economia e tempo, vai morar com parentes em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.
Aluno de escola pública
Matheus de Castro deseja ser médico desde a adolescência. “Admiro bastante a profissão, por ajudar o próximo. Sempre tive curiosidade pelo corpo humano, em mexer com a vida. Para escolher uma especialidade, prefiro entrar primeiro [na faculdade] e ver todas, mas gosto de cardiologia, endocrinologia...”.
Essa vontade se fortaleceu há três anos, no final do ensino médio, quando participou de um workshop do curso de medicina da USP. Era, no entanto, uma realidade distante da dele que sempre havia estudado em colégio público.
“Na escola, ninguém sabia o que era USP ou Unesp. Alguns colegas meus nem conhecem a possibilidade de fazer uma faculdade pública. Só no terceiro [e último] ano é que alguns professores começaram a falar. A gente não procura [antes] porque não tem um modelo, não tem informação.”
Ao fazer um cursinho pré-vestibular, Castro percebeu outra diferença para escolas privadas. “Ali, uns entravam para revisar matérias, e eu, para aprender. Falta organização da escola [pública].”
Isso fez com que ele optasse por se dedicar integralmente aos estudos, sozinho e em casa. Deu mais atenção às disciplinas nas quais ele encontrava mais dificuldade e procurou uma professora, em Santos (a 72 km de São Paulo), para orientá-lo em redação.
Na USP, ele também pretende fazer cursos extracurriculares, como o de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais). Conversa com a mãe, deficiente auditiva, mas quer aperfeiçoar o que aprendeu na prática para o dia em que for médico. “Minha mãe tem muitos amigos assim. Como os médicos conseguem diagnosticá-los? Como eles dizem o que têm? Com certeza, vou fazer [Libras].”
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