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Ex-aluno de escola pública conta como passou em 4 faculdades de medicina

Wester Silva Vieira, 19, foi aluno de escola pública, estudou sozinho e passou em quatro faculdades públicas de medicina - Mário Bittencourt/UOL
Wester Silva Vieira, 19, foi aluno de escola pública, estudou sozinho e passou em quatro faculdades públicas de medicina Imagem: Mário Bittencourt/UOL

Mário Bittencourt

Do UOL, em Salvador

12/02/2015 06h00

Sem fazer cursinho pré-vestibular e tendo estudado a vida toda em escolas públicas, um jovem de 19 anos de Condeúba (BA) foi aprovado em quatro cursos de medicina para 2015, um de universidade federal e três de instituições estaduais.

A proeza é do estudante Wester Silva Vieira, que ainda teve de conciliar os estudos com o trabalho na Secretaria de Finanças da prefeitura de Vitória da Conquista (vizinha a Condeúba), onde é funcionário concursado desde julho de 2014.

“Estudei sozinho. Não fiz cursinhos, pois achei que o que precisava estava além daquilo, e também porque o preço estava salgado para o bolso da minha família”, contou o estudante, que teve 880 pontos na prova de redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e 735 nas provas objetivas.

O resultado no exame o aprovou para os cursos de medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Uefs (Universidade Estadual de Feira de Santana), Uneb (Universidade Estadual da Bahia) e Uesb (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), que possui campus em Vitória da Conquista.

As aulas têm início no segundo semestre de 2015. “Espero que o curso me dê uma noção do que acontece realmente nos hospitais e me dê bagagem suficiente para poder aprender mais a cada dia”, declarou.

Tática

Wester disse que já vinha realizando o Enem desde 2009, quando se mudou para Vitória da Conquista em busca de melhor educação, e foi aprovado na seleção do Ifba (Instituto Federal da Bahia).

Ao longo dos anos – conta –, ele foi recebendo ajuda de uma professora que dava dicas de formas de “fazer justamente o que os corretores pediram” na prova de redação.

“Queria ter tirado uma nota maior, mas acho que o nervosismo e a falta de ideias diante de uma prova de 90 questões me tirou o foco”, comentou.

“Percebi que quanto mais tempo se passa, mais difícil fica o exame, inclusive os métodos de correção de redação ficam mais rígidos”.

Nos anos anteriores, ele disse que fez apenas aulas de reforço de exatas, redação, gramática e biologia, e que em 2014 aproveitava o tempo vago no emprego para dar um reforço.

“Conciliar o trabalho com os estudos foi um pouco difícil no começo. O pessoal do setor não se importava que eu estudasse nos momentos vagos, então aproveitava isso”, contou.

Descanso

Os esforços ao longo dos anos permitiram que em 2014 Wester tivesse uma rotina de estudos menos estressante, de modo que ele só se esforçou mais em gramática.

“Acredito que uma mente descansada é melhor para aprender. É melhor você dividir o seu tempo com você mesmo, do que tentar repor tudo depois que passar”, ele disse, informando depois que “não abria mão de assistir os seriados que acompanho na semana”.

“Principalmente perto das provas, eu assistia para poder relaxar e evitar a ansiedade”, declarou o estudante, que sempre buscou fazer medicina, apesar de sua formação técnica em eletrônica.  

“Primeiro não acreditava na minha capacidade em conseguir passar em medicina, sempre achei que quem passasse eram apenas os ‘crânios’, e por conta de primos, eu tinha optado por engenharia. Mas ao fazer o curso técnico, percebi que não iria me adaptar às exatas, então descobri a medicina e me apaixonei”, disse.

Incentivo

Ao analisar a própria trajetória educacional de aluno de escola pública, tendo passado, em Condeúba, pelas escolas municipais Eleutério Tavares e Alcides Cordeiro, chegando depois ao Ifba, em Vitória da Conquista, Wester diz que sempre teve o apoio de bons professores.

“O ensino fundamental em Condeúba foi ótimo. Na verdade, considero a educação infantil ao fundamental da cidade muito bom. Os professores do Ifba me incentivaram desde o primeiro dia de aula para estudar e fazer aquilo que gosta”, relatou.

Residente numa casa que funciona como ‘república’, onde moram outras 22 estudantes, todos de Condeúba, Wester é crítico da saúde brasileira e vê como problema maior na formação de novos profissionais a falta de hospitais para fazer residência médica.

“Precisamos também de médicos mais humanos, para que assim esses tenham a consciência de que precisamos deles tanto nas capitais, como em regiões mais isoladas”, opinou.